O MAM, a marquise e nós no meio, coletiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo, até 19/8
A Marquise, o MAM e Nós no Meio, com curadoria de Ana Maria Maia e layout do coletivo de arquitetos Grupo Inteiro, conta com ampla programação que se mistura com o já realizado Domingo MAM, em que omuseu realiza atividades no Parque do Ibirapuera. As obras do acervo selecionadas remetem à vizinhança ao redor. Além disso, são propostas performances e parcerias para diminuir os limites do prédio, em seis domingos ao longo da duração da exposição.
Rodrigo Bivar, ‘O Noivo da Ascensorista’, 2017
Rodrigo Bivar: É Umas, individual na Galeria Millan, abertura em 12/5
Composta por sete pinturas, a maior parte delas inédita, a mostra é a primeira do artista na Millan desde 2015, e marca um novo capítulo em sua investigação acerca da pintura. Inicialmente figurativo e próximo das imagens fotográficas, de uns anos para cá seu trabalho vem permeando um campo mais identificado com o da pintura abstrata, com interessantes divisões geométricas e inesperadas associações de cores.
Regina Parra, ‘Um perigo e uma chance’, 2016
Desmedida, coletiva na Zipper Galeria, abertura em 17/5
O curador Diego Matos reúne um conjunto de trabalhos que retratam o Brasil, seu lastro histórico e suas múltiplas realidades à luz de um imaginário construído nas duas últimas décadas do século XXI. Na contramão aos parâmetros de uma história oficial baseada nas ideias grandiosas de progresso e civilização e na atenção ao desenvolvimento das grandes metrópoles, as investidas dos artistas aqui selecionados conflagram largo interesse em explorar, reconhecer territórios grandiosos mas invisíveis. Trata-se desse mesmo Brasil que, no momento, seja por temor, ignorância ou elitismo, é dado as costas. Dentre os artistas estão Romy Pocztaruk, Regina Parra, Tuca Vieira e Karim Aïnouz.
Fernando Limberguer, ‘Ainozama’.
Amazônia: os novos viajantes, coletiva no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, abertura em 12/5
Com curadoria de Cauê Alves e Lucia Lohmann, professora no Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP, a mostra reúne artistas como Cildo Meireles, Claudia Andujar, Walter Salles e Luiz Braga. A exposição tem base em pesquisas científicas coordenadas por Lucia sobre a origem da Amazônia.
A mostra é parte do programa de residência artística Pivô Pesquisa. FOTO: Divulgação
11° Ateliê Aberto, coletiva na Pivô, em 12/5
O público é convidado a entrar em contato com o processo dos artistas em residência, que apresentam trabalhos em andamento, testam maneiras de exposição ou produzem conteúdos específicos para o evento, como conversas ou performances. Com backgrounds e investigações diversas, tanto dos artistas brasileiros quanto estrangeiros, essa é uma oportunidade de experimentação de suportes, de entendimento do uso dos espaços, e a chance de experienciar possibilidades de diálogos.
João Loureiro, ‘Reprodução Assistida’
João Loureiro: 1:1, individual na Galeria Jaqueline Martins, abertura em 12/5
O artista correlaciona o espaço de exposição da galeria com um açougue da região, bairro da Vila Buarque, centro de São Paulo. Mas mais do que ocupar ambos os espaço com um conjunto de obras, João Loureiro concebe uma série de ações encadeadas que são ciclicamente repetidas ao longo do período da exposição, fazendo com que o trabalho se constitua cumulativamente dia-após-dia.
CONVERSA
Dora Longo Bahia, ‘Brasil x Argentina’ (stills de vídeo), 2017. FOTO: Bolsa de Fotografia ZUM/Acervo IMS
O artista em processo com Dora Longo Bahia, conversa no Instituto Moreira Salles de São Paulo, em 12/5
‘O artista em processo’ é uma atividade que promove uma conversa aberta com um artista sobre sua obra, sua linha de pesquisa e seu processo criativo. A convidada da vez é a artista multimídia Dora Longo Bahia, que – dentre outras coisas – aborda o sexo, a morte e a violência em seus trabalhos.
POR AÍ…
Athos Bulcão, ‘Estudo em cartão’. A exposição que comemora 100 anos do artista está em cartaz no CCBB de Belo Horizonte e faz parte da programação da Semana de Museus. Foto: Vicente de Mello/Divulgação
Semana Nacional de Museus, programação especial de museus em todo o país, de 14/5 até 20/5
A 16ª Semana Nacional de Museus é uma temporada cultural promovida pelo Ibram em comemoração ao Dia Internacional de Museus (18 de maio). Nesta edição, 1.130 museus de todo o país oferecem ao público 3.261 atividades especiais, como visitas mediadas, palestras, oficinas, exibição de filmes e muito mais!
Emmanuel Nassar, ‘Trap Trap’, 2013. No estande da Galeria Millan em Lisboa.
ARCOlisboa, feira de arte em Lisboa, de 17 a 20/5.
Com a qualidade dos conteúdos como principal objetivo, a Cordoaria Nacional terá a participação de 68 galerias. O Programa Geral será composto por 50 galerias selecionadas pelo Comitê Organizador, e a seção Opening contará com a participação de 8 galerias nacionais e internacionais com menos de sete anos de antiguidade, selecionadas por João Laia, escritor e comissário português. Como novidade, este ano serão incorporados 10 projetos especiais também selecionados pelo Comitê Organizador.
É com um diálogo entre um jardineiro e um botânico que começo hoje. Diálogo este relatado pela psicanalista Nathalie Zaltzman no seu texto “Do sexo oposto” (1999). Um jardineiro tinha um ruscus e, como seu ruscus nunca dera flores, ele se inquietava sobre como fazer para descobrir se o pé era macho ou fêmea. Eis que o jardineiro envia esse questionamento para uma revista de botânica e recebe do botânico a seguinte resposta: “compre um outro ruscus, e coloque-o próximo”, “só uma outra planta poderá revelar os respectivos sexos, pela floração se forem do mesmo sexo, pela frutificação se forem de sexos opostos” (p. 89).
A partir deste diálogo, a psicanalista que o retoma faz a seguinte reflexão: se até no mundo vegetal, em algumas espécies, o “destino anatômico” não age sozinho, se ele encontra um limite intransponível e a determinação sexual não se realiza a não ser na presença do outro, se o destino anatômico não age sozinho nem nas plantas, imaginem só nos seres humanos nos quais o inconsciente, a linguagem e as fantasias estão presentes. Como esta situação se repete em outras espécies de plantas, o botânico e a autora que o retoma colocam a seguinte afirmação:
“A alteridade é uma condição necessária e prévia à identidade” (p. 90).
O outro na constituição do sujeito humano não está só no que se refere ao sujeito sexuado e à diferença dos sexos, e sim desde o início. Na espécie humana, o corpo biológico do bebê e seu sexo anatômico são acolhidos desde antes do nascimento por uma subjetividade outra, a do adulto, que desde o começo interpreta seu corpo, seu sexo, seus movimentos e suas necessidades a partir do seu próprio inconsciente. Antes mesmo de nascer, o seu corpo é acolhido e interpretado a partir do narcisismo e da sexualidade do adulto.
