Page 39 - ARTE!Brasileiros #56
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cada vez mais. A casa entra na exposição como um tecendo um tubo feito de 2000 a 2010, bem simbólico
lugar de acolhimento. “A Poltrona Tentáculo de Ovo, desse período.” Um fio sobe e desce lentamente na
de Raphaela Melsohn, é fruto da pandemia, está ligada cadeira onde ela fez o trabalho, sentada. A ideia foi
ao ato de criar dentro de sua casa num espaço mais reunir artistas mais jovens, na média de 30 anos, ao
aconchegante”. Há claramente uma tentativa de dis- lado de outros com 50 ou mais, como os consagrados
solver o congelamento de nossa relação com o objeto. Maiolino e Jorge Macchi, ampliando os limites do pos-
“O rolinho de espuma preso à cadeira tem mais de oito sível e confrontando a legitimidade estética atemporal.
metros, são grandes tentáculos vindos do acolhimento O sistema de arte mudou bastante nas últimas déca-
de uma tv com uma música e que conversa com os das e novas galerias surgem constantemente na cidade.
neoconcretos da Magdalena Jitrik.” Esta obra, quase No passado, tudo girava em torno da Bienal de São
hipnótica, convida o visitante a entrar dentro dela e Paulo, hoje os colecionadores, críticos, diretores de
dialoga com a ideia do ovo da Lygia Pape, exposto no museu chegam regularmente ao Brasil, durante todo o
mesmo ambiente. ano. “Eles primeiro vão a Inhotim, depois seguem para
Instalada logo na entrada, a escultura de Anna Maria São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro, em um
Maiolino se ergue elegante e ereta como uma planta movimento vivo e constante”, comemora Marli.
ou uma espada, apontando para o universo como o
epicentro de uma circularidade. Para Marli, as bolhas
siderais trouxeram a ideia de como esse cosmo todo
foi trazendo uma consciência diferente. “Cada artista Na página anterior, Poltrona tentáculo de ovo, 2020,
tem algo dentro de si. A Adriana Aranha faz crochê que de Raphaela Melsohn; nesta página, à esquerda,
Sem Título, 2021, de Anna Maria Maiolino; à direita,
demanda um tempo de espera, de construção circular, Pedras bordadas (botão), 1998, de Ana Linnemann
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