Novo MASP

Dumont-Adams
Em cima: Edifício Dumont-Adams antes da modernização. Embaixo: Edifício Pietro Maria Bardi atualmente.
Por Pedro Mendes da Rocha 

Pensando sobre o Anexo do MASP

Soube de algumas críticas ao projeto e quero dizer que gostei muito dele. Em primeiro lugar, porque assume seu caráter de coadjuvante do edifício original, referência internacional que dispensa comentários, sem, contudo, exprimir nenhuma intenção de desenho, identidade e personalidade. Pelo contrário, nesse sentido é muito corajoso, acerta o caminho sobre um fio de navalha entre o adequado e o equivocado.

Em segundo, porque alguns levantaram a bandeira de que o anexo deveria ter sido construído por dentro da fachada do Dumont-Adams. Ora, aceitar essa atitude é defender a ideia de que este programa não é bem-vindo a se apresentar, com sua cara exposta, no Olimpo da Avenida Paulista, espigão da cidade, e então precisa de uma máscara!

Como se não fosse digno de se perfilar entre uma variedade de joias e equívocos. Como se disséssemos que a arquitetura adequada de estar na Avenida Paulista fosse um prédio maneirista residencial. Ou como se colocássemos uma burca/um xador sobre a expressão de um programa quase inédito na Avenida, irmanado com seu correlato, o Instituto Moreira Salles. Lembrando um teatro infantil em que as mãos estão cobertas pela luva da chapeuzinho vermelho. Talvez, saudosos dos palacetes, agora se agarrem ao neoclássico.

Esses edifícios que enfrentam o tema do museu/centro cultural vertical se instalam na Paulista expressando sua personalidade em que afirmam, de forma contundente, que não são um prédio residencial, um hotel, a sede de um banco ou um edifício de escritórios.

Uma vez, na FAUUSP, ouvi uma linda aula do professor Artigas. Ele indagava se a fachada era uma simples extroversão da planta ou um desenho que se impunha à expressão dela. Essa indagação punha em discussão um tema candente da arquitetura sem estabelecer uma hierarquia ou apontar o correto caminho entre as duas alternativas a seguir, ou seja, vai da liberdade (e competência) do arquiteto enfrentar o tema e avaliar se houve sucesso em seu intento.

Vejo esse edifício como a expressão de um fluído aprisionado dentro do prédio original que contém, como uma espécie de sangue, a energia e nutrientes das demandas reprimidas do programa (atividades didáticas, reserva técnica, ateliê de restauro etc.) e, agora, pode se comprimir no túnel de ligação e explodir (como aqueles hidrantes dos filmes americanos explodem ou como um vulcão) e ocupar um paralelepípedo virtual determinado pela memória do Dumont-Adams.

Portanto, juntamente com o IMS, vão desenhando a Avenida Paulista do futuro, com referências marcantes como o Conjunto Nacional (David Libeskind), a sede do Itaú (Rino Levi), a Paulicéia (Jacques Pilon e Gian Carlo Gasperini), a 5ª Avenida (Pedro Paulo Saraiva e equipe) e outros que estarão sempre ali. Enquanto alguns Dumont-Adams poderão dar lugar a soluções mais adequadas, de uma arquitetura mais comprometida com a expressão de seu tempo, como o quê o anexo enfrenta e se sai vitorioso.

Numa conversa com Paulo Mendes da Rocha, na IX BIAU/Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo, Eduardo Souto de Moura comentou que as pessoas lhe perguntavam que arquitetura deveriam fazer e sua resposta foi muito tranquila: “eu, por acaso, não sei!”. Qualquer demanda de arquitetura, eu penso, é um enorme desafio, pelo menos para mim. E relembro que Paulo Mendes da Rocha, na data de seu aniversário, dizia: “antes de mais nada, devemos saber aquilo que não devemos fazer!”. Que bom que a Avenida Paulista ganhou esse presente que só a faz mais bela e intrigante! Parabéns aos talentosos e competentes colegas arquitetos Martin Corullon, Gustavo Cedroni e Miriam Elwing, à calculista Heloísa Maringoni e ao MASP.


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