Mais de 80 bandeiras criadas por dezenas de artistas para o projeto "Draw me a flag", do francês Christian Boltansky, na alusão a um mundo sem discriminação. Aqui, bandeira de Claudia Andujar, artista brasileira, na Praça Rubem Dario

E sta Bienal nasce há três anos como a primeira Bienal na história da Argentina, cuja proposta, liderada por Aníbal Jozami, Reitor da Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), inaugura na cidade de Buenos Aires inúmeros sites specifics, exposições e intervenções. Desde maio, outros museus e espaços públicos foram “tocados” pela iniciativa em pelo menos quatro províncias argentinas: Tierra del Fuego, Tucumán, San Juan e Rosário.

Uma das particularidades deste projeto é que sua direção e gestão estão nas mãos de acadêmicos. Se é verdade que Aníbal Jozami, presidente da BIENALSUR, é conhecido no mundo da arte como um grande colecionador (em 2014 sua coleção privada de arte ibero-americana foi exposta no Museo Lázaro Galdiano de Madrid), sua carreira como sociólogo e especialista em relações internacionais junto às universidades federais e como reitor da UNTREF, por anos, o levaram a pensar um projeto além de fronteiras. Diana Wechsler, diretora geral da bienal, é historiadora de arte, investigadora do CONICET (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas) e tem uma visão interdisciplinar sobre a arte.

As principais bienais no mundo vêm questionando há alguns anos seus formatos, funções e viabilidade. Modelos tradicionais tem se esgotado e há uma busca, nos diferentes estamentos da arte e da cultura, por encontrar soluções que permitam mais cooperação, participação e espaço para as propostas de inter e transdisciplinaridade que a arte contemporânea comporta.

A BIENALSUR, no lugar de concentrar todos os esforços em uma única cidade, uma sede, se propõe a “levar o pensamento do SUR” para diversas cidades do mundo. Assim como, trazer para o SUL o pensamento daqueles que entendem que não deveríamos seguir a cartografia oficial e sim estar atentos às questões que estão em jogo no planeta como um todo. O meio ambiente, as questões migratórias, as questões de gênero.

Assim, sob o guarda-chuva de temas como Sexo, Trânsitos e Migração, Arte e Espaço Público, Formas de Ver, Memórias e Esquecimentos, Arte e Ciência/Arte e Natureza, o a bienal gerencia um mix de soluções expositivas. Busca parceiros nacionais e internacionais que se interessem por albergar o projeto, mostra grandes coleções e em outros casos comissiona projetos de artistas escolhidos.

Nesta edição, além das instalações em espaços públicos, vários dos projetos desenvolvidos na parceria com museus de Buenos Aires, muitos deles clássicos e modernos, criam situações de atemporalidade muito interessantes.

Sem lugar à dúvida um dos pontos altos desta segunda edição é a presença do artista italiano, criador da Arte Póvera, Michelangelo Pistoletto que, com 86 anos, continua trabalhando ativamente e defendendo que “a arte só faz sentido quando faz pensar e quando faz refletir sobre a liberdade como responsabilidade comum”. A vinda dele para a Bienal foi mediada pelo curador brasileiro Marcelo Dantas, que já apresentou o artista em Brasília e Belo Horizonte.

Seus projetos estão organizados no Circuito Pistoletto, uma sequência de intervenções no Museo de Arte Decorativo, no Museo de Bellas Artes e no Museo Benito Quinquela Martín. Neste último junto a uma instalação no Rio de la Plata, onde um símbolo do infinito, formado por mais de 3 mil garrafas de plástico, pintadas pelos alunos das escolas do distrito de La Boca, trazem a ideia da importância de cuidar da natureza e lutar contra a degradação do ambiente. O projeto foi um processo de trabalho colaborativo com o Ministério da Educação-Gestión Cultural, alunos de escolas e a ACUMAR-Autoridad de Cuenca Matanza Riachuelo, encarregada de cuidar da limpeza e condições do Rio.

Certamente mobilizar vários setores públicos cria nestes casos a possibilidade de tornar a arte um lugar de conexão e reflexão social.


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