Na espécie humana, o corpo biológico do bebê e seu sexo anatômico são acolhidos desde antes do nascimento por uma subjetividade outra, a do adulto, que desde o começo interpreta seu corpo, seu sexo, seus movimentos e suas necessidades a partir do seu próprio inconsciente.
A alteridade está presente o tempo inteiro na constituição da sexualidade e da subjetividade: o outro, os outros, o Outro, ou seja o outro que toca o nosso corpo quando bebê e satisfaz as nossas necessidades, assim como o coletivo no qual nos inserimos e a própria linguagem como um todo precedem a construção de nós mesmos. O amor materno se insere nas “dobras da evolução libidinal”, marca o sujeito psíquico, inscrevendo inicialmente uma outra realidade psíquica, um outro desejo no próprio psiquismo embrionário.
A concepção psicanalítica da sexualidade retirou esta do paradigma do endogenismo biologizante, colocando a ênfase no processo, na construção e não na “essência” – seja esta da ordem biológica ou cultural. Uma afirmação que a psicanálise não fará é “o que é a mulher” e sim como ela advém, como se constitui a partir da “criança e sua sexualidade polimorfa”.
Uma diferenciação se faz necessária. Há de se distinguir o sexual do sexuado, sendo que este último é o que se organiza na história da sexuação e que vai constituindo uma “identidade sexual”, enquanto que o conceito de sexualidade na psicanálise se estende, na medida em que não se reduz a genitalidade, nem à finalidade procriativa, mas abrange todo o campo do pulsional, com o leque de pulsões parciais das orais às escópicas e muitas outras.
Pulsão é diferente de instinto, já que este surge colado a necessidade e tem objeto fixo, enquanto que a pulsão surge a partir daquilo que se introduz na sua satisfação e seu objeto é contingente. Excitações se introduzem junto com a satisfação das necessidades básicas desde o início, como o “leite quentinho” que entra na boca da criança quando amamentada e que produz nela uma experiência de prazer que a marca e dá origem à pulsão; mas esse leite é dado por um outro que junto introduz excitação, expectativas, demandas, inscreve afetos e vai fazendo surgir um “corpo erógeno” cuja geografia está desenhada pelas marcas de prazer, o que não é igual ao corpo biológico.
Quando nascemos, em total estado de “desajuda”, de impossibilidade de ajudar-nos a nós mesmos na satisfação das necessidades, para sobreviver dependemos totalmente do outro adulto, que no mesmo gesto de satisfazer as necessidades (alimentação, abrigo, limpeza) vai introduzindo em nós marcas de excitação, criando aquilo que nos impulsiona e nos liga à vida. Esse outro, ao mesmo tempo em que nos toca acordando as sensações também nos nomeia, e ao nomear-nos nos inclui numa categoria que seria uma categoria em relação ao sexuado, categoria de gênero. Chegamos ao mundo com alguém que nos espera e nos diz menino ou menina. Mas esse outro nos nomeia a partir da discriminação da consciência e das categorias estabelecidas pela cultura, e também através de uma pluralidade de significações inconscientes do que para cada adulto é “ser uma menina” ou “ser um menino”, algo que ecoa na nomeação. Ao nomear-nos, nos dá um banho de desejo, do que o outro quer de nós, mas também um banho de imaginário cultural, do “como se espera que sejamos”.
A alteridade, então, está na constituição da sexualidade enquanto essas marcas que se inserem infiltradas com a excitação na satisfação das necessidades, está na nomeação das categorias identitárias e está como objeto das identificações nas quais as pulsões – por serem contingenciais – vão construindo seus roteiros. O polimorfismo pulsional, a pluralidade das significações e demandas que o outro faz chegar e a multiplicidade identificatória que vai se desdobrando nos tempos de constituição psíquica fazem com que a construção da sexualidade humana seja um processo complexo, bem como a articulação do sistema sexo-gênero, e que sofra ressignificações em momentos da vida como no reconhecimento da diferença dos sexos, na puberdade, etc. Tudo isso faz com que a sexualidade humana seja uma construção absolutamente “singular”.
Não da para pensar a sexualidade no sentido evolutivo teleológico, supondo como fim a genitalidade ou a heterossexualidade, e sim como uma rede complexa de diferentes estratos psíquicos e da cultura abrangendo a pulsionalidade polimorfa constituída no seio da alteridade, a partir dos vínculos primários, da sexualidade infantil e das fantasias nela construídas, do narcisismo e do ego, e da inclusão do reconhecimento da diferença dos sexos. Neste conjunto complexo, cada um precisa articular uma busca de solução dos conflitos internos, construindo um “roteiro singular”. Mas é necessário pensar também na dimensão sócio-histórica, dentro da qual há que se considerar as normatividades das formas eróticas e das formas de amar, os modos de subjetivação e de laço social nos momentos da história e da cultura.
“cada um precisa articular uma busca de solução dos conflitos internos, construindo um ‘roteiro singular’”
Independentemente de qual seja a identidade sexual e o objeto “escolhido”, isso sempre é uma construção que se faz nesta articulação entre a complexidade de identificações – com seu caráter plástico –, sua possibilidade de ressignificação, e a categoria imposta ou atribuída pelos outros, que na nossa sociedade é binária – mas que não precisaria sê-lo.
Sabemos que em muitas culturas os mitos fundadores não são binários e sim plurais. Sabemos também que as lógicas identitárias tentam reduzir as diferenças à unidade, buscando uma fórmula única que classifique particularidades dentro de uma categoria, conceituando entidades como substâncias e não como processos, eliminando assim a particularidade da experiência singular com suas ambiguidades e incertezas. Em relação à designação de gênero, também existem formas diferentes de pensá-la: como uma simples nomeação ou como, uma designação continua que é feita pelos outros pela linguajem, os gestos ,os atos; a partir de suas discriminações mas também suas ambiguidades, contradições… Com o qual se abre a possibilidade de pensar o gênero como plural e conflitivo.
A psicanalista Joyce McDougall cunhou o termo neo-sexualidades para pensar a criação de dramas eróticos complexos como soluções para os eventos traumáticos do início da vida, que seriam muito presentes nas apresentações sexuais da atualidade; no entanto, ela própria se pergunta se a totalidade da sexualidade humana não seria de neo-sexualidades. Ou seja, eu diria, todas as sexualidades seriam roteiros singulares escritos para dar conta dos eventos traumáticos da infância e na busca de uma solução para a complexidade que se instala ente o sexo, o amor e o gozo.
As notícias, escritos e debates sobre sexualidades, identidades e gênero tem tido uma presença constante na mídia, muitas vezes inclusive em debates fortemente acalorados, em defesa de posições antagônicas. Em grande parte do que circula, duas confusões insistem: confundir sexualidade com sexo biológico e pensar as identidades sexuais como se fossem “escolhas” voluntárias. Em ambas, desconhece-se o inconsciente do outro e o próprio, o que pode levar até a propostas absurdas e enganosas como a da chamada “cura gay”.
