Page 73 - ARTE!Brasileiros #57
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Algo semelhante ocorre com a mostra Maria Martins: programa criado por João Fernandes, e é digno de nota
desejo imaginante, que pode ser vista no museu até 30 que ele repasse a mostra para uma equipe brasileira
de janeiro de 2022. Entre os modernistas brasileiros, composta por Hélio Menezes e Raquel Barreto, na
Maria Martins (1894-1973) é figura chave ao tropicalizar curadoria, e Isabel Xavier, no projeto expográfico.
o surrealismo e a mostra no masp é repleta de obras Com muitos trabalhos comissionados, a exposição
exemplares. Contudo, ao dispor as esculturas em bases apresenta a obra de Carolina de Jesus de forma comple-
brancas com fitas que ainda criam um distanciamento xa, criando muitos diálogos entre textos e imagens, às
das obras, remete à sociedade de controle, sem buscar vezes até dificultando a identificação de seus autores e
saídas criativas para manter a necessária segurança autoras, mas no final criando um ambiente que poten-
das obras. A opção pelo óbvio é uma forma de reduzir cializa a obra da homenageada. Ela é vista, afinal, em
a potência das obras. A divisão dos ambientes por cor- uma perspectiva da cultura, que não se utiliza apenas
tinas parece ainda uma cópia da cenografia de Ludwig da literatura e artes plásticas, mas inclui ainda moda e
Mies van der Rohe e Lilly Reich para a exposição The carnaval, incluindo aí o histórico desfile da Mangueira
Velvet and Silk Café (o café de veludo e seda), realizada de 2019, Histórias para ninar gente grande.
em Berlim há nada menos que 94 anos. Em um momento em que preconceito e racismo
Ao menos na mesma avenida Paulista, o Instituto ganham ares institucionais, a exposição em sua forma
Moreira Salles homenageia outra mulher, no caso a e conteúdo é corajosa, seguindo o que a própria autora
escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), de forma defendia: “A vida não é para covardes”. Criar o ambiente
muito mais digna. Trata-se da primeira exposição do correto para exposições também não.
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