Page 20 - ARTE!Brasileiros #57
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MERCADO BALANÇO 2021



            os ingressos disponibilizados, e contou com 40 mil   que sabe o que gosta, que já vem com material para
            acessos em sua versão virtual. Para a Gomide & Co., a   iniciar o diálogo. Acho que isso também tem muito a ver
            feira apresentou um dos melhores resultados do ano. A   com a internet, com esse enorme acesso à informação”.
            Verve Galeria vendeu 95% do primeiro acervo exposto  Tem a ver também, segundo Perlman, com a expansão
            e a Portas Vilaseca vendeu a totalidade de obras sele- de uma rede de profissionais qualificados voltados a
            cionadas antes mesmo do fim do evento. A ArtRio, por  apoiar este mercado, desde os chamados art advisors e
            sua vez, contou com 14.500 pessoas na versão física e,  avaliadores até os catalogadores e restauradores, entre
            pouco após a edição, anunciou sua expansão em uma   outros. “Ou seja, toda uma infraestrutura de serviços
            nova empreitada: a ArtSampa, uma feira em território   que facilita o crescimento do mercado”, explica.
            paulistano com data já marcada para março de 2022.  Segundo Brenda Valansi, o impacto desta geração
               Cabe, porém, destacar que ambas as feiras - assim   mais jovem foi sentida na ArtRio de 2021, e se relaciona
            como as internacionais - aconteceram de forma mais   também a uma produção mais engajada no país: “O que
            local, com menos expositores e visitantes estrangei- eu percebo que acontece no mercado, em decorrência
            ros, em decorrência das dificuldades de trânsito entre   do contexto político e social, é uma mudança na escolha
            países provocadas pela pandemia. Outras alterações   dos artistas e dos assuntos tratados, que acompanham
            de público também foram notadas, não só nas feiras,  as discussões que estão acontecendo na sociedade.
            mas na cena artística como um todo.             Junto a isso, há um fortalecimento de um colecionismo
                                                            ativista, uma preocupação do colecionador em ser mais
            entre ativismo e finanCeiriZação                socialmente atuante, e isso se dá muito fortemente com
            Mesmo sendo um movimento já perceptível ao longo   as novas gerações. Então o mercado precisa também
            dos últimos anos, o período pandêmico viu se intensi- estar atento e oferecer outros caminhos”. Em uma escala
            ficar a entrada de novos compradores no mercado de   global, o foco internacional na arte latino-americana e
            arte, especialmente jovens, alguns dispostos a ter uma   produzida por grupos minorizados - negros, indígenas,
            postura mais “ativista”, outros interessados em fazer  mulheres ou população lGBtQia+ - também favorece o
            negócios. Este movimento, verificado globalmente,  mercado brasileiro. Servem como exemplo - em uma
            inclui especialmente os chamados millenials - gera- faixa mais elevada de preços - a venda realizada pela
            ção que tem hoje entre 20 e 40 anos -, como mostra a   Gomide & Co. para o Guggenheim de Abu Dhabi, em
            pesquisa da Art Basel e uBs: “A mudança para o digital   2020, de uma obra de Lygia Clark por cerca de R$ 10
            trouxe melhorias na transparência de preços, acesso   milhões; ou a transação recente, em leilão da Sotheby’s
            a informações e aos artistas. A redução das barreiras   Nova York, de um autorretrato da mexicana Frida Kahlo
            de entrada no mercado permite o desenvolvimento   por quase R$ 200 milhões - valor recorde para uma obra
            de uma base mais ampla de novos colecionadores em   de artista latino-americano.
            diferentes níveis de preços”, diz o relatório.     Mas há ainda uma parcela cada vez mais significativa
               Ao menos parte dos galeristas brasileiros percebeu   de compradores, como revelam pesquisas nacionais e
            este movimento em seu dia a dia. “Houve um cresci- internacionais, que está pouco - ou nada - preocupada
            mento de compradores de 35 a 45 anos. Não foram   com o conteúdo dos trabalhos, mas apenas com a arte
            apenas os colecionadores tradicionais que alimentaram   enquanto investimento financeiro. Perlman, ao analisar
            o mercado de arte neste período, mas sim novos. Ou   dados divulgados este ano pela consultoria Deloitte,
            talvez pessoas que nem sejam ainda colecionadores,  explica que há um grupo crescente de compradores
            mas novos compradores com potencial de se tornar  mais jovens, “ligado a tudo que é digital, inclusive arte
            colecionadores”, afirma o galerista Murilo Castro. Gomi- digital”, que entra no mercado para fazer negócios, ou
            de e Strina, que trabalham com obras em faixas de   seja, comprar e vender obras com relativa velocidade,
            preços mais elevadas, também perceberam a mudança,  não colecioná-las. Surgem cada vez mais, neste sentido,
            por mais que ressaltem que a manutenção dos velhos   tipos de operações em que o comprador nem mesmo
            compradores seja essencial.                     se torna dono da obra, mas apenas de uma fração do
              “É um público consistente e que já chega com muita   trabalho, como quem compra ações na Bolsa de Valores.  FOTO: ANGELA WEISS / AFP VIA GETTY IMAGES
            informação”, relata Cravo, atuante há 40 anos no merca-
            do. “Até os anos 1990 sinto que a gente precisava informar  a DesigualDaDe Que não afeta o merCaDo
            muito mais o novo cliente, que vinha com vontade, mas   Para Thais Darzé, essa relação da arte como investi-
            muito cru. Hoje você observa o jovem que já pesquisou,  mento talvez seja um dos motivos que leve os anos de

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