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últimos anos no Brasil, a maior parte dos projetos trazia   de homofóbicos”. Na ação, que terá início no centro de
            um conteúdo político e ativista muito intenso. Com a   Fortaleza e será finalizada na Pinacoteca, os performers
            mudança que houve de 2022 para 2023, a gente sentiu   irão distribuir panfletos de divulgação da clínica fictícia,
            uma transformação no conteúdo dos projetos. Essa   juntos a uma caixa de som portátil que toca um jingle
            edição é não apenas mais abrangente em termos de   do estabelecimento, em looping.
            territorialidade, porque ela se espraia para Fortaleza,   A recorrência de convidados, explica Samantha,
            mas também em termos de suas temáticas, que são   tem uma razão de ser. A seu ver, são artistas funda-
            mais abrangentes e universais”.                  mentais dentro dessa prática, e a Verbo, além de ser
               Como exemplo da maior pluralidade de conteúdos   um festival anual de performances, “é um processo
            que a 17ª edição da Verbo abarca, Gallon cita a artista   de formação e pesquisa também, que acompanha a
            dinamarquesa Lilibeth Cuenca Rasmussen, cuja perfor- evolução do trabalho desses artistas, algo que, por
            mance vai questionar qual o papel do turista no mundo   sua vez, cria expectativa junto ao público de revê-los”,
            pós-pandêmico, se é mero observador ou interfere. E  diz. Para a curadora, essa continuidade também faz da
            ainda o trabalho da artista mexicana Tania Candini, um   mostra uma referência no segmento, “um patrimônio
            nome recorrente da mostra, que atua muito com as   de memória sobre a prática da performance no Brasil
            questões da mulher nos dias de hoje, e vai se apresentar  e fora dele também”.
            na Galeria Vermelho, em São Paulo.                 Samantha também comenta a programação de
               “Ela vai apresentar uma ação que é um coro de   São Luís, cuja produção ela naturalmente acompanha
            mulheres que emite os sons de fêmeas de animais em   mais de perto. Na capital maranhense, ela ressalta o
            situação de alerta, de vigilância, de defesa territorial, de   desejo de se criar um fluxo entre artistas locais e de fora,
            acasalamento”, conta o curador. “Ela está apontando   entendendo a programação como algo não somente
            para um universo que não é humano, uma discussão   voltado para o público, mas também para o processo
            superpertinente, porque cada vez mais se discute os   formativo dos participantes.
            direitos da natureza”.                             “Aline Motta e Yhuri Cruz, ambos do Rio, têm pes-
               A lista de artistas convidados tem ainda nomes como   quisas muito próximas com o Maranhão. E eles não
            Aline Motta (RJ), Yhuri Cruz (RJ), André Vargas (RJ), a   vão apenas para realizar as performances, ficam um
            dupla Eduardo Bruno e Waldírio Castro (CE), Elilson (PE),  tempo expandido, que possibilita a gente criar outras
            entre outros. Sobre Bruno e Castro, Gallon destaca que   redes, amarrações e vínculos, fomentar a produção
            eles têm “um trabalho muito potente em Fortaleza e vão   local. Muitos desses artistas desejam esses encontros,
            fazer uma performance chamada Clínica de reabilitação   essas pontes”, conclui.



































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