Page 54 - ARTE!Brasileiros #51

MONUMENTOS MEMÓRIA

Trabalho do inglês
Banksy, divulgado no
Instagram do artista

1922, o que revela o caráter elitista do movimento. uma visão única. Está na hora, portanto, de descoloni-
Afinal, as bandeiras, como explicam Lilia Schwarcz e zar nossa história e nossos símbolos, ressignificando
Heloisa Starling, em Brasil: uma biografia, “dizimaram esses monumentos que exaltam lideranças genocidas.
populações locais”. Essas bandeiras “assumiram a A proposta de Malunguinho é a mesma que vem sendo
forma militarizada de organização das expedições posta em prática em vários países, como é o caso da
de caça e escravização dos índios ou de busca de Bélgica. Há outras ideias mais criativas. Em sua conta
metais preciosos”. Em suma, eles foram os milicianos no Instagram, o artista Banksy faz uma ótima proposta
da colonização brasileira. para Bristol: recolocar a estátua de Edward Colston
Já há sete anos, em 2013, o monumento de Brecheret no pedestal, acrescentando, contudo, outras estátuas
foi alvo de um protesto, tendo sido manchado com tinta representando pessoas tentando derrubá-la, tornando
vermelha. “Ela deixou de ser pedra e sangrou. Deixou de permanente, assim, o gesto de reescritura da história.
ser um monumento em homenagem aos genocidas que Não se deve apagar a história, ou mesmo fazer de
dizimaram nosso povo e transformou-se em um monu- conta que ela não existiu, como se fez com o período
mento à nossa resistência”, escreveu na época Marcos da ditadura militar no Brasil. A transição para a demo-
Tupã, coordenador da Comissão Guarani Yvyrupá. O cracia sem o enfrentamento com o passado violento é
fato ocorreu quando se discutia a peC 215 (Proposta de um dos motivos para o pesadelo atual. É preciso, por-
Emenda à Constituição) que transferia a competência tanto, rever esses monumentos e recontextualizá-los
da União na demarcação de terras indígenas para o de forma que não se esqueça o passado violento que
Congresso Nacional e possibilitava a remarcação das se abateu sobre os povos indígenas, para que ele não
terras indígenas. mais se repita.
As manifestações antirracistas vêm colocando em Para ampliar esse debate, arte!Brasileiros con-
xeque o que se considera como “história universal”. vidou Naiara Tukano, do povo indígena Yepá Masã, de FOTO: REPRODUÇÃO
Em geral, essa história é um relato de homens brancos, São Gabriel da Cachoeira, no interior do estado do
que ignoram todos os conflitos e resistências, impondo Amazonas. Leia a seguir seu texto.

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