“Comigo ninguém pode” – título que toma de empréstimo o nome de uma planta que ao mesmo tempo protege e envenena – é o projeto curatorial de Diane Lima selecionado para a representação brasileira na próxima Bienal de Veneza, que abre em 9 de maio de 2026.

Em uma representação exclusivamente feminina, a proposta reúne dois nomes fundamentais da arte contemporânea brasileira e internacional: Rosana Paulino e Adriana Varejão. “Partimos de diálogos narrativos, plásticos e visuais”, sintetiza Diane, enfatizando a importância de um solo comum à obra das duas artistas que há décadas ancoram sua poética no nosso passado colonial, racista e patriarcal e que – mais recentemente – vêm olhando não apenas para as feridas, mas também para os processos de regeneração e resistência.

Entremear essas produções, criar uma base coletiva para o encontro de obras fundamentais na trajetória das duas artistas, é uma das grandes ambições desse projeto ainda em processo e sem contornos definidos, mas em plena ebulição criativa. “Uma já está influenciando a outra”, afirma Rosana. “Sem dúvida virá coisa nova, ou reedições de coisas pouco conhecidas”, complementa Adriana. 

A ideia é fugir de uma certa previsibilidade, da exibição de obras já consagradas, privilegiando a descoberta de novos caminhos e também buscando tensionar a relação com o prédio (obra de 1964, ícone de uma modernidade ambígua e cheia de contradições e que atualmente passa por um importante processo de restauro) e com o espaço-sede da Bienal. “A configuração dos Giardini é uma coisa extremamente reacionária, aquela lógica de vários países construindo monumentos a si mesmos, de acordo com uma ordem financeira e política de poder. A gente vai se aproximar desse monumento de uma maneira crítica, mas também apresentando outras saídas e possibilidades”, antecipa Adriana.

A própria planta, que batiza a exposição, revela essa ambiguidade paradoxal de uma coisa que é ao mesmo tempo cura e veneno, cuja toxicidade é ameaçadora e protetiva. Como diz Rosana, quem primeiro investigou as potências metafóricas dessa espécie em série do mesmo nome, “a gente deve também olhar para as saídas senão a gente paralisa, revisitando sempre aquilo que não foi curado ainda”. Afinal, “o Brasil é curiosamente um país que nunca olhou para si”, complementa. São muitas camadas que se sobrepõem, de luta política, social, racial e de gênero. Diane acrescenta ainda a importância metafísica desse elemento numa sociedade profundamente injusta e sincrética. 


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