Carlos Moreira (1936-2020) foi e é talvez a nossa melhor tradução do flâneur, descrita pelo poeta Charles Baudelaire e contada pelo filósofo Walter Benjamin. Um passeador. Seus passos e olhos sempre o levaram para percorrer as ruas das cidades, para registrar com sua câmera fotográfica e olhar atento o que acontecia ao seu redor.

Um bressoniano brasileiro. Admirador do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), contava que foi com o francês que aprendeu a olhar a rua, o rigor do enquadramento, da espera para a foto perfeita e ao mesmo tempo de registar a espontaneidade da cena. Andar por aí era seu prazer, meditar outro. Gostava de mergulhar em seu interior para que pudesse, em suas fotografias, apresentar imagens ricas de emoções.

Estudou, verdade que só por um tempo – melhor seria dizer que passeou pelas faculdades de Engenharia, Psicologia, Sociologia e Filosofia entre os seus 22 e 28 anos. Mais tarde se formou em Economia. E isso lhe trouxe uma delicadeza que aflorava em suas fotografias. Foi mestre atencioso, ensinou a muitos a arte de olhar, de observar, sempre apoiado por uma delicadeza poética.

A fotografia foi a maneira que encontrou para se comunicar com as pessoas. Em uma entrevista que me concedeu em 2009, afirmou: “Gosto de fotografar e as pessoas gostam das minhas fotografias. Foi assim que me tornei fotógrafo. Me tornei alguém quando comecei a fotografar. Antes disso só flutuava pela vida”. Agora, Carlos Moreira se foi! Deixou inúmeros aprendizes, deixou inúmeros olhos que continuam procurando com a delicadeza que ele ensinou a ver o que não está aparentemente visível.

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* Em 2019, na ocasião da retrospectiva de Carlos Moreira no Espaço Cultural Porto Seguro, o jornalista Hélio Campos Mello também escreveu sobra a obra de Moreira: “[A obra] vem à luz através de câmeras e técnicas escolhidas de maneira saudavelmente eclética”. Leia a matéria aqui.


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