Zaltzman, N. Do sexo oposto. In Ceccarelli, P. (org.). Diferenças sexuais. São Paulo: Escuta, 1999.
A atriz e dançarina, com uma de suas jiboias - Foto: Divulgação/Exposição Cem Anos Luz
Ela era irreverência pura. Nascida há 101 anos e criada para reproduzir os valores da família tradicional, Dora Vivacqua tomou outros rumos. Não por acaso, a campanha “Meu corpo, minhas regras” se encaixaria à perfeição ao seu estilo de vida, apesar de ela jamais ter se expressado com essas palavras.
Capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, Dora exibia-se de calcinha e top feito de lenços em praias do Espírito Santo, no começo dos anos 1930, quando o termo biquíni nem existia. Não demorou a romper com a família para tentar a vida como artista na capital federal, o Rio de Janeiro.
Detalhe: embora pioneira na liberação do corpo, ela não se afinaria com outra campanha atual, a #ChegaDeFiuFiu. Dora, que primeiro se apresentou como Luz Divina, fazia de tudo para despertar a lascívia alheia. Dançava seminua, com duas jiboias – Cornélio e Castorina.
Causou tanto furor no circo que logo foi para o teatro de revista, o gênero teatral popular à época, marcado pelo apelo à sensualidade e à sátira política. A troca do picadeiro pelo tablado também envolveu mudança do nome para Luz del Fuego, inspirado em uma marca de batom argentino.
O talento nos palcos foi questionado mais de uma vez, mas o sucesso de suas apresentações era indiscutível. Logo ficou conhecida em todo o país. E não parava de ousar, inclusive em outros campos. Foi uma das primeiras brasileiras a pilotar um avião. E a saltar de paraquedas.
Não demorou a começar a escrever. No primeiro livro, o autobiográfico “Trágico Black-Out”, escancarava as contradições da família. Em tentativa de amenizar o escândalo, o irmão senador, Atílio Vivacqua, tratou de comprar todos os exemplares que encontrou pela frente.
Por esta época, ela passou a reunir amigos para praticar nudismo na praia de Joatinga, perto de sua casa, em São Conrado, no Rio. Entre os adeptos, Miss Gilda e Miss Lana, que se apresentavam como transformistas. “Um nudista é uma pessoa que acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano”, dizia Luz del Fuego.
Na defesa de suas ideias, tentou até criar um partido, o Partido Naturalista Brasileiro (PNB), que acabou não obtendo registro. Publicou um segundo livro, “A Verdade Nua”, onde também incluiu princípios do vegetarianismo. Queria ter um espaço próprio, para a prática do naturismo.
Não demorou a trocar sua confortável casa por uma ilha na Baía da Guanabara, a 15 minutos de barco da Ilha de Paquetá. Era uma concessão da Marinha de oito mil metros quadrados, a maior parte rochas e cactos, que Luz del Fuego transformou na primeira colônia naturista do país.
A Ilha do Sol, como Luz del Fuego rebatizou, chegou a ter entre os seus visitantes o ator Steve McQueen (1930-1980). Em julho de 1967, foi também palco do assassinato de Luz del Fuego e de um caseiro, crime cometido por homens atrás de uma fortuna que, na verdade, ela não tinha.
Inspirada nela e em suas ideias, a cantora Rita Lee compôs e gravou “Luz del Fuego” em 1975, música regravada por Cássia Eller 23 anos depois. Em Cachoeiro de Itapemirim, onde nasceu, Luz del Fuego hoje é reverenciada. Há duas semanas, em 21 de fevereiro, dia do nascimento de Luz del Fuego, a prefeitura da cidade lançou um selo em homenagem da atriz e bailarina. A ideia surgiu ano passado, quando se comemorou os 100 anos da filha outrora renegada pela família. Sinal dos tempos.
Alfredo Volpi, 'Bandeiras e mastros', década de 1970.
Segundo artigo recente de Artribune, exposição de Alfredo Volpi, La Poetica del colore, montada em Villa Paloma, sede del Museo Nazionale di Monaco, e que termina dia 20 de maio, com curadoria de Cristiano Raimondi, se destacou por desvendar para os europeus sua arte essencial, precisa e sensível.
No final de 2017, o artista ganhou sua primeira individual em uma galeria estadounidense e neste ano, na tradicional galeria Sotheby’s, em Londres. “O mundo começa a descobrir Volpi”, destaca Zivé Giudice, diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) onde, atualmente, 33 obras do artista ítalo-brasileiro são exibidas. A mostra, que se estende até o dia 1° de julho deste ano, é um dos frutos do grande esforço que a gestão do museu tem feito ao lado de parceiros para driblar a crise orçamentária.
A exposição só foi possível, graças a colaboração de curadores, galeristas e colecionadores que se uniram para trabalhar em uma força tarefa que deu suporte ao recolhimento e transporte das obras até a Bahia. “Existe um flerte entre Volpi, a Bahia e este museu desde os anos 40”, afirma Zivé, sustentando seu argumento na posterior doação feita da obra Casas, na década seguinte, para o acervo da instituição. A iniciativa foi do crítico de arte Theon Spanudis e, para Ladi Biezus, que assina texto crítico da exposição, a atual mostra também cumpre o papel de comemorar mais de cinquenta anos da doação.
Zivé diz-se satisfeito por sediar algo digno do artista: “É uma retrospectiva que começa nos anos 40, passa pela incursão do figurativo e depois começa o surgimento da poética geométrica”, afirma. Para ele, o trabalho do curador Sylvio Nery reune “belos exemplares de pinturas que representam muito bem cada época de Volpi”.
A primeira atividade artística de Volpi data de 1914, quando tinha apenas doze anos de idade. Apesar disso, a pintura começou a fazer parte de seu cotidiano só na década de 30, tendo como base as suas observações de paisagens e construções da vizinhança onde morava. No final dessa década, começou a pintar aquilo que, historicamente, viraria a sua marca na arte. Mesmo fazendo parte de uma geração que se desenvolveu em um momento modernista, Volpi se desvinculou dos rótulos de movimentos artísticos impostos pela crítica.
No Brasil, suas obras se espalham por coleções ao longo de todo o país. Marcelo Xavier, Roberto Oliva, Marcos Amaro e Leonardo Telles são alguns dos colecionadores que se dispuseram a colaborar. Além deles, é preciso destacar a dedicação do galerista Paulo Darzé e da galeria paulistana Almeida e Dale em todo o processo, fazendo o intermédio entre o museu e os colecionadores.
A participação do Instituto Alfredo Volpi, presidido por Pedro Mastrubuono, também foi crucial para a realização da mostra. “Sucesso nos USA e Europa, mas sem jamais esquecer o público brasileiro”, destaca Mastrobuono em uma rede social. Segundo Zivé, as parcerias com esses nomes tornam-se importantes à medida que as instituições de arte brasileiras têm sofrido com a crise: “A cultura sempre padece por isso, mais que os outros subsetores da sociedade”.
