Page 35 - ARTE!Brasileiros #56
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das mais variadas regiões do país incluem nomes popular e aCessÍvel
como Adalton, Mestre Vitalino, Noemisa Batista, Nhô Popular em seu conteúdo, o novo Museu Pontal pretende
Caboclo, Gto, Mestre Didi, Ciça, Dona Isabel, Louco, ser popular também para o público visitante. Para além
J. Freitas, Manuel Eudócio, Nino, Sólon, Saúba, Zé da praça aberta, o pagamento de ingresso será sugerido,
Caboclo e Maria Amélia. Com mais espaço expositivo, mas não obrigatório, e a instituição pretende ter sua
a nova sede apresentará um número maior de obras sustentabilidade econômica pautada mais na ideia de
destes e de outros artistas, por vezes em setores engajamento do que na bilheteria. Se soa utópico, foi
monográficos, por outras em áreas temáticas. assim que o museu conseguiu se reerguer ainda na
Em um primeiro momento, ganham destaque salas velha sede e terminar as obras para a inauguração do
com os títulos: “Mundo Brincante”, com obras intera- novo espaço. Segundo Lucas, para além dos apoios
tivas e cinéticas, teatro de bonecos e jogos digitais; de empresas privadas e estatais, centenas de pes-
“Vale do Jequitinhonha, Minas - a força da terra”, com soas participaram das campanhas bem sucedidas de
debates sobre a dimensão matérica dos trabalhos e financiamento coletivo promovidas nos últimos anos,
sobre o termo “tradição”; “Mar, Rio, Fogo e Ar”, onde resultando também numa rede de apoio ao museu que
surgem antológicas esculturas em barro, barcos do segue ativa e articulada.
Rio São Francisco, seres mitológicos e obras eólicas; e, A rede de apoio se torna ainda mais importante, segun-
por fim, “Poética da criação e as redes de apaixonados do os diretores, num contexto difícil para a cultura brasi-
pela arte popular”, que coloca em diálogo obras da leira. “Das doações de empresas e pessoas vieram 75%
coleção original de Jacques com acervos doados ou dos recursos da obra, até porque outros recursos gover-
emprestados para o museu, possibilitando a ampliação namentais acabaram na vindo”, conta Van de Beuque. “É
da apreciação do público. Ao longo da visita estão pre- um momento de falta de esperança, de falta de horizonte,
sentes ainda vídeos e depoimentos de personalidades e acho que a cultura vem sofrendo especialmente, de uma
como Gilberto Gil, Ailton Krenak e José Saramago. forma constante. Então conseguir abrir o museu neste
Mas, mais importante, estão presentes os depoi- contexto, com um projeto possibilitado pela mobilização
mentos dos próprios artistas, em consonância das pessoas, inclusive com colecionadores doando obras,
com a busca do Museu Casa do Pontal pela acreditando no seu futuro, é maravilhoso. Mostra que
valorização destes criadores que, muitas a arte brasileira tem importância e que o público
vezes, foram enquadrados apenas como sabe valorizar o patrimônio do país.”
representantes da produção de regiões Após anos com dificuldades financeiras e
e contextos sociais, tendo seus nomes estruturais - nos quais a instituição dependeu
relegados à segundo plano. “Porque a também de uma série de parcerias com insti-
arte popular brasileira, em função das tuições nacionais e estrangeiras para mostrar
limitações do entendimento sobre ela, o acervo e manter seu nome em destaque -,
raramente está entendida como arte. o Museu Casa do Pontal parece se sentir
E há 20 anos estamos discutindo essa seguro para um novo ciclo duradouro de ati-
questão de uma negação da cate- vidades e convívio com o público. Em
goria ‘arte’ para essas pessoas, outubro de 2020, com a mostra Até
como se eles não merecessem”, logo, até já, o museu se despediu
afirma Angela. “Justamente de sua antiga sede. Em outubro
porque o campo das artes de 2021 o “até já” do título final-
plásticas, entre todos os mente chegou, em um momento
campos culturais, é o redu- que, apesar da crise e do conser-
to mais fechado e elitizado. vadorismo no país, a arte popular
E como nós vivemos em um tem ganhado, aos poucos, maior
país extremamente classista e destaque e respeito, segundo os
hierárquico, o olhar que se tem próprios diretores.
sobre essa produção é muito
filtrado por estereótipos, de que
seria apenas artesanato, algo Casamento na capela,
feito para a comercialização.” de Noemisa
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