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ARTIGO ÉTICA NA ARTE
À frente, Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste, de Jonathas de Andrade, ao fundo obras
de Candido Portinari, Almeida Junior e Paulo Nazareth, na Pinacoteca do Estado de São Paulo
artistas etnógrafos discurso de esquerda, mesmo que a pena lutar. Chico Mendes disse
Em um texto já clássico de 1995, no final seus trabalhos acabem que ‘ambientalismo sem luta de
O artista como etnógrafo, Hall rendendo apenas a ele de fato. classe é apenas jardinagem’.
Foster constatava nas práticas Esse tipo de estratégia já foi Talvez arte sem luta de classes
artísticas o surgimento de uma criticado por artistas como o seja apenas decoração.”
estratégia de associação a um argentino León Ferrari (1920-2013). Nesse sentido, uma
novo sujeito: “O outro cultural e/ Ao abordar o artista “engajado”, significativa mudança de atitude
ou étnico, em nome de quem o ele afirmou que “o triunfo de suas pode ser o posicionamento
artista engajado luta”. obras significou o fracasso de do artista: ao invés de lutar “em
No fim do século 20, Foster suas intenções”, no texto A arte nome de alguém” que ele lute
ainda não tinha dado conta de dos significados, de 1968. “com alguém”, como fizeram FOTOS: LEVI FANAN / PINACOTECA DE SÃO PAULO | CORTESIA DOS ARTISTAS
que lutar em nome de alguém Algo semelhante defendeu Bárbara Wagner e Benjamin
representava um posicionamento o crítico Hrarg Vartanian de Burca no pavilhão brasileiro
por um lado paternalista, já que recentemente, em sua conta no da Bienal de Veneza, em 2019,
é como se o artista pudesse se Instagram: “Um mundo da arte com o filme Swinguerra.
colocar no lugar da causa que que se beneficia das Baseada em um fenômeno
defende, e, por outro, oportunista, desigualdades econômicas não é cultural periférico, a swingueira
afinal ele se legitimava com um um mundo da arte pelo qual valha pernambucana, a obra envolveu
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