Page 59 - ARTE!Brasileiros #51
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Aline Motta, (Outros) Fundamentos #3, 2017-2019
porque reconhecemos a chamada arte euro- como a exigência de “releitura crítica dos modos
brasileira como sendo apenas arte brasileira? de representação”, a “revisão das políticas de
Segundo a artista e pesquisadora Grada branqueamento” e o “combate do anonimato” de
Kilomba, isso não ocorre por acaso. De acordo diversos artistas.
com a autora, a universalização e predominância Evidenciar tal disparidade no tratamento dado
da pessoa branca nas artes é parte de uma a determinados grupos torna-se importante e
construção ideológica, colonial e racialista que urgente. Presenciamos nas últimas semanas
define o ser branco e europeu como o padrão das debates em torno dos racismos e as disparidades
narrativas do mundo, atribuindo a ele noção de sociais que afetam a vida das pessoas negras no
neutralidade e normalidade. Em contraposição, mundo. Desde o dia 25 de maio, data do assassinato
abordam os demais como específicos e diferentes, do afro-estadunidense George Floyd, um intenso
elaborando nesse “outro” a sua oposição. Esse conjunto de ações demonstraram a necessidade
debate foi realizado recentemente pelo curador e de combate ao racismo estrutural e sistemático
pesquisador Hélio Menezes, em sua dissertação como uma responsabilidade de toda a sociedade
de mestrado Entre o visível e o oculto: a construção contemporânea. Nesse período, diversas instituições
do conceito de arte afro-brasileira, defendida em utilizaram suas redes para demonstrar apoio a
2018, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências campanha Black lives matter, inclusive instituições e
Humanas da Universidade de São Paulo. Para ele, profissionais das artes. Entretanto, mais que apoio
as discussões sobre os “direitos civis, identidade verbal, a luta antirracista precisa de ações efetivas
negra, combate às desigualdades racializadas e permanentes, que, no campo das artes, vão para
de renda e de acesso a bens e serviços, direito além de escrever uma mensagem nas redes sociais,
à memória e a diversidade têm se avolumado incluir um artista em uma exposição, citar um autor
na agenda política do país”, e, no campo das ou ser amigo de alguém cuja identidade foi marcada
artes, têm sido reivindicadas por algumas vias, pela racialização. Essas ações são válidas e merecem
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