No Museu de Arte Moderna da Bahia, a exposição de Afredo Volpi integra um projeto que foi denominado Estado Bienal. A medida é uma forma encontrada pela gestão da instituição para realizar, de alguma forma, a função que a Bienal da Bahia costumava cumprir. Depois do fechamento da II Bienal baiana em 1968, por ação da ditadura militar embasada-se no AI-5, o evento só voltou a acontecer 46 anos depois, em 2014. Sem recursos para continua-la, ainda não há previsão de quando a quarta edição será acontecerá. Desta forma, o MAM-BA resolveu integrar todos os projetos do museu no rótulo Estado Bienal. “Decidimos que tudo o que fosse produzido pelo museu ou demandado do museu fosse feito dentro da perspectiva desse lugar de gestação de ideias e de conteúdo”, pontua Zivé.
Para os próximos meses, o MAM-BA prevê uma mostra que irá reunir o que Zivé chama de Geração 70 da arte baiana. Para ele, é uma geração espontânea que “começa a construir um lugar da arte atual” no estado. Estão sendo cotados nomes como Bel Borba e Vauluizo Bezerra, sergipano radicado na Bahia.
Os lançamentos do livro de Laura Carvalho em São Paulo e no Rio de Janeiro deixaram filas nas livrarias. FOTO: Maíra Erlich/Facebook Laura Carvalho
Em pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, vinculado a Universidade de Brasília (UnB), foi constatado que uma média de aproximadamente 75% dos livros lançados entre 1965 e 2014 foram escritos por homens. Em busca de incentivar a leitura de autoras mulheres, várias iniciativas surgiram nos últimos anos, como os coletivos Leia Mulheres e o Mulherio das Letras.
Contribuindo com esse movimento de conhecimento da literatura escrita por mulheres, listamos abaixo livros lançados até agora em 2018 que foram escritos por mulheres ou sobre mulheres.
1. Valsa Brasileira: do boom ao caos econômico (Todavia), por Laura Carvalho
Com análise atenta e minuciosa, a economista Laura Carvalho apresenta algumas explicações sobre como a economia brasileira foi do êxito ao declínio, passando pelo governo Lula e chegando a estagnação após o impeachment. Além das constatações, Laura emenda propostas do que pode ser feito para sair da crise, com uma nova agenda.
2. Carolina Maria de Jesus: uma biografia (Malê), por Tom Farias
Frequentemente tendo sua obra e vida resgatadas, a escritora Carolina Maria de Jesus parece ter voltado para ficar no imaginário da literatura brasileira. Sua trajetória da infância pobre à ascensão no mercado editorial, com posterior desinteresse do mundo literário, é contada com afinco nesta edição preparada pela editora Malê.
3. Todo dia a mesma noite, a história não contada da boate Kiss (Intrínseca), por Daniela Arbex
Desde o dia 27 de janeiro de 2013, a jornalista Daniela Arbex se debruça sobre a história das dezenas de pessoas (em sua maioria jovens) que foram vítimas do incêndio ocorrido na Boate Kiss, em Santa Maria. Completados cinco anos desde o ocorrido, Daniela traz neste livro um desejo de que essas pessoas não sejam esquecidas, ao acompanhar de forma sensível o luto e a luta de familiares e amigos das vítimas, que até hoje esperam por justiça.
4. Carla Chaim (Cobogó), por Jacopo Crivelli Visconti
Dez anos da trajetória da artista Carla Chaim são reunidos em livros que apresenta sessenta e seis obras, entre vários formatos realizados por ela. Com a peculiaridade de usar o corpo para conduzir suas práticas, Carla se destaca com uma das artistas mais singulares no Brasil hoje.
5. Incidentes na vida de uma garota escrava (Aetia), por Harriet Ann Jacobs
Publicado pela primeira vez em 1861, o livro é uma dos primeiros registros literários de literatura afro-americana escritos por autoras que viveram o terror da escravidão nos EUA. Harriet relata os sofrimentos do dia-a-dia dos escravos nas lavouras, colocando em discussão as práticas abusivas pelas quais passavam, o que poderia ser um registro autoficcional.
6. Léxico familiar (Companhia das Letras), por Natalia Ginzburg
Vinda de família que combateu veementemente o fascismo de Mussolini na Itália, Natalia aborda em seu livro mais conhecido a vida de uma família comum em meio a tempos autoritários. A autora traz como fio condutor a própria infância em uma família judia, passando pela posterior amizade com Cesare Pavese e chegando até a morte do marido no cárcere.
7. Mamãe & Eu & Mamãe (Record/Rosa dos Tempos), por Maya Angelou
Quem conhece a história de Maya Angelou dificilmente poderia acreditar que uma de suas maiores dificuldades foi a relação conturbada com a mãe. Deixada para ser criada pela avó quando criança, a multiartista e revolucionária feminista teve que aprender, na adolescência, a amar sua mãe, a qual posteriormente chamou de “a melhor mãe de uma jovem”.
8. As luas de Júpiter (Biblioteca Azul), por Alice Munro
Vencedora do Nobel de Literatura em 2013, Alice Munro aborda uma família que tem a figura do pai como núcleo familiar e tenta se manter em pé quando o progenitor passa por problemas de saúde. A filha, Janet, então, entra em uma busca constante da aprovação do pai em tudo o que fazia, desejando ser motivo de orgulho para ele.
Todos os dias, milhares de paulistanos passam pelas esculturas de Galileo Emendabili na ida ou na volta do trabalho, da escola e outras atividades cotidianas. Suas obras estão espalhadas em pontos importantes e de alta circulação da cidade, como a avenida Faria Lima, o Parque Ibirapuera e, também, no Cemitério da Consolação.
Uma das obras mais famosas de Emendabili, o Obelisco Mausoléu aos Soldados Constitucionalistas de 1932, está bem de frente para o lago do Parque Ibirapuera. O Obelisco completa, em 9 de junho deste ano, 63 anos da sua inauguração. O monumento é cheio de histórias e fatos que fazem jus a sua relevância cultural para a cidade.
Quem foi Galileo Emendabili
O artista nasceu na comuna italiana de Ancona, em 1898. Com oito anos, ele passou a aprender a entalhar madeira em um atelier sob o comando de um ebanista (marceneiro especializado em Ébano) surdo-mudo. Três anos mais tarde, Emendabili foi descoberto por acaso pelo capelão da Igreja do Santíssimo Sacramento, Don Enrico Ruschioni, que o recomendou para receber uma bolsa de financiamento de estudos para que ele pudesse estudar Belas Artes.
Anos de estudos e viagens mais tarde, o artista gradua-se escultor pela Real Academia de Belas Artes em 1919. Dois anos mais tarde, o escultor, que era liberal e republicano, esculpiu o monumento “Libertà”, que homenageava um jovem assassinado por guardas reais na saída de um teatro. O assassinato mobilizou setores da sociedade insatisfeitos com a violência explorada pelo movimento fascista inaugurada por Benito Mussolini.
Em 1923, durante viagem para Buenos Aires fugindo da repressão de Mussolini, Emendabili foi avisado que havia um complô para seu assassinato. Sabendo disso, o artista desembarcou em 3 de julho daquele ano em Santos e se refugiou junto à comunidade italiana na capital paulista.
