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“tem gente ChoranDo por estátua, mas não é capaz de cho-
rar quando morre um negro”, disso o filósofo e advogado Silvio
Almeida, em maio passado, em um programa de entrevistas de
televisão. Sua frase resume um debate que se instaurou desde que
monumentos foram destruídos na Inglaterra e na Bélgica, na esteira
dos movimentos antirracistas desencadeados pelo assassinato
brutal de George Floyd por um policial, nos eua.
Em síntese, o que se debate é se monumentos públicos que
exaltam líderes genocidas merecem ser mantidos. Nas redes sociais,
uma “legião de imbecis” como já apontava Umberto Eco, em 2015,
quando recebeu o título de doutor honoris causa na Universidade
de Turim, saíram em defesa do patrimônio, deixando de lado uma
história de violência e segregação, chamando de “vândalos” aque-
les que, em 7 de junho, em Bristol, jogaram no rio Avon a estátua
de Edward Colston. Ele foi um traficante de pessoas escravizadas,
responsável pelo tráfico de nada menos que 80 mil africanos, sendo
que 20 mil morreram no mar.
Já em Antuérpia, no dia 9 de junho, a estátua de Leopoldo ii,
incendiada anteriormente, foi retirada da praça pública para ser
inserida em um museu. O monarca, que reinou entre 1865 e 1909, foi
o responsável pela morte de 10 milhões de africanos, a maioria da
República do Congo, que era uma possessão pessoal de Leopoldo
ii (1835 – 1909). Finalmente, semanas depois a família real belga pela
primeira vez se manifestou “arrependida” pela violência na África.
Nessa mesma sequência, o Museu de História Natural de Nova
York anunciou que vai retirar da sua entrada principal a estátua do
ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, em cima
de um cavalo, sendo acompanhando por um indígena e um negro.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, concordou com a medida,
dizendo que o monumento “retrata pessoas negras e indígenas
como subjugadas e racialmente inferiores”.
Pelo mundo todo, afinal, estão sendo revistos esses símbolos
racistas e, em São Paulo, coube à deputada Erica Malunguinho
(psol) encampar o debate. Ela protocolou um projeto de lei para
impedir homenagens a pessoas que tenham comercializado escravos.
A proposta de Malunguinho inclui a remoção de monumentos
públicos, segundo o artigo 5° do 2° parágrafo do projeto: “Os
monumentos públicos, estátuas e bustos que já prestam home-
nagem a escravocratas ou a eventos históricos ligados a prática
escravagista devem ser retirados de vias públicas e armazenados
nos Museus Estaduais, para fins de preservação do patrimônio
histórico do Estado.”
Trata-se aí de um debate necessário, já que São Paulo tem
entre suas mais famosas imagens o Monumento às Bandeiras, no
Ibirapuera, de Victor Brecheret. Inaugurado em 1953, uma maquete
da obra chegou a ser exposta na Semana de Arte Moderna de FOTO: ROVENA ROSA/EBC AGÊNCIA BRASIL
O Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret,
com tinta jogada por manifestantes em 2016
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