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ENTREVISTA RANDOLPHO LAMONIER
IMPROVISAÇÃO COMO MÉTODO
ENTREVISTA COM RANDOLPHO LAMONIER, ARTISTA MINEIRO
PARTICIPANTE DO 36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
POR ALEXIA TALA
ALEXIA TALA – Quando observo tua obra vejo que há uma familiar de filmagens de casamentos, festas e
profunda procura por suportes e formatos. Você usa artes outros eventos. Então a captura e reprodução de
gráficas, fotografia, audiovisual, textil etc. Essa versati- imagem através do VHS também foi algo que me
lidade faz com que tua obra não se limite a uma estética chamou muito a atenção.
particular. Como é o processo em que você opta por tra- Mais tarde, enquanto já começava a explorar o
balhar uma ideia, num suporte ou outro? campo das artes visuais, comecei a estudar teatro
RANDOLPHO LAMONIER — Desde o princípio de minha e logo estava trabalhando em algumas compa-
pesquisa em arte venho lidando com muita expe- nhias. Minha curta passagem pelo Grupo Oficina
rimentação e o ato de improvisar se tornou uma Multimedia, em Belo Horizonte, foi uma de minhas
de minhas principais metodologias de trabalho. principais influências naquele momento, por sua
Foi algo que eu assimilei de forma totalmente intrínseca relação com as artes visuais e sua arro-
intuitiva como resposta a uma série de barrei- jada pesquisa com videoinstalações, objetos cêni-
ras e faltas, porque quando comecei a produzir cos, figurinos e cenografias. Depois comecei a
não dispunha de dinheiro para materiais, conhe- fotografar meus amigos, quase todos do teatro, e
cimentos técnicos ou referências do mundo da as propostas narrativas e estéticas que criávamos
arte. Então comecei observando o que estava para fotografar me levaram a me interessar pela
ao meu redor e improvisando com as situações foto-performance e a produção em vídeo.
que minha realidade me oferecia. Isso marcou
em mim a sensação de que posso trabalhar com Muito interessante teu processo. O que surge primeiro, o
qualquer material, mídia ou suporte, desde que assunto ou o encontro com a matéria?
haja necessidade e desejo. Não há uma regra, mas, de modo geral, primeiro
surge uma questão, depois eu encontro a maté-
Como e qual foi a influência que deu começo a teu fazer ria, a forma e a linguagem através das quais
artístico? irei explorá-la. Acabei chegando a uma ideia de
Cresci na periferia de Contagem/MG, num con- “oposição” que quase sempre norteia minhas
texto onde não tínhamos acesso a praticamente escolhas, como as crônicas sangrentas de minhas
nenhum aparelho cultural. Fui criado assistindo TV memórias de Contagem narradas em pequenos
enquanto minha mãe trabalhava fora. Acredito que bordados feitos à mão; ou as bandeiras de Profecias,
a estética dos blockbusters da Sessão da Tarde, feitas com trapos de cama, mesa e banho, para
os programas sensacionalistas da tv brasileira tratar de assuntos públicos e questões sociais
dos anos 90 e os videoclipes da MTV foram os referentes ao Brasil. Em última instância, me
primeiros estímulos que poderiam se aproximar autorizo a experimentar com qualquer tipo de
de uma influência dita “artística”. Ainda na infân- material ou processo, como se errando muito
cia, ajudava meus tios numa pequena empresa eu aprendesse mais.
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