Claudio Tozzi em seu estúdio, ao lado da obra "Chuva"
Claudio Tozzi em seu estúdio, ao lado da obra "Chuva". Foto: Cortesia Blombô

A obra de Claudio Tozzi está sendo revisitada em exposição ao mesmo tempo presencial e virtual, em cartaz na galeria e no site da Blombô. Com curadoria de Rafael Vogt Maia Rosa, a mostra adota como principal fio condutor a relação do artista com a cor, mas também contempla de maneira bastante ampla outras questões importantes na trajetória de Tozzi, como os trabalhos de caráter mais militante dos anos 1960 e 1970 e a relação permanente que ele estabelece com o espaço (urbano ou íntimo) como elemento estruturador da composição.

Tem destaque na seleção aquela série em que o artista cria um jogo cromático extremamente sedutor, que ganha corpo ao longo dos anos 1980 e torna-se – diferentemente de outros artistas em ação no período – uma forma inovadora e um tanto otimista de manipular os tons, criando uma espécie de pontilhismo particular e desafiante (já que feito a partir de tinta acrílica, que tem um tempo de secagem muito mais rápido que o da tinta a óleo), fazendo com que emane da tela um certo brilho, uma certa iridescência, como sintetiza Maia Rosa no titulo adotado na exposição: O Percurso Iridescente: Claudio Tozzi

O curador também procura iluminar aspectos como o uso constante que o artista faz das imagens reprodutíveis, advindas da fotografia e do cinema, bem como o aspecto crítico presente em sua obra. Além disso procura estabelecer interessantes relações temporais entre os trabalhos, disponíveis apenas nas versões virtuais da mostra, já que a seleção que pode ser vista presencialmente (com hora marcada) inclui apenas seis criações.

É interessante ver por exemplo a sintonia evidente entre as obras Multidão, de 1968, e Maio 68/Maio 98, uma homenagem feita por Tozzi em rememoração aos movimentos estudantis que sacudiram o mundo no final dos anos 1960, na qual se vêem incorporadas uma série de soluções formais e estruturais depuradas pelo artista ao longo desse intervalo de três décadas. Sintonia que revela que por trás do contraste aparente entre os trabalhos de diferentes épocas desenvolvidos pelo artista, há preocupações e soluções espaciais que são uma constante em seu pensamento plástico, mesmo em suas composições mais abstratas. “Sempre penso em construir a imagem dentro de uma organização, de um campo, de uma estrutura”, explica Tozzi, sublinhando que o mesmo fenômeno se dá na produção mais recente, que vem desenvolvido nesses tempos de quarentena e que deverão dar corpo a uma nova exposição em breve.

Nessas produções, ao contrário daqueles destacados por Maia Rosa, a cor praticamente desaparece. Ao invés dos tons iridescentes, surgem os pigmentos metálicos, monocromáticos em uma trama fortemente geométrica. Com relação a essas transformações radicais no rumo de suas pesquisas plásticas, Tozzi afirma que é uma necessidade quase natural de mudança. “É como se o próprio trabalho pedisse”, brinca.

Ele não se espanta em ver um crescente interesse pela sua produção mais engajada, dos anos 1960. “Há uma semelhança na opressão, no pensamento fascista. São trabalhos que ficaram vivos”, destaca. Ele celebra ainda o surgimento de vozes coletivas, que se opõem ao pensamento totalitário, recorrendo a elementos de caráter muito mais simbólico, diferentemente de sua geração, mais vinculada a uma apropriação direta das imagens. Tozzi tampouco se preocupa com os efeitos negativos da quarentena sobre a produção de arte. E traça um paralelo entre o momento atual e aquele que sucedeu o decreto do Ato Institucional nº. 5. Foi, segundo ele, um momento de interrupção muito grande, de suspensão dos encontros entre artistas, do diálogo intenso que havia com a crítica, um momento de fechamento do artista no atelier, que acabou rendendo trabalhos mais reflexivos – mas não menos contundentes – para artistas como ele, Rubens Gerchman e Antonio Dias. No caso de Claudio Tozzi, desenvolve-se a partir daí seu trabalho com a imagem do parafuso, uma metáfora da repressão e também da resistência.

 


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