Wura-Natasha Ogunji, Generators, 2014

Com Wura-Natasha Ogunji, não há distância entre projeto e ação, tampouco entre pensar e se deslocar, mesmo que seja entre continentes. Morando em Austin e Lagos, a afro-americana é uma das artistas mais ativas de sua geração. Atua simultaneamente em várias frentes artísticas e em dois países: Estados Unidos e Nigéria. Ela faz parte do movimento da primeira geração de artistas visuais da diáspora africana.

Performer, desenhista e vídeo artista, aos 48 anos, vai atuar como artista curadora no projeto Sempre, Nunca na 33ª Bienal de São Paulo que abrange exclusivamente obras comissionadas. São seis artistas convidadas por ela: a sul africana Lhola Amira, a francesa Mame-Diarra Niang, a norte-americana Nicole Vlado, a nigeriana Ruby Onyinyechi Amanze e a libanesa Youmna Chlala que se juntam a ela em um processo curatorial colaborativo e horizontal. A produção dessas artistas “concilia aspectos íntimos, como o corpo, a memória e gestos épicos, como a arquitetura, a história e a nação”, explica Wura-Natasha.

“Nossos projetos individuais abarcam práticas e linguagens distintas, que convergem em ideias e questões cruciais para a experimentação, a liberdade e o processo criativo”, conta. O trabalho dessas artistas é afetado por suas histórias individuais e pelas complexas relações que mantêm com sua origem. “Suas obras quebram as narrativas hegemônicas”, comenta a artista curadora.

Wura-Natasha Ogunji, Generators, 2014
Wura-Natasha Ogunji, Generators, 2014

Ao lançar mão de todos os suportes disponíveis, Waru-Natasha faz, criticamente, o uso do bordado, atividade quase exclusivamente feminina, para criar comentários sobre a sociedade contemporânea nigeriana e destaca o papel das mulheres formadoras de uma crítica cultural. Impressionada pela maneira como os nigerianos negociam usando pouca ou nenhuma palavra e como simples gestos incitam ações, ela tenta demonstrar em sua obra o que não é dito. Esses trabalhos com cenas complexas e oníricas executados em papel, parecidos com pano, revelam desenhos delicados que parecem etéreos.

Artista múltipla e circunstancial, Wura-Natasha inventa vários sujeitos que se justapõem no mesmo cenário. Seus trabalhos têm uma relação com o real, mas estão ligadas ao desejo que habita o mundo das experiências. A magnitude de suas performances se expressa pela fisicalidade, resistência, gestos do corpo e a relação com o espaço geográfico, assim como a memória e a história. O movimento do corpo tem o poder de evocar os sentidos com uma finalidade que os transcende. Wura-Natasha em algumas atuações destaca a relação entre o corpo e o poder social, investigando como as mulheres, em particular, ocupam o espaço por meio de ações épicas ou comuns. Seus trabalhos incluem desenhos, vídeos e apresentações públicas e as pesquisas mais pertinentes discutem a presença de mulheres no espaço público em Lagos. Uma de suas performances mais conhecidas, Sweep, foi originalmente realizada durante sua primeira visita à Nigéria. Esse trabalho já foi realizado em vários países, aprofundando seu pensamento sobre a presença de mulheres dentro dessas sociedades e explorando a noção de identidade, pátria e diáspora. Nessa busca de presença contínua, Waru-Natasha se atém aos direitos das mulheres por vivenciá-los em duas sociedades diferentes. Uma de suas exposições foi acompanhada de um folder lembrando Angela Davis, em 1985, quando afirma: “Existem paralelos marcantes entre a violência sexual contra mulheres e a violência colonial contra pessoas e nações”.

A forte presença de Wura-Natasha na Bienal de São Paulo, com certeza será inspiradora, em um momento sombrio em que a impunidade para os assassinos de Marielle, também uma afro descendente atuante, continua sem prazo para uma solução, conforme tem demonstrado a justiça brasileira.

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