Page 25 - ARTE!Brasileiros #52
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O tema adotado pelos protestos
                                                                             norte-americanos, “não consigo
                                                                             respirar”, tornou-se peça
                                                                             estratégica na reflexão de Berardi



                                                                             de extinção. Contra o sentimento de
                                                                             que vivemos momentos inexoráveis,
                                                                             o desespero em relação à ascensão
                                                                             dos movimentos fascistas em todo
                                                                             o mundo e os graves desequilíbrios
                                                                             ambientais que o planeta enfrenta,
                                                                             Bifo – como é conhecido desde a
                                                                             infância – se posiciona claramente
                                                                             ao lado daqueles que não se con-
                                                                             formam com os limites de um coti-
                                                                             diano opressor e ousam combater
                                                                             em defesa de uma sociedade mais
                                                                             justa, solidária e igualitária.
                                                                                Responde assim com ousadia à
                                                                             referência à “arte do possível”, termo
                                                                             adotado como subtítulo do semi-
                                                                             nário “Em Defesa da Natureza e da
                                                                             Cultura”, do qual participou no últi-
                                                                             mo dia 8 de outubro. E enfatiza que
                                                                             não devemos considerar o “possível”
                                                                             como um limite que nos é imposto
                                                                             por uma naturalização das barbáries
                                                                             cometidas pelo capitalismo, mas
                                                                             sim a busca de um caminho novo,
                                                                             o fortalecimento de nossa capaci-
                                                                             dade para desafiar a marcha que, se
                                                                             não for contida, nos conduz à extin-
                                                                             ção. “Contra a miséria social, o caos
                                                                             geopolítico, a debacle econômica,
                                                                             temos uma saída: solidariedade e
                                                                             frugalidade também. Precisamos
                                                                             desenvolver a habilidade em focar
            o DiagnóstiCo Do FilósoFo Franco Berardi sobre   naquilo que é útil para a nossa vida, para o nosso pra-
            a atualidade é ácido e certeiro: vivemos a morte do   zer, e esquecer o dinheiro, a competição, a abstração
            sistema capitalista, habitamos um cadáver putrefato,  monetária”, defende o filósofo.
            mas que ainda se mantém de pé e dita as regras do jogo.   xão ao iniciar sua fala citando os protestos que sacudiram
                                                               Bifo introduz um elemento fundamental de sua refle-
            Mesmo definindo de maneira tão cética a sociedade na
 FOTO: FUSEBOX RADIO PHOTOGRAPHY  alentadora imagem de luta e transformação desse   de outubro) do referendo para derrubar a constituição
                                                             o Chile no ano passado e saudando a realização (em 25
            fase terminal do capitalismo, o pensador propõe uma
            cenário sombrio, convocando a juventude, os poetas
                                                             que continua vigente desde o regime militar de Pino-
            e os artistas como agentes estratégicos de transfor- chet, o que segundo ele perpetua a ditadura - militar e
                                                             neoliberal - imposta pelo regime autoritário inaugurado
            mação, vendo sobressair no caos as forças de luta
            necessárias para a superação dos graves problemas
                                                             com o golpe de 1973. Assim, reforça a importância
            que assolam a humanidade e a colocam em sério risco
                                                             dos movimentos espontâneos, solidários, combativos,
                                                                                                         25
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