Page 56 - ARTE!Brasileiros #58
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CENTENÁRIO SEMANA DE 22 REPORTAGEM






                  REPENSANDO O


                  MODERNISMO A PARTIR


                  DA SEMANA DE 1922





                  Centenário celebrado
                  este ano amplia debate
                  sobre as vanguardas,
                  relativiza a centralidade         muitas vezes Celebrações De efemÉriDes são mera formalidade.
                                                    Mas no caso da Semana de Arte Moderna essa rememoração é incon-
                  do evento paulistano e            tornável. Afinal, se continuamos mirando para aquele passado depois de
                  estimula discussão sobre          tanto tempo, é porque algo dele sobrevive e nos faz pensar não apenas
                  os desdobramentos e               sobre nossas raízes, mas sobre como elas ajudam a definir nosso futuro.
                  efeitos do movimento              Há nestes festejos em torno dos 100 anos do evento algo de singular, um
                  no tempo e no espaço              desejo de entender melhor seu significado. E há também uma espécie
                                                    de ansiedade, de desejo de reavivar uma fagulha que nos ajude a ilumi-
                  por maria hirszman                nar o presente, encontrando algum alento que nos auxilie a enfrentar a
                                                    angústia e a paralisia contemporâneas -  buscando com um misto de
                                                    nostalgia e cansaço entender e defender projetos transformadores,
                                                    que desafiaram as regras e se propuseram a abandonar os ranços
                                                    passadistas em busca de novos modelos de pensamento e produção.
                                                       A lista de encontros, exposições, lançamentos de livros e revistas que
                                                    giram em torno do encontro de três dias realizado no Theatro Municipal
                                                    de São Paulo em fevereiro de 1922, que com o tempo foi se transformando
                                                    no mito fundador da modernidade nacional, é enorme. E só faz crescer.
                                                    São inúmeros os enfoques adotados e é um alívio que neste centenário
                                                    haja pouco espaço para olhares congelados e meramente laudatórios. É
                                                    verdade que tal profusão de estudos e apresentações deixam margem
                                                    tanto para debates de fôlego como para briguinhas bairristas que há
                                                    muito estão ultrapassadas, mas que funcionam como iscas de clicadas
                                                    e likes nesse nosso mundo de belicismos digitais.
                                                       O contraste entre o volume de pensamento contido nas mostras,
                                                    catálogos e antologias e o aspecto raso com que a grande mídia vem
                                                    tratando a efeméride é gritante, pois o pouco que se viu na imprensa
                                                    sobre o tema é eivado de erros históricos, chamados usualmente de fake
                                                    news, que perpetuam equívocos largamente repetidos como a suposta
                                                    participação de Tarsila do Amaral na Semana (ela estava em Paris e só
                                  Capas dos         se aproximou do grupo posteriormente) ou então a conspiratória ideia
                                  livros Semana     de que as vaias ouvidas durante as apresentações no Municipal teriam   FOTOS: DIVULGAÇÃO | CORTESIA CASA ROBERTO MARINHO
                                  de 22: Antes
                                  do Começo,        sido claques contratadas pelos próprios artistas para valorizar suas
                                  depois do fim,    performances, algo que lembra as manipulações cotidianas dos tempos
                                  O guarda roupa    contemporâneos e que foi desmentido com veemência por Oswald de
                                  modernista e      Andrade em Diário Confessional, obra reeditada pela Cia. das Letras
                                  Modernismos
                                  1922-2022         junto com outras obras de sua autoria.

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