Page 18 - ARTE!Brasileiros #51
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ARTIGO ARTE NA PANDEMIA
A ARTE EM XEQUE:
OS DESAFIOS DO VIRTUAL
Ao inviabilizar a visitação aos
espaços expositivos, a quarentena
tornou obrigatória a busca por
soluções alternativas de fruição
por maria hirszman
seis meses Depois Dos primeiros alertas sobre o
Covid-19, ainda circunscrito à região de Wuhan, na China,
e três meses depois do vírus chegar de forma inquestio-
nável ao Brasil – depois de passagens devastadoramente
letais pela Europa e Estados Unidos, a situação ainda é
de paralisia, angústia e desalento. A crise epidêmica é
reforçada pelo colapso econômico e, no caso brasileiro,
por uma tensão política sem precedentes. Em meio a
tudo isso, como analisar as potencialidades da cultura,
os efeitos desse cenário sobre artistas, instituições
e consumidores de arte? Como avaliar as respostas
dadas até o momento, em busca de paliativos digitais,
e sopesar as opiniões que variam desde uma otimista
visão de que sairemos melhor dessa situação, até uma
ácida sensação de que uma era se encerra, mas não se
sabe ainda o que virá depois dela?
O cenário de exceção, que provoca letargia e deses-
pero, medo e esperança de transformação, também
parece ter um efeito revelador, tornando as fragilidades
mais palpáveis, os descasos mais evidentes e as falhas
mais perceptíveis. É como se a excepcionalidade da
situação, a suspensão da normalidade que perpetua
os modelos repetidos muitas vezes de forma mecânica,
tornasse mais evidente nossas enormes carências. Do
dia para a noite, todos parecem ter descoberto como
são fracas as estratégias de comunicação virtual de
museus, galerias e outras instituições culturais e como
são ainda débeis as ações de ampliação do público
por meios digitais. Salvo raras exceções de iniciativas
para dinamizar a divulgação dos acervos, discussão de
conteúdo e ampliação do contato virtual com o público,
tudo permaneceu igual.
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