Durante sua vida em São Paulo, ele esculpiu mausoléus de membros conhecidos da vida social, como os integrantes da família ítalo-brasileira Bertolucci. Em expansão e com reconhecimento, deu continuidade a sua carreira repleta de prêmios e colaborações à dispersão de esculturas pela cidade.
Entre suas contribuições estão o Obelisco Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932 e a escultura Alegoria da Pintura, no monumento a Ramos de Azevedo.
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Pietà, bronze de 1930.
Maternidade Eslava (Coleção Emanuel Araújo)
monumento memorial à família Bertolucci - Oferenda. Leia mais- https-::www.galileoemendabili.net:biografia-de-galileo-emendabili-vida-e-obra:
Deusa Nikè (Vitória) para o Monumento a Ramos de Azevedo Leia mais- https-::www.galileoemendabili.net:biografia-de-galileo-emendabili-vida-e-obra:
estátua “Anjo”, inspirado no Quattrocento italiano, para o Memorial para a família Bento Ferraz. Leia mais- https-::www.galileoemendabili.net:biografia-de-galileo-emendabili-vida-e-obra:
Curiosidades sobre o Obelisco
O mais alto
O Obelisco têm a alcunha de ser o monumento mais alto da cidade de São Paulo, com 72 metros de altura. Considerando a época de sua inauguração, o monumento de homenagem aos constitucionalistas de 1932 nasceu para evidenciar a grandiosidade da cidade que hoje é a maior do País.
43 anos de construção
Mais de quatro décadas se passaram desde a concepção do projeto por Galileo Emendabili e sua execução, realizada pelo engenheiro alemão Ulrich Edler. A obra só foi concluída em 1970, porém o monumento foi inaugurado inacabado em 1955, dada a comemoração de um ano da abertura do Parque Ibirapuera.
Homenagem aos heróis (ou rebeldes)
O Obelisco é uma homenagem a estudantes e combatentes mortos durante uma tentativa de derrubada do governo provisório de Getúlio Vargas. A história varia dependendo do estado da união em que se estuda os combates de 1932. Em muitos estados é comum que se ensine nas escolas a historia do movimento como “Revolta de 32”, enquanto no estado de São Paulo e no próprio monumento, a ofensiva é comemorada como “Revolução de 32”.
Arquitetura
Há muito simbolismo por trás da construção. Um dos mais simples de se observar é a harmonia entre a arquitetura e as esculturas dentro do mausoléu. O guardião do obelisco, como é conhecida a escultura do combatente que fica no centro da estrutura de olhos semicerrados, por exemplo, está ali para vigiar o local e guardá-lo. Seu olhar foi digīdo para o centro da construção que, por sua vez, tem o formato de um projétil.
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Reprodução TV Gazeta
Guardião do Obelisco do Ibirapuera (Foto- Governo do Estado de São Paulo)
Guardião do Obelisco (Foto- Marcus Oliveira)
Entrada do Obelisco do Ibirapuera (Foto- Matheus Pinheiro de Oliveira e Silva)
Obeslico Mausoléu aos Soldados Constitucionalistas de 1932 - Foto reprodução Governo do Estado de São Paulo
Na ocasião da abertura das exposições do artista León Ferrari em São Paulo e Nova York, organizadas pela Galeria Nara Roesler, foi realizada a conferência León Ferrari: valor de culto e valor de exposição. O evento aconteceu na semana da sp-Arte, no MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, com apoio da feira e da revista ARTE!Brasileiros.
A Fundação Augusto e León Ferrari realiza, desde de 2017, inúmeras atividades internacionais divulgando a obra do artista, que faleceu em 2013.
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Neta do artista e uma das responsáveis pela Fundación Augusto y León Ferrari, a arquiteta Anna Ferrari falou sobre o trabalho de preservação das obras e da memória de León.
A curadora Lisette Lagnado iniciou as apresentações na conferência.
A artista Regina Silveira deu depoimento sobre sua convivência com León.
Regina também mostrou algumas das mais importantes obras do artista.
Diretora do MAMBA, Victoria Noorthoorn falou sobre momentos descontraídos com León.
Victoria também contou sobre a ida do artista à Bienal de Veneza.
Também falou no evento Pablo León de la Barra, do Guggenheim NY).
Palavras Ajenas foi encenado em setembro de 2017 em Los Angeles, na California, durante o Projeto Pacific Standard Times, no teatro RedCat Carlarts. A peça com oito horas de duração foi traduzida pela primeira vez para a língua inglesa e foi encenada ao mesmo tempo que ocorria a exposição do artista, curada por Ruth Estevez, Agustín Diez Fisher e Miguel Lopez. A mostra itnerou para o PAMM – Perez Art Museum Miami e fica em cartaz até 12 de agosto de 2018.
Em paralelo, a obra foi encenada num seminário internacional no Museu Reina Sofia, em Madri, e terá outras apresentações no museu universitário da Universidad Nacional de Colombia, em Bogotá, no dia 22 de maio. Em seguida, ela partirá para o Museu JUMEX, na cidade de México, no dia 2 de Junho.
O visitante pode ver exposições solo na Galeria Nara Roesler em Nova Iorque (22 East 69th Street 3R) e em São Paulo (Av. Europa, 655).
“Não vi arte no espaço carcerário. Vi um problema social, humano, e por esse motivo pensei em fazer um trabalho de arte para refletir sobre essas questões”,
É desta forma que a artista Berna Reale descreve como começou a conectar a arte que faz com o trabalho de perita no estado do Pará. Nascida em Belém no ano de 1956, Berna formou-se em Arte na Universidade Federal do Pará, mas há oito anos também trabalha no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, na capital.
Artista antes de se tornar perita, Berna reconhece a carga trazida para sua arte com o novo ofício: “A perícia que influenciou a arte que eu fazia. Hoje tenho um olhar mais focado em problemas sociais mais do que antes”, comenta. A artista cresceu no norte do país, região que nos últimos anos tem registrado diversos casos que trazem à tona a precariedade do sistema carcerário: “Pelo que vejo ainda temos um longo caminho para que o problema carcerário se resolva, pois a fonte do problema não está nas prisões, não está entre muros, e sim fora deles”, afirma Berna. Para ela, isso era algo que iria estourar em breve.
Apesar da violência ter se enraizado em seu trabalho artístico desde que o trabalho como agente pública começou, também aborda em suas performances, fotografias e instalações outros problemas sociais e políticos que invadem o País. Afinal, Berna acredita que o problema da violência não existe por si só, mas é, sim, um conjunto de calamidades: “Enquanto a educação não for a base e a estrutura social, nada vai mudar. Enquanto não tiver alimentação e saúde básica para a grande maioria da população, vamos continuar enxugando gelo e assistindo rebeliões”. Muitas vezes, confessa, se assustou ao ir trabalhar com cenas de crimes cometidos dentro de presídios, tamanha a brutalidade: “Não é possível que ninguém veja, que ninguém se incomode, que ninguém resolva”, pensava ao sair de locais assim.
Berna Reale, ‘Quando Todos Calam’, 2009.
