"Timocleia matando o capitão Trácio", de Elisabeta Sirani. Foto: Reprodução "Breve História das Artistas Mulheres", de Susie Hodge

No dia 8 de março celebramos as conquistas femininas em torno dos direitos políticos, civis e por igualdade. A data festiva (e de luta) é resultado de uma mobilização histórica, que começou há muito e não deve acabar tão cedo. O mundo das artes não é exceção nesse aspecto. Seja nas visuais, no cinema, ou nas cênicas, as mulheres foram suprimidas durante grande parte da história – não só nas narrativas, mas da oportunidade de existirem como artistas nos diferentes períodos, como aponta Linda Nochlin no seu famoso ensaio Por que não houve grandes mulheres artistas? (disponível aqui). Selecionamos conteúdos e eventos para repensarmos juntos a presença feminina nas artes e os caminhos a seguir daqui em diante.

Para ler

As mulheres produzem arte desde a Antiguidade até os dias de hoje, mas durante grande parte desse período foram ignoradas. É com essa constatação que Susie Hodge dá início a Breve História das Artistas Mulheres. O livro funciona como um guia da trajetória feminina, mostrando seus expoentes, suas particularidades, os avanços na luta pela igualdade de gênero e as importantes contribuições feitas para movimentos artísticos dominados até então por homens. Para isso, a historiadora da arte e artista britânica divide a publicação em quatro partes: movimentos, obras, inovações e temas. Cada uma traz verbetes sobre seu assunto, destacando pontos centrais, fatos relevantes e figuras centrais. O livro é um bom começo para quem quer saber mais sobre o assunto, mas demanda uma continuação nesse mergulho feminino (e feminista), buscando perspectivas mais afastadas da Europa e dos Estados Unidos.  

Se aproximando da realidade de nosso país, a professora do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) Ana Paula Simioni lança em breve Mulheres Modernistas: Estratégias de Consagração na Arte Brasileira, que se debruça sobre as trajetórias de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Regina Graz. Enquanto o livro não é publicado, é possível dar início às reflexões sobre as questões de gênero no modernismo e a herança colonial brasileira a partir da entrevista concedida à organização de jornalismo cultural Nonada nesta semana (clique aqui).

Com um olhar mais contemporâneo, a artista visual, muralista e ilustradora Pri Barbosa organiza a publicação 8M22 – Às que cavaram rios com as mãos, que reúne conteúdos de pesquisadoras, escritoras e artistas. Entre ensaios, poemas, pinturas e desenhos, podemos folhear (digitalmente) discussões que nos ajudam a repensar a história da arte, o direito à cidade, o etarismo e as questões raciais, sempre sobre um prisma feminista. Fazem parte da coletânea conteúdos de Ana Harff, Bruna Alcantara, Chermie, Debora Diniz, Fabiola Oliveira, Francela Carrera, Larissa Souza, Luiza Romão, Mari Waechter, Pri Barbosa, Roy Von Der Osten, Tamara dos Santos e Vanessa Oliveira. A publicação está disponível para download gratuito clicando aqui.

Para assistir

Neste dia 8 de março, o Sesc Digital exibe a mostra Pioneiras Do Cinema, que aborda o protagonismo feminino diante das câmeras e nos bastidores. “As mulheres sempre estiveram presentes na frente e atrás das câmeras de cinema, como atrizes, diretoras, roteiristas, fotógrafas, montadoras, cenaristas, figurinistas, iluminadoras. Mas seus nomes e contribuições raramente receberam menção na história do cinema”, compartilha a instituição. De forma gratuita e virtual, são apresentadas 10 obras audiovisuais – entre curtas e longa-metragens – realizadas ou escritas por algumas destas mulheres no início do século 20, entre 1906 e 1946. Compõem a programação: 

  • Os Resultados do Feminismo – Dirigido por Alice Guy-Blaché (1906)
  • O Piano Irresistível – Dirigido por Alice Guy-Blaché (1907)
  • O Engano de Mabel – Dirigido por Mabel Normand (1914)
  • A Luz do Amor – Dirigido por Frances Marion (1921)
  • As Aventuras do Príncipe Achmed – Dirigido por Lotte Reiniger (1946)
  • Caminhos Ocultos – Roteiro de Ida May Park (1926)
  • A Luz Azul – Dirigido por Leni Riefenstahl e Béla Balázs (1932)
  • Night On Bald Mountain – Dirigido por Claire Parker e Alexander Alexeieff (1933)
  • Tramas do Entardecer – Dirigido por Maya Deren e Alexander Hammid (1943)
  • O Ébrio – Dirigido por Gilda de Abreu (1946)

Confira a mostra de filmes clicando aqui.

Para cursar

Nesta semana, a Brava – espaço de conexão dedicado à discussão e compartilhamento de trabalhos feitos por mulheres cis e pessoas trans – anunciou sua programação de cursos. Uma série deles nos lembra que pensar as questões de gênero nas artes (e um caminho menos machista, misógino e cisnormativo para a área) precisa ir muito além do dia 8 de março. Destacamos aqui Feminismos decoloniais e a criação artística contemporânea (7 a 9 de março), Arte e feminismos entre Américas Latinas (14 de abril), Arte e feminismos entre Ásias (19 e 26 de maio) e Arte e feminismo entre Áfricas (23 e 30 de junho). Os cursos acontecem online e ao vivo e todas as aulas são gravadas e disponibilizadas para quem estiver inscrito. Quanto aos valores, a Brava propõe três possibilidades de contribuição consciente, permitindo que você pague o quanto pode no momento – e se não dispõe dos recursos financeiros agora, pode enviar um e-mail para oi@bravasp.com.br falando sobre você e explicando como esse conteúdo pode ser importante. As inscrições são feitas através do Sympla

Fachada do Museu da Língua Portuguesa. Foto: Ciete Silverio
Para visitar

Neste final de semana, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, organiza programação especial. No sábado, dia 12, promove uma visita temática pela exposição principal, destacando a existência das mulheres trans. “A ação é um convite à reflexão sobre as pluralidades das identidades femininas a partir da palavra ‘travesti’. Vale lembrar que o Museu da Língua Portuguesa está localizado entre os bairros da Luz e do Bom Retiro, onde vários grupos de mulheres trans residem e também trabalham”, explica o release. No mesmo dia, entre as 13h e 15h, em parceria com o Coletivo Mulheres da Luz, oferecem a aula de dança Mulheres da Luz (re)existem: dança pela visibilidade e direitos – uma ação que visa acolhimento, aproximação patrimonial e empoderamento dos corpos que ocupam a região. Já no domingo, dia 13, em dois horários (10h e 13h), visitas temáticas evidenciam o protagonismo feminino (cis e trans) na exposição. Não é necessário agendamento prévio para nenhuma das ações. 

Já a cidade de Fortaleza, no Ceará, recebe as exposições Olhares Sobre o Sensível e Mulheres Plurais no Fórum Clóvis Beviláqua, entre 8 de março e 8 de abril. As exposições contam com obras do acervo do Museu de Fotografia de Fortaleza. Olhares sobre o Sensível reúne obras de artistas de grande importância para a fotografia nacional e internacional, como Elza Lima, Claudia Andujar, Simone Monte e Lia de Paula. Já Mulheres Plurais busca evidenciar a pluralidade feminina, a partir de imagens de mulheres fotografadas em diferentes décadas pelo olhar de fotógrafos como Evandro Teixeira e Juca Martins. As exposições são gratuitas e ficam abertas à visitação de segunda à sexta, das 11h às 17h no Fórum Clóvis Beviláqua (Rua Des. Floriano Benevides Magalhães, 220, Edson Queiroz).


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