Foto horizontal, colorida. Julio Villani veste uma camisa branca e um casaco cinza. Está em seu ateliê, ao seu redor algumas obras e um papagaio.
Julio Villani. Foto: Hélio Campos Mello

Julio Villani saiu do Brasil há muito tempo, sempre em busca das imagens, das formas, das ideias que lhe trouxessem alimento para sua curiosidade. Saiu de Marília, no interior de São Paulo, para a Inglaterra, onde estudou na Watford School of Art, de Londres; e se estabeleceu em Paris, onde frequentou a École Nationale des Beaux-Arts, e lá ficou desde os anos 1980.

É como se tivesse construído uma embarcação de si mesmo e nela fosse colocando  pincéis, linhas, palavras, algoritmos, geometria indígena, indignações e amores. Ele é um garimpeiro e, com sua bagagem, está sempre atravessando fronteiras. Isso dá samba.  

Assim, já pintou e bordou linhos, trabalhou e retrabalhou imagens iconográficas antigas trazendo à tona traços de movimentos artísticos, do modernismo às vanguardas. Villani teve a oportunidade de acompanhar de perto um dos momentos mais ricos da história da arte do século 20, tanto das vanguardas europeias quanto das brasileiras.

Suas esculturas, lúdicas e irreverentes, trazem vestígios do readymade, mas também dos poetas concretos, das obras de Haroldo e Augusto de Campos, que as construíam com palavras que iam dispondo não linearmente, de modo a encontrar uma forma no suporte da página. No caso, Villani as constrói numa colagem que se utiliza do material da sua garimpagem: uma chaleira triangular que lhe inspira o corpo de um pássaro e cujo corpo completa com a leveza de arames; uma cobra montada a partir de uma trena de madeira; uma tartaruga criada a partir de uma pá de aço; uma panela, um retrato. Tudo é experimental e o resultado é uma obra original e poética. 

Produzindo para exposições desde os anos 1980 até hoje, Villani passou pelo MAC-USP, MAM-SP, Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, Museo del Barrio de Nova York, Habitat Center de Nova Delhi, Maison de l’Amérique Latine em Paris; e fez diversas individuais em instituições como o Sesc-SP e nas galerias que o representam – a Galerie 1900-2000 e a Galerie RX, ambas de Paris, e as brasileiras Estação e Raquel Arnaud. Villani nunca parou de trabalhar.

Atualmente, lança seu novo site, Julio Villani, D’ICI, DE LÀ (“daqui e dali”, em tradução livre), e monta sua próxima exposição na RX & Slag Galleries, de Paris, com nova sucursal no Chelsea, em Nova York, onde apresenta, do dia 9 de dezembro a 22 de janeiro de 2022, a mostra Julio Villani. Perspectiva em conflito. São cerca de 20 obras, nas quais a linha e a cor estão permanentemente em tensão. “Se apenas uma viesse a faltar, costuma ele dizer, todo o edifício poderia ruir”, diz o texto do catálogo. “Há um conflito entre linhas de fuga e perspectivas que eu acho sintomático do que estou – estamos todos? – vivendo atualmente”, confessa o artista, revelando assim a escolha do título da exposição.

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