Ter sido artista antes de perita ajudou Berna a olhar com mais sensibilidade para cenas de crimes, enxergando minuciosidades que transpõe para a arte. O que para muitos poderia ser horrorizante, para Berna também não deixa de ser, mas também se torna um material a ser transformado com o repertório que ela traz. A arte e a perícia, então, se encontram e a artista faz com que o público reflita, muitas vezes com choque, sobre uma realidade muitas vezes pode parecer distante: “A perícia fez com que eu conhecesse a miséria humana, antes eu conhecia a pobreza mas não a miséria”.
A emoção também é parte de tudo o que se relaciona a seu fazer artístico. Mas foi ao realizar uma performance no complexo penitenciário de Santa Izabel, onde no último mês ocorreu uma tentativa de fuga em massa que assustou a região, que Berna encontrou o ápice da comoção. “Um lugar escuro e com uma energia parada, pesada . Uma pessoa aprisionada é uma energia parada carregando seu peso absoluto”, disse.
Naquela ocasião, realizou a performance Americano, percorrendo os corredores escuros da penitenciária com uma tocha. Ela só foi autorizada a entrar na área onde os prisioneiros foram detidos no dia da performance: “Quando sai dali a tristeza me acompanhou por um longo período, pois eu saia e eles continuavam ali em uma vida não-humana”. Berna pontua, ainda, que ver a rebelião ocorrer ali anos depois da realização de sua performance a faz “acreditar que o artista tem as vezes um sentimento anterior”.
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Berna Reale, 'Limite Zero', 2012
Berna Reale, 'Número Repetido', 2012
Berna percorre os corredores da complexo penitenciário de Santa Izabel, na performance Americano, de 2013.
Não é fácil para ela, apesar da longa trajetória nas artes (incluindo uma Bienal de Veneza), lidar com essas questões: “Transpor pra arte esses problemas é o desafio do artista. Eu procuro estudar os elementos conceituais e estéticos que estão inseridos no cenário que o problema social está acontecendo, assim fiz em Americano”, conclui.
No momento, a artista trabalha em três projetos: uma performance na rua que se baseia no encarceiramento, fotografias e instalações sobre a miséria humana e um projeto que desvia de tudo o que já fez no quesito performance. Sobre este último, ela confessa, bem humorada: “Espero não desistir de fazer, pois é um enorme desafio e, às vezes, me pergunto se não é um delírio”. Apesar da dificuldade, se mostra otimista: “Mas não sou uma artista que quer estar numa zona de conforto e pra isso tenho que correr riscos”, conclui.
O processo de vistoria dos edifícios ocupados pelos movimentos de moradia em São Paulo, na perspectiva de melhoria das condições de segurança neles existentes, desencadeado a partir do incêndio e da tragédia associada à ruína do edifício Wilton Paes enseja uma discussão sobre a qualificação dos prédios antigos da cidade. Não se trata aqui dos prédios históricos, mas das edificações construídas há várias dezenas de anos e que não tiveram uma manutenção preventiva adequada.
São Paulo é uma metrópole cujas edificações e estruturas urbanas foram quase integralmente produzidas nos últimos 100 anos – sua população chegou a pouco mais de meio milhão de habitantes em 1920, depois de uma verdadeira explosão de crescimento a partir de 1872, quando tinha cerca de 26 mil habitantes.
Metrópoles como Tóquio, Roma, Londres e Paris passaram por vários ciclos de manutenção e reconstrução e, naturalmente, o conhecimento técnico sobre as reformas e recuperação do patrimônio edificado foi valorizado. Em São Paulo, a construção das novas estruturas foi a iniciativa hegemônica nos últimos 100 anos e a formação técnica dos nossos profissionais se adaptou a esse contexto de grande demanda por novas construções. Tópicos relacionados à recuperação do patrimônio edificado existente, como patologia das construções, técnicas de manutenção e recuperação de estruturas e infra estruturas, melhoria das condições de acessibilidade e segurança de antigas edificações ficaram esquecidos ou relegados ao segundo plano.
A definição de técnicas e normas para produção do novo foi atônica – a manutenção, recuperação e critérios para qualificação do existente não foi prioridade. Benedito Lima Toledo, em seu livro São Paulo, três cidades em um século, descreve como a cidade de barro (taipa e adobe) foi destruída para dar lugar à cidade de tijolos, que por sua vez foi destruída para dar lugar à cidade de concreto que hoje marca nossa paisagem.
Há 100 anos, iniciou-se a rápida multiplicação da construção dos grandes edifícios em São Paulo. E hoje há centenas deles abandonados na cidade, como se houvesse se encerrado sua “vida útil”. A durabilidade de uma edificação depende muito dos cuidados e estratégias de manutenção e recuperação. Sua vida útil pode ser longamente estendida.
A pesquisa realizada por Edmur Arantes nos prédios do bairro de Santa Cecília, por exemplo, mostra a importância das políticas públicas e estratégias de manutenção dos prédios antigos antes que se deflagre sua decadência, que torna muito mais difícil a recuperação.
O ótimo estado de conservação de prédios de alguns séculos existentes no “Velho Mundo” tem a retaguarda de políticas públicas e esforço técnico envolvido na manutenção e recuperação do patrimônio edificado. Do ponto de vista da sustentabilidade é claramente interessante recuperar as estruturas e edificações existentes. Porém um século de prioridade ao “novo” fez com que nos descuidássemos do envelhecimento das estruturas existentes e tem-se hoje um verdadeiro vácuo nas políticas de qualificação do patrimônio edificado.
Faltam relatos de experiências, políticas públicas, conhecimento e orientações técnicas para adaptação e melhoria dessas edificações. A qualificação de uma edificação existente não pode ser um simples processo de “adaptação” às normas técnicas atualmente aplicáveis às novas edificações. Se assim fosse, seria necessário demolir quase totalmente a parte antiga e histórica de Paris.
Ao longo dos últimos oito anos, tivemos oportunidade de levar alunos da graduação e pós-graduação da Universidade Federal do ABC para visitar prédios antigos e abandonados que foram ocupados por movimentos de moradia. Essas visitas foram motivadas pela necessidade de aproximar nossos formandos da realidade da área central da cidade e também das dificuldades enfrentadas pela população de baixa renda para fazer valer seu direito constitucional à moradia.
Durante esse tempo, foi possível acompanhar as iniciativas de limpeza, manutenção, adaptação e recuperação dos edifícios que estavam abandonados e que constituíam um verdadeiro passivo ambiental na cidade, locais que foram transformados pelo esforço dos moradores. Essas iniciativas praticamente não contaram com o apoio financeiro e técnico do poder público. Considera-se que a tragédia recentemente ocorrida enseja a reversão deste quadro, no sentido do apoio técnico e financeiro para a qualificação dos prédios antigos, de forma abrangente e de qualificação dos prédios ocupados pelos movimentos de moradia de forma emergencial.
Além disso, considera-se que são de inequívoco interesse público as políticas voltadas para o estímulo e apoio, tanto para a manutenção preventiva quanto para a recuperação e adaptação do nosso patrimônio edificado.
