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BIENAIS SÃO PAULO








































                    Não só porque cada exposição tem seu curador,    na produção de obras novas. Até porque com elas
                    mas porque cada exposição tem seu público e seu   você não consegue ter uma afinação tão precisa e
                    contexto. Não decorrem apenas do interesse para   o que nos interessa aqui é essa escala mais íntima,
                    a Bienal, mas também da possibilidade de reverbe-  é essa obra aqui junto com essa e essa, que você
                    rarem de forma potente naquele lugar, fazer sentido   consegue entender.
                    com aquele público.
                                                                  Comecemos pela história do poema.
                  Essa ideia de expansão está muito presente na      Miyada – Foi escrito pelo Thiago de Mello, poeta
                  história das bienais, mas é raro vê-la efetivada   amazonense, entre 1963 e 1964, entre o estado do
                  na prática.                                        Amazonas e Santiago do Chile, onde ele era adido
                    Visconti - Pode parecer que a ideia é fazer um pro-  cultural. Era um poema de esperança, num momen-
                    jeto muito grande, como se a Bienal precisasse de   to de desejo progressista. Mas só foi publicado em
                    mais espaço. Mas acho que na verdade estamos     1965 quando, como a gente sabe, a realidade do
                    propondo um exercício muito íntimo, um caminho   Brasil já era muito diferente. Em 1968, o Thiago de
                    diferente, de criar uma relação com as obras, algo   Mello foi preso. Ele conta que entrou na cela, com
                    que normalmente esses eventos muito grandes      muito medo, sem saber o que podia acontecer e
                    não permitem. Essas exposições individuais vão   quando olha para a parede vê que o preso anterior
                    coabitar por algum tempo. E haverá também as     tinha deixado escritos seus versos: “Faz escuro
                    performances nos dias de abertura (Palabras Ajenas,   mas eu canto porque a manhã vai chegar”, o que
                    de Leon Ferrari, e A Ronda da Morte” peça inédita   fez com que ele retomasse a crença. Em poucos  FOTOS: PEDRO IVO TRANSFERETTI/FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO | MARCIO LAVOR
                    de Hélio Oiticica).                              anos, esse verso foi esperança, persistência, cha-
                                                                     mado, suspiro. E a gente fica pensando: como é
                  Vocês estão fazendo praticamente uma curadoria     que ele chega hoje?
                  de obras?
                    Miyada – Exatamente, se comparado a outras bie-  Vamos resistir por cima, né?
                    nais será muito mais uma curadoria de obras do   Visconti - E não cantar apenas sobre essa escuridão.
                    que uma curadoria de artistas. Talvez nisso a gente   É preciso muita coragem para falar de outras coisas
                    também se distinga da maioria, que tem muita ênfase   num momento como o que a gente está vivendo. É


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