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ENTREVISTA CÉLIA TUPINAMBÁ
Selecionada para representar o País na 60ª Bienal
de Veneza, em 2024, artista indígena baiana
intensifica resgate do simbolismo do manto
ritualístico de seu povo que será devolvido ao
Brasil pela Dinamarca após quatro séculos
por jotabê medeiros
CÉLIA TUPINAMBÁ REATA
UM FIO DE 400 ANOS
na 60ª bienal de veneza, na Itália, a partir de 24 de abril
do ano que vem, o Brasil será representado por uma obra
da artista visual, cineasta, escritora, antropóloga e pes-
quisadora baiana Glicéria Tupinambá, conhecida como
Célia Tupinambá. Célia vai levar a Veneza a exposição Ka’a
Pûera: nós somos pássaros que andam, de Glicéria Tupi-
nambá e convidados, com curadoria de Arissana Pataxó,
Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana. Ka’a
Pûera é como se designa uma grande área de mato que
está em processo de regeneração após uma queimada
ou utilização como lavoura ou pasto.
A mostra na Itália prevê também que o Pavilhão do
Brasil nos Giardini della Biennale seja renomeado para
Pavilhão Hãhãwpuá (nome Pataxó que era usado para
descrever o Brasil antes do avistamento português).
Segundo a Fundação Bienal de São Paulo, a mostra
de Célia Tupinambá a ser instalada na Itália aborda
“questões de marginalização, desterritorialização e
violação dos direitos territoriais, convidando à refle-
xão sobre resistência e a essência compartilhada da
humanidade, pássaros, memória e natureza”, o que a
integra ao tema geral da 60ª Exposição Internacional
de Arte – La Biennale di Venezia: Foreigners Everywhe-
re (Estrangeiros em toda parte).
Nascida em 1982 na aldeia Tupinambá da Serra do
Padeiro, em Olivença, no Sul da Bahia, Célia é mes-
tranda em Antropologia pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro e encabeçou as negociações para
FOTO: NATÁLIA CORRÊA repatriar ao Brasil, em 2024, o Manto Tupinambá, que se
encontra atualmente no Museu Nacional da Dinamarca,
em Copenhague. Durante a colonização do Brasil, os
mantos dos Tupinambá viraram objetos de escambo, Glicéria Tupinambá
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