Page 49 - ARTE!Brasileiros #57
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Cícero Dias, Eu vi o mundo…Ele começava
no Recife, 1926, 1200 cm x 198 cm
a exposição enfatiza alguns dos aspectos mais marcan- Apesar das dificuldades decorrentes da pandemia,
tes desse ímpeto modernizante: a adoção de temáticas e que tornou muito mais difícil a pesquisa e a obtenção
linguagens novas, desprezadas no passado oitocentista. dos empréstimos das obras, foi possível reunir um
Destaca-se um olhar atento para a cena local, seja por conjunto bastante significativo de trabalhos. Pro-
meio de registros do ambiente rural, seja na atenção positalmente, não há uma divisão clara entre os três
crescente à renovação e expansão urbana vivenciada núcleos centrais da exposição (pré-modernismo, a
nas grandes cidades, bem como a incorporação cres- Semana e os desdobramentos do movimento nos anos
cente de modos de pintar, esculpir e fotografar muito subsequentes). Como num fluxo livre, a montagem
mais próximos das experimentações de vanguarda que permite ao visitante acompanhar, sem rigores didáti-
já há algum tempo sacudiam a arte europeia. Como cos, alguns pontos altos da produção do período. Ora
explicam as curadoras Aracy Amaral e Regina Teixeira os trabalhos selecionados têm uma força individual
de Barros, nota-se claramente no período um desejo de potente e catalizadora, ora representam de forma
renovação, uma vontade de se reconhecer nessa nova sintomática eventos centrais do período abordado,
produção e uma alteração dos anseios no Brasil após como a disruptora entrada do expressionismo pelas
a queda do Império. “Queríamos comemorar o Brasil telas de Anita Malfatti, na pioneira exposição de 1917;
recente, o Brasil novo”, sintetiza Aracy. a já citada Semana de 22; ou o também célebre Salão
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