Page 12 - ARTE!Brasileiros #50
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BIENAIS SÃO PAULO
Não só porque cada exposição tem seu curador, na produção de obras novas. Até porque com elas
mas porque cada exposição tem seu público e seu você não consegue ter uma afinação tão precisa e
contexto. Não decorrem apenas do interesse para o que nos interessa aqui é essa escala mais íntima,
a Bienal, mas também da possibilidade de reverbe- é essa obra aqui junto com essa e essa, que você
rarem de forma potente naquele lugar, fazer sentido consegue entender.
com aquele público.
Comecemos pela história do poema.
Essa ideia de expansão está muito presente na Miyada – Foi escrito pelo Thiago de Mello, poeta
história das bienais, mas é raro vê-la efetivada amazonense, entre 1963 e 1964, entre o estado do
na prática. Amazonas e Santiago do Chile, onde ele era adido
Visconti - Pode parecer que a ideia é fazer um pro- cultural. Era um poema de esperança, num momen-
jeto muito grande, como se a Bienal precisasse de to de desejo progressista. Mas só foi publicado em
mais espaço. Mas acho que na verdade estamos 1965 quando, como a gente sabe, a realidade do
propondo um exercício muito íntimo, um caminho Brasil já era muito diferente. Em 1968, o Thiago de
diferente, de criar uma relação com as obras, algo Mello foi preso. Ele conta que entrou na cela, com
que normalmente esses eventos muito grandes muito medo, sem saber o que podia acontecer e
não permitem. Essas exposições individuais vão quando olha para a parede vê que o preso anterior
coabitar por algum tempo. E haverá também as tinha deixado escritos seus versos: “Faz escuro
performances nos dias de abertura (Palabras Ajenas, mas eu canto porque a manhã vai chegar”, o que
de Leon Ferrari, e A Ronda da Morte” peça inédita fez com que ele retomasse a crença. Em poucos FOTOS: PEDRO IVO TRANSFERETTI/FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO | MARCIO LAVOR
de Hélio Oiticica). anos, esse verso foi esperança, persistência, cha-
mado, suspiro. E a gente fica pensando: como é
Vocês estão fazendo praticamente uma curadoria que ele chega hoje?
de obras?
Miyada – Exatamente, se comparado a outras bie- Vamos resistir por cima, né?
nais será muito mais uma curadoria de obras do Visconti - E não cantar apenas sobre essa escuridão.
que uma curadoria de artistas. Talvez nisso a gente É preciso muita coragem para falar de outras coisas
também se distinga da maioria, que tem muita ênfase num momento como o que a gente está vivendo. É
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