Moisés Patrício, Sem título, série: "Álbum de família", 2020. Foto: João Liberato/Cortesia Galeria Estação

Terminamos o ano com uma única certeza. Mesmo quem teve sorte e não adoeceu – física ou psiquicamente – ou perdeu o emprego, está esgotado.

Os esforços para sustentar um ano de isolamento levaram as instituições culturais a criar alternativas através do desenvolvimento de projetos virtuais, gerenciando marchas e contramarchas. Alguns desses projetos conseguiram abrir para o público presencialmente e ainda subsistirão até março/abril de 2021.

Já o Estado, na cultura, cortou investimentos, demitiu, diminuiu residências, prêmios e editais.

Estamos pessimistas. O obscurantismo que se instalou no governo brasileiro, que começou com a negação da história colonial, defendendo a inexistência de racismo no Brasil, a imunidade das milícias, a politização da justiça e a devastação do meio ambiente, luta agora abertamente contra a ciência, proclamando-se contra a necessidade de investimentos e logística em prol da vacinação.

Chacotas do presidente contra o destino de quase 200 mil mortes não foram suficientes para criar vergonha em parte da população que ainda acha que esta gestão não é responsável pelos resultados do descaso. Que insensibilidade é essa?

Partindo da arte, estamos empenhados em mostrar o quanto é possível se rebelar contra o negacionismo e a necessidade de apagar a história. A arte contemporânea se insere neste ethos. A estética e a ética não permitem se alienar desta realidade.

O final do ano foi coroado com várias manifestações específicas resultantes do incentivo a esta violência. A maioria da população brasileira que morreu vítima da violência, de Covid-19 ou da fome foi a população negra.

Nesta edição fizemos questão de ouvir colaboradores especialistas, pesquisadores, acadêmicos, curadores e artistas negros capazes de denunciar e pronunciar-se contra todo este ataque desvairado, marcando o enraizamento secular desta violência.

Se há algo que podemos fazer é incentivar a memória. Desvelar o mito da miscigenação cordial e colaborar mostrando o quanto a arte afro-brasileira e indígena somos nós.

Queremos no encerramento do ano agradecer especialmente a aquelas e aqueles que apoiam este projeto, cujo objetivo continua sendo difundir e respeitar a diversidade.

Desejamos a todos um bom descanso, com saúde, e um ano de 2021 mais esperançoso.

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