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ENTREVISTA VIVIAN OSTROVSKY











                        Pioneira na distribuição de filmes de mulheres na França e
                        cineasta há mais de quatro décadas, Ostrovsky fala sobre seu
                        olhar acerca do cinema, sua amizade com a artista Ione Saldanha
                        e o recente trabalho de curadoria para a Scratch Collection

                        por miguel groisman




            O MERGULHO


            EXPERIMENTAL DE


            VIVIAN OSTROVSKY








            prolífiCa Cineasta experimental, Vivian Ostrovsky,  colagem e o cinediário. Nas palavras da escritora Juliet
            76, carrega mais de 30 filmes na sua bagagem. Nascida  Jacques, o trabalho de Ostrovsky apresenta a dialética
            nos Estados Unidos, depois de ter passado a infância   como um elemento recorrente, seja entre imagem e som,
            no Rio de Janeiro, iniciou estudos na Europa. Foi lá, na   culturas e ideologias, ou passado e presente.
            França, que junto com Rosine Grange, nos anos 1970,   Recentemente, ela foi responsável pela programação
            fundou a organização pioneira Ciné-Femmes Internacio- da segunda edição do Festival Scratch Collection, orga-
            nal, dedicada exclusivamente à promoção, distribuição e   nizado pela distribuidora de filmes experimentais Light
            exibição de filmes realizados por mulheres. Tudo isso em   Cone, para o qual selecionou filmes de 33 realizadoras
            um modo guerrilha, viajando com os rolos de filme em   mulheres, vindas de 14 países e diferentes gerações, dos
            uma caminhonete Renault 4L e circulando pela França   anos 1940 à contemporaneidade. A arte!brasileiros
            e pela Europa para mostrá-los, em um tempo em que   conversou com a cineasta sobre o evento, o cenário do
            os distribuidores - todos homens - não queriam tocar  cinema experimental e sua amizade com Ione Saldanha,
            em filmes de realizadoras. Ainda em 1975, Ostrovsky   artista gaúcha conhecida pelas pinturas em carretéis,
            foi uma das responsáveis pelo simpósio internacional   ripas e bambus e cujo trabalho lida com questões como
            Women in Film, sob tutela da unEsco, e que reuniu   a quebra da moldura e a conquista do espaço pela cor,
            nomes como Susan Sontag; Agnès Varda; Chantal   segundo Adriano Pedrosa, curador responsável pela
            Akerman - de quem foi grande amiga e à qual dedica But   homenagem a Saldanha que ocorre agora no Masp.
            elsewhere is always better -; e Mai Zetterling, cineasta
            sueca da qual está organizando uma retrospectiva nos    – Sendo você uma cineasta, mas também
            dias de hoje.                                   distribuidora de filmes e programadora de festi-
               Utilizando-se de found footage (imagens encon- vais, como ocorre esse cruzamento entre ofícios?
            tradas, sejam de arquivo ou não) e dos seus próprios   Em que momentos você percebe um empréstimo
            filmes caseiros, Ostrovsky acabou criando sua própria   entre a realizadora dos seus próprios filmes e a
            linguagem, a qual o cineasta e crítico Yann Beauvais   responsável por selecionar os de outras autoras?
            apelidou de “journal-mosaic” (diário mosaico), uma   Vivian Ostrovsky – São três atividades em épocas
            junção de dois gêneros do cinema experimental, a vídeo   diferentes também. Eu comecei com a função de

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