Page 14 - ARTE!Brasileiros #54
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ENTREVISTA BENJAMIN SEROUSSI
PRIMEIRO OS GESTOS,
DEPOIS AS PALAVRAS
Benjamin Seroussi, diretor da Casa do Povo, fala
sobre os motivos de o centro cultural paulistano ter
passado a agir diretamente, não só no ambiente
virtual, durante a crise causada pela pandemia
(e pelo governo) e destaca as dificuldades e
soluções para financiar as atividades do espaço
por marCos grinspum Ferraz
Como a Casa Do povo tem sobreviviDo em meio à
crise? “A gente já é especialista em crise”, responde,
em tom de brincadeira, Benjamin Seroussi, diretor
da instituição paulistana. De fato, quando o centro
cultural retomou suas atividades, a partir de 2012 e
2013, o Brasil estava iniciando um longo processo
de crise econômica e política - do qual nunca saiu.
Mais do que isso, antes da retomada, o espaço fun- Legenda 120 caracteres ospsodpso dpso dpsopdo
dado em 1946 por judeus progressistas no bairro do
Bom Retiro amargurava cerca de 30 anos de crise
profunda, que implicou no encerramento de quase
todas as suas atividades e abandono de boa parte
de seu espaço - um edifício modernista projetado
por Ernest Mange.
Nestes menos de 10 anos de retomada, iniciada
com a reaproximação de ex-alunos do colégio que
ali funcionou até 1981, com a chegada de Seroussi -
curador e gestor vindo de experiências no Centro da
Cultura Judaica e na Bienal de São Paulo - e, grada-
tivamente, de outros coletivos e agentes culturais e
sociais, a Casa se estabeleceu como um destacado
e singular espaço cultural do país. Singular por sua
atuação experimental e coletiva, pautada em uma
noção de cultura que extrapola as práticas artísti-
cas - incluindo ativismo, alimentação, moradia, saúde
mental e esporte -, o que resultou, agora, em uma
movimentação também peculiar frente à maior de
todas as crises, a da pandemia de Covid-19.
“E esse movimento dos centros culturais de fechar
as portas e ir para o online me pareceu uma espécie
de abandono total do que fazemos. Era como se a
gente pudesse se fechar no nosso privilégio, achar
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