Page 13 - ARTE!Brasileiros #50
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Paulo Miyada,
                     curador-adjunto,
                     Carla Zaccagnini,
                     curadora
                     convidada, Jacopo
                     Crivelli Visconti,
                     curador-geral, Ruth
                     Estévez, curadora
                     convidada e
                     Francesco
                     Stocchi, curador
                     convidado. Equipe
                     curatorial da 34a
                     Bienal de São
                     Paulo. À dir. Jaider
                     Esbell, Malditas e
                     Desejadas, 2013
                     acrílica sobre
                     lona encerada.
                     Acervo da Galeria
                     Jaider Esbell de
                     Arte Indígena
                     Contemporânea



                     essa coragem que a gente está defendendo aqui,   de como sua história vai se repetindo das maneiras
                     como ponto de partida.                          mais imprevisíveis ao longo dos séculos. As noções
                     Miyada – Dentro da exposição a própria ideia de   de resistência, de como as coisas aparecem e desa-
                     repetição seria sim um desses enunciados, desses   parecem, são outras abordagens contempladas.
                     subtemas ou diários de convergência. Está muito
                     claro no projeto que uma exposição se faz como um  Quem mais trataria dessa questão da repetição?
                     ensaio, mantendo relação com a leitura de Francis   Visconti - Morandi é um bom exemplo. Pintou um
                     Alys de como os projetos progressistas, especial-  repertório relativamente reduzido do ponto de vista
                     mente nas Américas, parecem sempre um ensaio,   iconográfico ao longo de décadas. Mas também
                     no sentido de uma repetição, de algo que parece   reverbera particularmente a ideia do Faz escuro
                     que agora vai e depois é abandonado. Tudo vira   mas eu canto. É daqueles artistas que, da mesma
   FOTOS: PEDRO IVO TRANSFERETTI/FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO | MARCIO LAVOR
                     ruina muito rápido.                             maneira como Monet pintando Ninfeias na I Guerra
                                                                     Mundial, podem ser vistos como como alienados ou
                  É possível dar um exemplo concreto sobre esse      como – e é assim que eu acho que é preciso vê-los
                  núcleo da repetição?                               – alguém que considera que perseverar enquanto
                     Visconti – Não vai ser um bloco porque não haverá   o mundo está pegando fogo não é um escapismo.
                     separação, porque esses vários assuntos (uns seis
                     ou oito) se entrelaçam. Por exemplo, estamos ten-  São diferentes as abordagens em reação ao escuro?
                     tando trazer um sino da capela do Padre Faria, em   Miyada – É preciso lembrar que para algumas pes-
                     Ouro Preto. É um sino bastante típico, mas que tem   soas faz escuro faz um ano; para outros 10 anos, 500
                     a particularidade de ter sido tocado em momentos   anos, mil anos. Enquanto você ouve as vozes que
                     muito importantes da história do Brasil. Reza a lenda   estão incluídas nessa experiência, a ideia do que
                     que foi tocado na noite da execução de Tiradentes,   significa cantar diante do escuro se transforma. Se à
                     quando obviamente havia a proibição de tocar os   primeira leitura o escuro é visto como ameaça, risco,
                     sinos porque estava sendo executado um inimigo do   e é isso mesmo, de perto ele pode ser um aliado para
                     império. A história mudou, Tiradentes virou um herói   muitos artistas. E, pelo contrário, a transparência
                     nacional e o sino foi levado para Brasília e tocado no   pode ser um recurso altamente ideológico, de con-
                     dia da inauguração da nova capital. A gente vai falar   trole, de repressão, de vigilância.


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