No caso de São Paulo, por exemplo, isto envolve grande parte das edificações da área central da cidade. Quando a população beneficiária da iniciativa é vulnerável em múltiplas dimensões, esta política assume contornos especiais: inclui a criação de linhas subsidiadas de financiamento, em alguns casos a fundo perdido, para que se façam as obras de qualificação, adaptação, recuperação e melhoria.
Em linhas gerais, essa política inclui a revisão de normas e leis, que precisam melhor contemplar a questão específica de adaptação e melhoria de edificações existentes, na medida em que é absolutamente inviável a aplicação de critérios de novas edificações em processos de qualificação de edificações existentes. Inclui ainda a ampliação do esforço de experimentação e pesquisa, considerando a pequena prioridade dada à área de manutenção preventiva e recuperação predial.
É grande o potencial e também o risco envolvido na iniciativa de vistoria dos prédios ocupados pelos movimentos de moradia em São Paulo. O fato de já termos 28 mil famílias na iniciativa de bolsa aluguel aguardando uma solução definitiva para suas moradias e, ainda, de contabilizarmos mais de 15 mil pessoas em situação de rua evidencia a inviabilidade de processos de remoção dos moradores desses prédios. A remoção pode desencadear riscos ainda maiores que aqueles aos quais essa população vulnerável já está obrigada a vivenciar.
É evidente a importância de uma abordagem que busca a identificação de possibilidades de qualificação gradativa das condições de moradia e de segurança destes prédios. O processo precisa ser gradativo, precisa contar com o apoio técnico e financeiro do poder público, e é fundamental que haja transparência e humildade para reconhecer que não temos uma larga experiência acumulada na melhoria da qualidade e da segurança de edificações existentes, ainda mais neste contexto específico de grande vulnerabilidade e conflito social.
Ricardo de Sousa Moretti é Engenheiro civil, professor titular da Universidade Federal do ABC, aposentado, com atuação no LabJuta- Laboratório de Justiça Territorial, Labgris- Laboratório de Gestão de Riscos e do Programa de Pós Graduação em Planejamento e Gestão do Território. Foi pesquisador e professor do IPT- Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Est. São Paulo e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC Campinas.
Por Giorgia Cavicchioli e Matheus Moreira, especial para Ponte
A estudante negra, que prefere não ser identificada, conta que, quando passou em publicidade e propaganda na Faculdade Cásper Líbero, na cidade de São Paulo, esperava se deparar com algum episódio racista quando pisasse naquele espaço — que, até poucos anos, era quase que exclusivamente branco, como todo o ensino superior do Brasil. “Por ser uma faculdade elitista, eu imaginei que sofreria algo”, diz. O que ela não esperava é que o racismo partisse de uma professora.
Durante uma aula, em 22 de março, folheando o álbum da Copa do Mundo de uma aluna, a professora comentou que na Croácia “só tem gente bonita” e, diante das imagens da seleção da Nigéria, disse que “queria saber como esse aqui faz pra pentear o cabelo, deve ser um ninho”, segundo o relato de alunos. No final da aula, a aluna e seus colegas procuraram a professora para questionar essa e outras falas dela que consideravam discriminatórias. Durante a conversa, a professora negou que fosse racista, disse que não havia racismo no Brasil (“tem até um outro negro na Cásper”) e ainda pôs a mão no cabelo da jovem, alegando “curiosidade”.
O episódio foi levado à direção da Cásper Líbero pelo coletivo de alunos Africásper. Nesta semana, a faculdade demitiu a professora, que não teve o nome divulgado. “Após analisar os apontamentos relatados pelo corpo discente e ouvir as partes envolvidas, a Faculdade Cásper Líbero optou pelo desligamento do docente por uso de expressões e atitudes inadequadas. A Faculdade reforça que repudia qualquer atitude de conotação discriminatória e preconceituosa, seja no espaço público ou privado”, afirmou a direção da faculdade, em nota divulgada nesta quinta-feira (26/4).
‘Um lugar que não é seu’
Episódios como esse têm se mostrado comuns no ambiente universitário, revelando o racismo dos mais escolarizados. Segundo dados obtidos pelo G1 junto à Secretaria Estadual da Segurança Pública de São Paulo, o estado registrou, entre 2016 e 2017, um caso de injúria racial em instituições de ensino a cada cinco dias.
O problema demora a ser percebido porque “parte da população entende que isso não deveria acontecer, porque o universo é composto por pessoas de nível de escolaridade mais elevado”, segundo Jefferson Mariano, doutor em desenvolvimento econômico, analista socioeconômico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), professor universitário e homem negro.
Porém, com o ingresso de mais jovens negros nas universidades e faculdades — de acordo com o Ministério da Educação, desde que a política de cotas virou lei, em 2012, 150 mil estudantes negros ingressaram em entidades de ensino superior no País entre 2013 e 2015 —, a busca dos brancos por defenderem privilégios de raça se torna mais explícito. Na cabeça de muitas pessoas, segundo Mariano, “o negro passa a ocupar um lugar que não é seu”.
Mariano lembra que, no início da carreira, enfrentou casos explícitos de preconceito. “Lecionei no interior de São Paulo em cursos de Administração e já cheguei ouvir afirmações racistas de alunos, foi uma situação bastante complicada. Em turmas de economia, muitos alunos achavam que não havia o menor sentido discutir inserção do negro no mercado de trabalho, por exemplo”, conta. “No meu mestrado tive um problema sério. No fim do curso, uma das minhas notas sumiu. O professor errou, mas foi à secretaria questionar a minha índole. A minha sorte é que a secretária localizou meus trabalhos nos arquivos. O professor não se desculpou.”
Comentários racistas feitos pelo aluno Gustavo Metropolo, da FGV (à direita) | Foto: reprodução
Ainda assim, os ataques racistas no ensino superior são apenas mais um dos vários obstáculos enfrentados por quem, para chegar ali, teve que matar vários leões pelo caminho. “O fato de um menino negro conseguir completar o ciclo do ensino fundamental é um ato heroico”, afirma o professor, para quem “o negro fica sempre com a sensação de que está no lugar errado”. De acordo com estudo do IBGE, realizado em 2015, a porcentagem de jovens negros entre 18 e 24 anos que chegaram até a universidade era 12,8%. Entre brancos na mesma faixa etária a porcentagem é de 26,5%. Números que mostram, portanto, que o acesso de negros ao ensino superior ainda é abaixo da média.
Para um estudante negro chegar ao ensino superior, ele precisa, primeiro, sobreviver emocionalmente às outras etapas do ensino. “O negro sente o racismo na sua vida escolar desde o primeiro dia de aula. Já comentei que o pior lugar para um negro estar, aos sete anos de idade, é na escola. Não há lugar mais hostil”, afirma o pesquisador, que hoje leciona na Faculdade Cásper Líbero e na Saint Paul Escola de Negócios.
‘Racistas vão ter que pagar’
“Achei esse escravo no fumódromo! Quem for o dono, avisa!”, disse um aluno branco, Gustavo Metropolo, estudante da FGV (Faculdade Getúlio Vargas) ao se referir a um colega negro. A frase foi compartilhada em um grupo do WhatsApp com uma foto de João Gilberto Lima. O estudante soube do ocorrido por parte da própria coordenação do curso de administração pública, do qual faz parte. Ao saber o que tinha acontecido, João registrou boletim de ocorrência no 4º DP (Consolação), por injúria racial.
