O Museu de Arte de São Paulo. Foto: Marcelo Valente.
O Museu de Arte de São Paulo. Foto: Marcelo Valente.

O MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) recuou nesta sexta-feira, 20, na disposição de cancelar o núcleo “Retomadas”, das curadoras Sandra Benites e Clarissa Diniz, que fazia parte da mostra coletiva Histórias Brasileiras (a ser inaugurada no dia 1º de julho). A exposição foi cancelada pelas curadoras em maio após a instituição negar apoio para o empréstimo de obras que representavam o Movimento Sem Terra (MST). Em decorrência dessa atitude, que considerou censura, a curadora Sandra Benites, a primeira mulher indígena a integrar o grupo de curadores do Masp, pediu demissão do museu no último dia 17.

Em nota pública, o museu reconhece “erros”, lamenta o cancelamento e faz um apelo às curadoras para que retornem e retomem o projeto. “Nesse sentido, caso as curadoras concordem, propomos adiar a abertura da exposição e reorganizar o seu cronograma para que possamos incluir o núcleo Retomadas na mostra”, diz o texto, que não está assinado. Sandra e Clarissa, que está nesse momento na África, trabalhando, tendem a não aceitar a proposta. Elas passaram por um longo processo de desgaste nos últimos meses buscando garantir a integridade de sua curadoria.

O museu não reconhece o ato como de censura e também não fala explicitamente em reintegrar Sandra Benites, mas refere-se explicitamente às fotos do MST vetadas. “Por fim, iremos propor a incorporação ao acervo do Museu, das 6 fotografias de autoria de André Vilaron, Edgar Kanaykõ Xakriabá e João Zinclar, caso seja do interesse dos artistas, como registro da importância dessas imagens para a história do MASP e reconhecimento do trabalho desenvolvido pelas curadoras junto ao Movimento Sem Terra— MST”.

O reposicionamento do Masp frente ao episódio se dá após uma contundente tomada de posição do artista Cildo Meireles um dia após o pedido de demissão de Sandra. Cildo tirou três obras suas de uma exposição do mesmo núcleo Histórias Brasileiras. Eram elas: Mutações Geográficas: Fronteira Vertical (Yaripo), um projeto de 1969/2015; Buraco para jogar politícos desonestos, 2011; e a terceira uma bandeira produzida para a Campanha #usemareloparaademocracia, do jornal Folha de S. Paulo em 2020.

“Os movimentos sociais, as questões indígenas, a luta pela reforma agrária, entre outras manifestações, são temas importantes para mim enquanto artista e cidadão. Portanto, me sentiria constrangido em participar desse evento”, afirmou o artista. O recuo do museu também pode se dar pelo receio de que a atitude de Cildo causasse um efeito dominó, com diversos artistas da exposição coletiva retirando seus trabalhos em solidariedade às curadoras.

O Museu de Arte de São Paulo reconheceu que a mostra representa uma inflexão importante na representação artística de segmentos excluídos da sociedade, em sua nota. “O MASP está comprometido com a abertura de novos espaços de escuta, na certeza de que o que queremos é um Brasil mais plural, inclusivo e democrático – que só pode ser construído coletivamente, a partir do diálogo aberto, empático e colaborativo”.

LEIA A SEGUIR A NOTA DO MASP NA ÍNTEGRA:

NOTA SOBRE HISTÓRIAS BRASILEIRAS 20 de maio de 2022

O MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand vem a público com um novo posicionamento sobre o cancelamento do núcleo “Retomadas”, que fazia parte da mostra coletiva Histórias brasileiras, a ser inaugurada em 1o de julho próximo. A exposição faz parte da série de Histórias, que incluiu Histórias da sexualidade (2017), Histórias afro- atlânticas (2018), Histórias feministas (2019), entre outras.

O Museu tem refletido muito sobre o atual momento e, como um museu vivo, busca aprender com este episódio, inclusive observando falhas processuais e erros no diálogo com as curadoras Clarissa Diniz e Sandra Benites, responsáveis pelo núcleo “Retomadas”. A instituição lamenta publicamente o cancelamento do núcleo, tão importante para a exposição, e a saída das curadoras do projeto.

Pretendendo avançar para que episódios semelhantes não se repitam no futuro, estamos abertos a ouvir Benites e Diniz, com a finalidade de aprendermos com essa experiência e aprimorarmos processos e modelos de trabalho.

Nesse sentido, caso as curadoras concordem, propomos adiar a abertura da exposição e reorganizar o seu cronograma para que possamos incluir o núcleo “Retomadas” na mostra.

Outra medida que estamos propondo é a realização de um seminário público durante a exposição sobre o núcleo “Retomadas” com a participação das curadoras.

Por fim, iremos propor a incorporação ao acervo do Museu, das 6 fotografias de autoria de André Vilaron, Edgar Kanaykõ Xakriabá e João Zinclar, caso seja do interesse dos artistas, como registro da importância dessas imagens para a história do MASP e reconhecimento do trabalho desenvolvido pelas curadoras junto ao Movimento Sem Terra— MST.

O MASP está comprometido com a abertura de novos espaços de escuta, na certeza de que o que queremos é um Brasil mais plural, inclusivo e democrático – que só pode ser construído coletivamente, a partir do diálogo aberto, empático e colaborativo.

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