Livros

O centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e os cem anos do lançamento de um dos mais importantes romances do século 20 – Ulysses, de James Joyce – coexistem com um momento de constante reflexão e análise sobre os fazeres das artes contemporâneas. Neste ano, que parece colocar em diálogo ainda mais intensamente passado e futuro, clássicos e experimentações, estes temas transparecem nos novos livros publicados por editoras em todo o Brasil. A arte!brasileiros conferiu alguns dos mais recentes lançamentos e selecionou sete livros para ler neste início de 2022.

Modernidade em preto e branco, por Rafael Cardoso

Se geralmente o modernismo é entendido como um movimento de elite, associado a um seleto grupo paulistano, Rafael Cardoso busca uma releitura radical, trazendo à luz elementos absolutamente centrais para o desenrolar modernista – e que não se encontram somente em terras paulistas. “O sentido maior do modernismo no Brasil só pode ser compreendido ao considerar outras correntes de modernização cultural em paralelo àquela geralmente reconhecida. O termo costuma ser aplicado no contexto brasileiro de modo estreito e bastante peculiar, revelando os pressupostos que o embasam. Os nomes do nosso cânone derivam quase exclusivamente das esferas elitistas de literatura, arquitetura, arte e música eruditas, enquanto os modernismos alternativos que brotaram da cultura popular e de massa são esquecidos ou ignorados”, escreve o autor na introdução do livro, publicado pela Companhia das Letras. Ele complementa: “Vale questionar como agentes modernizadores tão díspares quanto Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Oswald de Andrade ou Plínio Salgado se propuseram a repensar, ou mesmo refundar, a cultura brasileira em sua totalidade, sem nunca se darem conta da presunção inerente à ideia de pensar o Brasil a partir de São Paulo”. (Saiba mais)

Modernismos 1922-2022, organizado por Gênese Andrade

Da apropriação da temática indígena em algumas das principais obras modernistas ao diálogo com o pensamento feminista que ecoa nas autoras herdeiras da Antropofagia, caminhando entre as relações dos modernistas com a política e a representação e representatividade do negro na produção artística do período, o livro lançado pela Companhia das Letras mostra que revisitar 1922 envolve avanços e recuos, novas perguntas e respostas em aberto numa reflexão centenária. A publicação reúne 29 ensaios inéditos – de pesquisadores como José Miguel Wisnik, Lilia Moritz Schwarcz, Walnice Nogueira Galvão e Regina Teixeira de Barros -, que giram em torno de antecedentes e desdobramentos da Semana de Arte Moderna. Segundo escreve a organizadora Gênese Andrade na apresentação do livro, o objetivo dos ensaios é “festejar sem deixar de questionar, preencher lacunas, provocar novas reflexões, ser um elo entre a Semana de 22 e seus desdobramentos, revisitar suas memórias e sua fortuna crítica, provocar revisões e fazer valer o sentido dos manifestos”. (Saiba mais)

Onde Vive a Arte na América Latina, organizado por João Paulo Siqueira Lopes e Fernando Ticoulat

Ao folhear as páginas desta publicação, passeamos por museus, fundações, residências artísticas, espaços independentes e parques de esculturas de diversos países da América Latina. Publicada pela Act, a edição trilíngue apresenta 35 locais emblemáticos do circuito artístico da região, reunindo imagens inéditas, textos críticos e entrevistas com curadores e dirigentes das instituições, aprofundando conexões, similaridades e diferenças no meio artístico latino-americano. “Entre o artista, suas obras e o público para o qual se dirige, existem diversos arranjos de espaços, dos mais transitórios e radicais aos institucionalizados. Esta publicação busca evidenciar que eles não são mais apenas sobre abrigar, cuidar e mostrar objetos de arte – padrão esse da arte moderna, do museu como a catedral secular. No contemporâneo, os locais que recebem e expõem arte tiveram que se adaptar às inovações dos artistas e suas propostas cada vez mais heterogêneas”, escreve o curador e organizador do livro Fernando Ticoulat no release.  

O que fazem os artistas, de Leonard Koren

Marcel Duchamp, John Cage, Donald Judd, On Kawara, Richard Serra, Christo e Jeanne-Claude são ponto de partida para análises sobre a criação artística contemporânea no novo livro de Leonard Koren, publicado pela Editora Cobogó. O escritor e arquiteto nova-iorquino traz reflexões sobre as obras e trajetórias desses importantes nomes para pensar as tantas maneiras de ser artista e os diferentes modos de materializar o conceito de “arte”. (Saiba mais)

Ulysses, de James Joyce

O grande romance do século 20 completa seu centenário em 2022 e ganha edição especial comemorativa pela Companhia das Letras. Inspirado na Odisseia de Homero, Ulysses é ambientado em Dublin, e, no lugar das aventuras de Odisseu no retorno à Ítaca, narra as histórias de Leopold Bloom ao longo do dia 16 de junho de 1904, no retorno à sua casa. A narrativa, censurada inicialmente nos Estados Unidos e no Reino Unido, é hoje considerada um marco da literatura moderna mundial. Com tradução revisada de Caetano W. Galindo, a nova publicação traz gravuras de Robert Motherwell – feitas para uma edição especial e limitada de 1988 – e amplo aparato crítico com textos inéditos de Dirce Waltrick do Amarante, Fábio Akcelrud Durão, Fritz Senn, John McCourt, Sandra Guardini Vasconcelos e Vitor Alevato do Amaral, além das resenhas escritas à época do lançamento por Louis Gillet e Joseph Collins. (Saiba mais)

Disjecta, de Samuel Beckett

Um dos escritores e dramaturgos mais influentes do século 20, Samuel Beckett tem diversos de seus escritos reunidos em nova publicação da editora Biblioteca Azul. Críticas literárias, resenhas sobre música e artes, ensaios sobre as obras de James Joyce, Marcel Proust, Dante, Mozart e Ezra Pound são colocados ao lado de comentários de trechos de sua própria obra e do fragmento Desejos humanos, um esboço em forma de peça teatral mantido inédito até a publicação original deste volume. (Saiba mais)

Ligeiro Deslocamento do Real, de Andrea Caruso Saturtino

Mergulhando em montagens teatrais contemporâneas, a pesquisadora, artista, curadora e produtora Andrea Caruso Saturtino tece uma análise das novas formas de fazer teatro em diálogo com a complexa conjuntura social. Buscando classificar as principais tendências detectadas, o livro – publicado pela Edições Sesc-SP – é dividido em três seções, todas analisando montagens cênicas contemporâneas. A primeira, Utopia, é baseada no entendimento da produção de conhecimento em artes como uma constante renovação de linguagem; a segunda, Compartilhamento de Experiência, aborda a proposição de ‘teatro do real’, que promove a interação com o público por meio de um fato social da contemporaneidade; a seção final do livro trata do uso de dispositivos e da ausência da figura do ator em cena, com deslocamento do eixo central dos espetáculos para o público. Para a autora, “interessa pensar o teatro hoje em termos de sua constituição, na construção da cena a partir dos processos de tradução do mundo que adota”. (Saiba mais)

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