Tiago Sant'Ana Open Society
Performance "Refino 2" de Tiago Sant'Ana. Foto: Reprodução.

O brasileiro Tiago Sant’Ana, de 29 anos, foi um dos artistas contemplados pelo programa de bolsas para as artes da Open Society Foundation, organização filantrópica criada pelo bilionário George Soros. Ele é o primeiro brasileiro a ser escolhido para esta bolsa. O programa está em seu terceiro ano e anunciou na última terça-feira, 14 de julho, os dez recipientes para as bolsas de 2020. São artistas, curadores, organizadores culturais e pesquisadores que trabalham na interseção de migração, espaço público e artes. Do Brasil, Botsuana, Jamaica, Nigéria, Palestina, St. Croix, Síria, Tlingít Aaní, Estados Unidos. Os bolsistas selecionados recebem um subsídio de US $ 80.000 – equivalente a R$ 431 mil – para realizar um projeto ambicioso nos próximos 18 meses.

Para Rashida Bumbray, diretora do programa de Cultura e Arte da Open Society: “A pandemia do Covid-19 e o atual cenário global com injustiça sistêmica ampliam as desigualdades em nossas sociedades que as comunidades marginalizadas enfrentam há gerações. É por isso que o trabalho de nossos colegas é tão urgente, pois eles trabalham na linha de frente da cultura para promover narrativas autodeterminadas e inspirar mudanças coletivas “.

Entre as propostas para os projetos a serem desenvolvidos estão: uma colaboração entre artistas performáticos e ativistas sociais para documentar uma história alternativa da migração síria; esculturas sustentáveis no Cockpit Country da Jamaica, uma área de resistência histórica do povo Maroon agora ameaçada por políticas ambientalmente destrutivas. 

No Brasil, Sant’Ana desenvolverá performances explorando conexões no Brasil entre colonização, escravidão e comércio de cana-de-açúcar e as lutas atuais pela justiça racial.

O artista é nascido em Santo Antônio de Jesus, cidade do recôncavo da Bahia. Sant’Ana é formado em Comunicação na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), tem mestrado em Cultura e Sociedade e finaliza o doutorado também em Cultura e Sociedade na Universidade Federal da Bahia. Seu trabalho perpassa diversas linguagens, da performance ao vídeo, da fotografia à pintura. Ele começou a se envolver com as artes há dez anos quando ainda estava na faculdade. Em 2018, o baiano realizou a primeira exposição individual, no Museu de Arte da Bahia (MAB). Foi a partir dessa individual que Sant’Ana elaborou seu projeto submetido e selecionado pela Open Society. Ele também já expôs no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, e no Senac Lapa Scipião, em São Paulo.

Tiago Sant'Ana Open Society
Obra “Refino”, por Tiago Sant’Ana. Foto: Divulgação.

“Foi um processo que começou em julho do ano passado, em outubro eu já sabia da notícia, mas em decorrência de uma série de questões, o cronograma foi adiado, sobretudo, por causa do coronavírus”, contou o artista ao  G1. Sant’Ana, sendo do Nordeste, reconhece na sua seleção uma importância de pensar a arte no Brasil fora do eixo Rio-São Paulo.

Na entrevista para o portal de notícias, ele também afirma: “Meu projeto é realizar uma série de ações, performances, vídeos e fotografias nesses lugares [os engenhos], tentando trazer à tona essas memórias ligadas à questão da escravidão. Pensando nisso também, um olhar contemporâneo. Pensar, por exemplo, como as consequências desse processo de escravização em decorrência do ciclo do açúcar reverbera na atualidade”. Sant’Ana pretende visitar ao menos uma dezena de outros engenhos na região onde nasceu, além disso seu plano prevê a interação com comunidades vizinhas aos engenhos – cujas histórias foram esquecidas à medida que se tornaram ruínas.

O resultado de seu projeto deve ser apresentado em uma exposição em Salvador no próximo ano, embora as barreiras impostas pela pandemia dificultem uma previsão mais exata, tanto da data quanto do local.

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