Segundo João, ele sabia desde o princípio que tinha que denunciar o caso formalmente. “Fiquei chocado com o que tinha acontecido, mas o meu maior sentimento foi o de indignação por aquilo estar acontecendo no ambiente da FGV”, afirmou o estudante à Ponte. O agressor foi suspenso por três meses da universidade pela comissão de ética. Atualmente, a congregação da instituição analisa se dará outras punições.
João Gilberto Lima, aluno da FGV | Foto: arquivo pessoal
Segundo João, ele já tinha sofrido outros casos de racismo na vida, mas que nada tinha sido parecido com o que sofreu na universidade. Para ele, é preciso que as pessoas que sofrem com o racismo “tenham a coragem de denunciar”. “Eu não tenho a utopia de achar que as pessoas vão deixar de ser racistas. Eu não vou mudar a cabeça das pessoas nem o que elas pensam, mas a partir do momento que elas externalizarem isso, elas vão ter que pagar por isso conforme está previsto na lei”, conclui.
O racismo à brasileira vem muitas vezes disfarçado de brincadeira. “Aqui no Brasil, as pessoas ofendem a dignidade da população negra dizendo que se trata de piada, mas isso se trata de racismo”, analisa o professor Tiago Vinícius dos Santos, doutor em direitos humanos pela USP (Universidade de São Paulo).
Para que casos de racismo sejam investigados dentro da academia, o professor afirma que é preciso criar um órgão responsável para apurar denúncias. “É fundamental criar um centro de diversidade ou um departamento das universidades”, afirma. Sobre estudantes vítima de racismo, Santos afirma que é preciso que os alunos façam uma denúncia no campo institucional e também nas delegacias. Dessa forma, ele afirma que as denúncias não irão só penalizar aquele que praticou alguma ofensa, mas também irão servir como objeto de reflexão para as instituições.
‘Odeio pretos e pardos’
O que não faltam são instituições acadêmicas precisando refletir sobre seu papel. Em março, um professor do IFSP (Instituto Federal de São Paulo) publicou nas redes sociais um texto, que mais tarde classificaria como mal compreendido, em que proferia uma série de ofensas e concluía: “Odeio pretos e pardos”. Alunos do instituto fizeram a denúncia à diretoria e à reitoria do Instituto e organizaram pelo menos duas manifestações para cobrar a exoneração de José Guilherme de Almeida, que lecionava no curso de Geografia. O Instituto emitiu nota afirmando repúdio ao racismo e prometendo apurar o caso.
Professor apagou perfil nas redes sociais após a publicação | Foto: divulgação/IFSP e reprodução/Facebook
Dois estudantes da instituição relataram perseguições. José Guilherme teria reprovado Christopher de Lima Machado e Fábio Santos Souza em duas disciplinas apesar de ambos os estudantes terem notas suficientes para passar de ano. De acordo com Christopher, “ele faz questão de falar que os bandidos periféricos roubaram todos os Iphones que ele já teve”.
“Tive aulas com ele e é torturante”, diz Fábio. “Ele não aceita confronto de alunos contra as coisas que ele falava em aula. Sempre que havia confronto em sala de aula, os alunos negros sofriam represálias, mesmo que entre os envolvidos também tivessem brancos”, afirma. A Ponte tentou entrar em contato com o professor para que ele se posicionasse sobre os casos e as acusações, mas ele não respondeu às tentativas da reportagem.
Não é fácil para as instituições de ensino superior entenderem as questões relacionadas ao racismo. Em junho de 2017, a estudante de jornalismo Thamires Menezes ouviu de um professor da Universidade Tiradentes (Unit), em Aracaju (SE), que ela não poderia ser âncora de jornal por conta do cabelo afro, estilo black power, que ela usava na época. Thamires denunciou o caso, mas afirma que colegas, professores e direção da universidade começaram a ver a vítima como culpada. O acontecimento levou a aluna a abandonar o curso.
“Ainda estudei durante o período passado, fazendo meus trabalhos sozinha, mas vi que estava pagando faculdade em vão. O professor continua lá, a coordenadora também. O caso no Ministério Público foi arquivado e minha advogada sumiu. O processo nunca aconteceu e pronto. Fui lá tranquei o curso. O pior foi sair do estágio. Eu amava trabalhar lá”, lamenta.
Thamires Menezes e o cabelo que “não servia” para o telejornalismo | Foto: arquivo pessoal
Agora, a estudante mudou de estado para terminar o curso. Há três meses, ela foi para Salvador e afirma que pretende voltar aos estudos no próximo período. Mesmo com o sofrimento que passou, ela afirma que encara tudo como um “novo desafio”.
Sobre o episódio, a Unit afirma que não houve racismo. “O ocorrido se deu em uma dinâmica comum de sala de aula, quando os alunos e professor discutiam sobre resumos da área de Comunicação que abordam acerca da postura do profissional em bancadas de telejornais, sem expressar qualquer opinião pessoal sobre a matéria. (…) Portanto, ficou constatada a inexistência de qualquer manifestação depreciativa, forma de discriminação ou preconceito, por qualquer motivo (sexo, idade, cor, preferências, convicções, etc.) por parte do professor em relação a aluna em questão”, afirma a universidade em nota. A Unit diz que “os fatos foram apurados internamente (pelos setores de Ouvidoria, que registra as reclamações, e Comissão de Ética, que atua na apuração das denúncias envolvendo docentes e discentes), pela autoridade policial de Sergipe e outros órgãos estatais, no âmbito de suas competências processuais”, sem que o crime fosse constatado.
Luta e vitória
Para Larissa Mendes, aluna da Escola Politécnica, unidade da USP que em 121 anos de existência formouapenas sete mulheres negras, o preconceito se manifestou de formas menos diretas. “Dentro da Poli o racismo se dá quase que da mesma forma que o Brasil como um todo: ninguém é diretamente racista”, conta. “Eu nunca ouvi nenhum comentário evidentemente racista, mas, sempre que eu descia do circular na Poli, as pessoas iam me empurrando, porque na cabeça delas eu não faço parte do perfil de pessoas que desce no ponto de ônibus da maior faculdade de engenharia do país.”
Larissa faz parte da Poli Negra, coletivo que impulsionou a discussão sobre cotas na faculdade, obrigando os alunos de lá a enxergarem que havia uma questão racial a ser debatida. “Até então, por mais que um ou outro aluno pobre e negro falasse alguma coisa, as pessoas achavam normal olhar pros lados e só ver gente igual a eles: brancos, ricos, vindos de bons colégios”, diz. Realizando diversas reuniões com os centros acadêmicos, a Poli Negra conseguiu impulsionar um plebiscito que, em 2017, apontou que 70% dos alunos apoiavam as cotas. No mesmo ano, quando o Conselho Universitário da USP aprovou a implantação de cotas sociais e raciais. “Foi uma vitória imensa”, conclui.