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ENTREVISTA BENJAMIN SEROUSSI


            PRIMEIRO OS GESTOS,


            DEPOIS AS PALAVRAS





                                                  Benjamin Seroussi, diretor da Casa do Povo, fala
                                                  sobre os motivos de o centro cultural paulistano ter
                                                  passado a agir diretamente, não só no ambiente
                                                  virtual, durante a crise causada pela pandemia
                                                  (e pelo governo) e destaca as dificuldades e
                                                  soluções para financiar as atividades do espaço

                                                  por marCos grinspum Ferraz





            Como a Casa Do povo tem sobreviviDo em meio à
            crise? “A gente já é especialista em crise”, responde,
            em tom de brincadeira, Benjamin Seroussi, diretor
            da instituição paulistana. De fato, quando o centro
            cultural retomou suas atividades, a partir de 2012 e
            2013, o Brasil estava iniciando um longo processo
            de crise econômica e política - do qual nunca saiu.
            Mais do que isso, antes da retomada, o espaço fun-  Legenda 120 caracteres ospsodpso dpso dpsopdo
            dado em 1946 por judeus progressistas no bairro do
            Bom Retiro amargurava cerca de 30 anos de crise
            profunda, que implicou no encerramento de quase
            todas as suas atividades e abandono de boa parte
            de seu espaço - um edifício modernista projetado
            por Ernest Mange.
               Nestes menos de 10 anos de retomada, iniciada
            com a reaproximação de ex-alunos do colégio que
            ali funcionou até 1981, com a chegada de Seroussi -
            curador e gestor vindo de experiências no Centro da
            Cultura Judaica e na Bienal de São Paulo - e, grada-
            tivamente, de outros coletivos e agentes culturais e
            sociais, a Casa se estabeleceu como um destacado
            e singular espaço cultural do país. Singular por sua
            atuação experimental e coletiva, pautada em uma
            noção de cultura que extrapola as práticas artísti-
            cas - incluindo ativismo, alimentação, moradia, saúde
            mental e esporte -, o que resultou, agora, em uma
            movimentação também peculiar frente à maior de
            todas as crises, a da pandemia de Covid-19.
              “E esse movimento dos centros culturais de fechar
            as portas e ir para o online me pareceu uma espécie
            de abandono total do que fazemos. Era como se a
            gente pudesse se fechar no nosso privilégio, achar

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