Page 12 - ARTE!Brasileiros #51
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            idades, questões e poéticas bastante distintas, muitas delas
            ainda pouco conhecidas no circuito nacional e latino-ame-
            ricano. Mesmo diante da impossibilidade de constatar o
            que resultaria da articulação desses trabalhos num mesmo
            espaço (questão que, segundo Fabiana, foi central ao longo
            do processo de seleção), o exame atento das propostas e
            das obras descortina uma produção potente e promissora.
            Há uma força de conjunto, um forte peso de aspectos como
            memória, ancestralidade, descolonização e crítica ao racis-
            mo, bem como poéticas e questões próprias e particulares,
            como a trama criada por Aline Motta combinando suas expe-
            riências na Nigéria e no Vale do Paraíba; o uso da cor como
            expansão de sentido, proposta por Juliana dos Santos; ou o
           “Jardim da Abolição”, projeto de Musa Mattiuzzi que reuniria
            111 vasos com plantas de poder da cultura afro-brasileira,
            como forma de reativação de conhecimentos.
               São muitos os trabalhos que partem da ideia de trama,
            bordado, novelo, aspectos vinculados à feminilidade e
            também à necessidade de resgate e construção de uma
            identidade. Helô Sanvoy, um dos poucos homens presentes
            na seleção, registra sua mãe contando histórias enquanto
            lhe faz tranças. Em “Bombril”, Priscila Resende usa os pró-
            prios cabelos para dar brilho em utensílios de cozinha, numa
            ironia ácida contra o preconceito racial. E a sul-africana
            Lungiswa Gqunta recobre de tecidos metros e metros de
            arame farpado, encapando-os e neutralizando seu poder
            de ferir, num processo que tem muito de proteção e cura.
               Em suma, mesclam-se na Bienal – que exige tempo e
            paciência para  ser visitada virtualmente – um manancial
            de questões, que têm servido como fios condutores para
            o trabalho do setor educativo, sob a coordenação de Igor
            Simões. Se já tinha uma importância central na Bienal 12,
            o educativo acabou adquirindo um protagonismo ainda   Acima, Janaína Barros, Psicanálise do cafuné
            maior pelas circunstâncias de isolamento. Igor faz questão   catinga de mulata. À dir., Carmela Gross, Rouge
            de ressaltar que o trabalho educativo é para o público em
            geral e não apenas para os professores, numa ação que
            se irradia pelos mais diferentes públicos e assumindo for-
            mas distintas, como propostas de intervenção e reflexão
            compartilhadas pelo site; organização de lives; o jornal
            virtual que reúne textos dos artistas e está disponível online.
           “Apostamos ainda na ideia de encontro”, diz ele.
              “Fizemos um esforço muito grande de criar ferramentas
            novas”, afirma Andrea Giunta. Segundo ela, essa decisão
            decorre do fato de que não temos nenhuma certeza do que
            irá acontecer. Há evidentemente um desejo de viabilizar
            alguma experiência concreta de exposição, seja com uma
            abertura tardia, seja por meio de encontros mais pontuais
            ou de itinerâncias. “Mas acho que o mundo da arte agora                                               FOTOS: CORTESIA DA ARTISTA
            tem que ter uma responsabilidade com o presente. A nor-
            malidade não vai voltar tão cedo”, conclui.

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