Foto: Leonor Amarante

A mostra 50 Anos de Realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual – parece impor a ideia de que a natureza não é mais que uma projeção dos homens. Montada no Centro Cultural Banco do Brasil, arquitetura que criticamente pode operar com o conceito de panoptismo,
(vigilância total e contínua) a coletiva internacional se move com formas significantes de escultura, pinturas, fotografias, vídeos e realidade virtual.

Realismo 

O realismo pode ser considerado um refresco para o espectador que ainda não digeriu a complexidade e as “esquisitices” da arte contemporânea. As instalações realistas e hiper-realistas representam aparentemente uma sociedade alegre, divertida, envolvida em uma sinalização do tempo de ócio. As referências iconográficas da coletiva não são casuais. A curadora Tereza de Arruda, que vive em Berlim há mais de 30 anos, foi buscar obras com algum ímpeto político social, como a instalação Springtime, de Peter Land, e outras com o portrait de Simon Hennessey, sem deixar de lado o sofrimento e a ternura como em Mother and Child, de John De Andrea.

Foto: Leonor Amarante

O conjunto de 93 obras, de 30 artistas, sugere um percurso que começa com as pinturas das décadas de 1970 e 80 que retratam, com precisão fotográfica, o American Way of Life. Destacam-se o britânico John Salt e o americano Ralph Goings, cujas telas exibem estacionamento de trailers, caminhonetes e as tradicionais mesas de lanchonetes de cidadezinhas do interior americano com jarros, saleiros e ketchups. Todas encontram lugar no espaço e no tempo da história americana.

O escultor americano John De Andrea, um dos artistas mais importantes da mostra, com Christine, recompõe seu imaginário, em uma escultura hiper-realista de mulher nua
em bronze policromado, que funciona como marco no espaço interno da sala, rodeada de um certo número de obras distribuídas de acordo com relações angularmente determinadas. De Andrea é um dos artistas americanos que caíram no gosto de Harald Szeemann, que o expôs na quinta edição da Documenta de Kassel, na Alemanha, em
1972, quando o crítico suíço deu Norte à exposição, transformando-a no que ela representa hoje no mundo das artes: respeito e poder. Na mostra alemã ele chamou a atenção com Arden Andersen e Nora Murphy, escultura hiper-realista de um casal “transando”. Os personagens de De Andrea, cuja teatralidade se impõe, são uma extensão tridimensional de suas pinturas. Em Kassel, ele se apresentou com algumas estrelas do mercado como Georg Baselitz, Christian Boltanski. Marcel Broodthaers, Dan Graham, Christo e Jeanne – Claude, cujos trabalhos contrastavam com o seu realismo.

Na mostra paulistana há obras com realismo estático, mas com referência a uma ação performática, como a instalação do dinamarquês Peter Land, um braço soterrado pedindo socorro. A história dos espaços expositivos é a de como as diversas formas de instalações
modificaram nossa percepção do que vemos, dependendo do contexto de onde são montadas. Land brinca com o paradoxo do que é exposto e o que é escondido. Em outro
trabalho ele elimina um corpo, supostamente masculino, o coloca atrás de uma cortina escura e só deixa à mostra a ponta dos sapatos. Ele trabalha o conceito de lugar
transitivo que poderia estar em qualquer outro espaço. A singularidade não é própria desta mostra em que convivem tantos elementos díspares. O que a exposição parece buscar, em sua diversidade, é colapsar a materialidade dos suportes utilizados. As pinturas realistas usam imagens que já deixaram de ter interesse próprio e que funcionam como notícias de seus momentos. Funcionam também como testemunhos do poder que imagens cotidianas podem alcançar.

A série de fotos hiper-realistas é chave da historicidade da mostra como memória, mas o marco zero são as pinturas com precisão fotográfica das décadas de 1970 e 80. Cada
obra tem a capacidade de ser um objeto individual, carregado ora de limpeza formal, ora de leviandade, ora de formalidade ou simplesmente de kitsch. No realismo, o campo de fricção é amplo como mostra o argentino, residente em Londres, Ricardo Cinalli. O tema é amplo e se espraia entre naturezas-mortas, paisagens urbanas e rurais e uma série de retratos, muito próximos de fotografias ampliadas, caso das obras dos britânicos
Simon Hennessey e Paul Cadden. As novas mídias emergem nesse realismo de cinco
décadas. O artista alemão Felix Kraus, autor das pinturas The Beginning of the End of The World e Cutting Sunday, se aproxima da realidade virtual, ao envolver suas telas
numa projeção 3D, transformando-as em cenas fantasmagóricas. Essas distorções entre ficção e realidade são evidenciadas não só na The Swan Collective, de Kraus, como em outras. A linha tênue entre o real e o ficcional torna-se mais forte nas pinturas realistas do
alemão Sven Drühl cujas imagens foram extraídas a partir de frames de videogames.

Com esse conjunto, vindo de colecionadores de vários países, a curadora tenta descobrir até que ponto as pessoas vivem no que ela chama de realidade crua. “Quis trazer a
discussão para o nosso tempo e, por isso, decidi que a exposição começaria no fotorrealismo e chegaria à realidade virtual”. Para cumprir o enunciado Tereza de
Arruda pensou em um local onde pudesse, espacialmente, desenvolver sua tese, daí a escolha do prédio do CCBB.

Serviço

Exposição 50 Anos de Realismo: do Fotorrealismo à Realidade Virtual
De segunda a domingo das 09:00h às 21:00h. Fecha às terças-feiras.
Centro Cultural do Banco do Brasil – CCBB São Paulo – Rua Álvares Penteado, 112
Até 14 de janeiro de 2019


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