Pablo Lafuente, Fabio Szwarcwald e Keyna Eleison na sede do MAM Rio. Foto: Divulgação.

Nesta terça-feira, dia 18, o MAM Rio anunciou Keyna Eleison e Pablo Lafuente como a dupla que irá assumir a diretoria artística da instituição. Eleison, de 41 anos, é carioca, mestre em História da Arte e especialista em História e Arquitetura pela PUC-Rio. Ela é curadora, escritora e pesquisadora e atualmente ensina na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Já o espanhol Lafuente, de 44 anos, foi co-curador da 31 ª Bienal de São Paulo, em 2014. Entre 2018 e este ano, ele coordenou o Programa CCBB Educativo no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio. De 2008 até 2013 também foi curador associado do Office for Contemporary Art, na Noruega.

A escolha é resultado de um processo seletivo de quatro meses que atraiu mais de 100 candidaturas. A recente chamada marca a primeira vez que o MAM Rio faz um processo seletivo aberto para uma posição de destaque, e veio como uma celebração dos 72 anos do museu, completados no dia 3 de maio. Desde janeiro de 2020, o MAM Rio está sob liderança do diretor-executivo Fabio Szwarcwald e essa iniciativa faz parte de um reposicionamento da instituição, que conta com um dos mais importantes acervos de arte moderna e contemporânea da América Latina – com cerca de 15 mil obras.

MAM Rio Capacete
O prédio do MAM Rio. Foto: Fabio Souza.

Para escolher sua nova diretoria artística, o MAM Rio formou dois comitês, um interno e um técnico, este último com nove integrantes: Ayrson Heráclito; Benjamin Seroussi; Diane Lima; Eneida Braga; Jochen Volz; Manuela Moscoso; Mauricio Dias; Renata Bittencourt e Roberta Saraiva. Iniciados em maio, os processos de seleção executados pelos comitês foram afunilando as candidaturas até restarem cinco finalistas na etapa final do processo.

A escolha da dupla, segundo Szwarcwald, procura “voltar ao tripé, que foi a alma do MAM, que é arte, educação e cultura”. No anúncio da nova direção artística, ele afirmou: “Queremos um museu antenado com a modernidade, um museu cada vez mais social, que tenha um foco na sua cidade, nos projetos periféricos que acontecem nela”. Ao apresentar Eleison e Lafuente, ele complementou que o processo de transformação pelo qual o MAM Rio está passando procura torná-lo mais relevante na cena cultural da capital carioca. “Um museu mais cultural, com várias ações em várias outras áreas que não só nas artes visuais, como cinema, dança, teatro, música.”

A ideia é reverberada pelos novos diretores artísticos. Eleison conta que já no projeto submetido para a candidatura da dupla foi pensado o MAM como um museu de interseções: “dentro, fora, no parque, além, em nossas casas, no centro da cidade, nas periferias, no país e no mundo”. Um projeto artístico que pretende criar condições e atividades para incentivar e orquestrar que essa conexão se torne “um hábito e um museu vivo, um entendimento expandido de nossa cultura material e imaterial”.

Para Lafuente, a tarefa de criar uma relação mais orgânica com o museu passa por uma transformação de uma instituição visitada para uma habitada. “O MAM não é apenas o espaço demarcado pela sua arquitetura, é igualmente o parque que o acolhe, a passagem da Baía de Guanabara e as experiências daqueles que passam por esses locais. É necessário criar mecanismos que garantam a troca”. Tal intercâmbio, segundo ele, já se inicia pelo diálogo criado entre os dois diretores. Como afirmou o curador, as diretorias duplas trazem uma dinâmica específica que já carrega a diversidade de olhares levando em conta que “duas pessoas sempre vão olhar um pouco diferente, ao mesmo tempo que isso leva a uma dinâmica de negociação; são duas perspectivas que vão ter que negociar uma posição comum entre elas, e assim continuar essa dinâmica com o resto das equipes que fazem o museu, por sua vez muitas e muito diversas também”.

É necessário construir relações de engajamento e retorno nesses tempos que precisamos aprender a estar juntos de novo, afirma o curador espanhol.

A diversidade foi abordada pelos novos diretores também em relação às narrativas artísticas provocadas pelo acervo do MAM Rio. A dupla pretende trabalhar com as “presenças e ausências” do museu para contar histórias que não estão sendo mostradas. “A tarefa de reinvenção deve partir do MAM e seus acervos, eles são vocabulários que dispomos para criar narrativas e demandam atenção, estudo e divulgação. Estamos cientes porém, de que a história contada pelo MAM não é suficiente. Devido a acidentes, invisibilidades, seu vocabulário é limitado como, por exemplo, sua relação com a produção negra e indígena. Nosso programa artístico permite trabalhar tanto com o que está disponível quanto com as ausências”, afirma Eleison.

A pesquisadora complementa: “Para nós, encantamento é uma palavra fundamental para pensar o Museu de Arte Moderna. Para que o museu funcione, ele precisa ser compartilhado por todos nós e por isso os acervos, programações e equipe devem refletir a diversidade da sociedade, suas linguagens e histórias.” Completando o tripé mencionado por Szwarcwald vem o compromisso dos diretores com os processos de educação e programação do museu ao fortalecer a Cinemateca do MAM – cujo espaço novo será inaugurado – e ao trazer de volta o Bloco Escola.

 


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