Page 62 - ARTE!Brasileiros #47
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO






             UMA PINTURA FEITA


             DE ESCOMBROS



             E MEMÓRIAS




             TEMPO PARECE ESTAR EM SUSPENSÃO NAS TELAS DE DAVID MAGILA



             POR MARIA HIRSZMAN



            CARACTERÍSTICA MARCANTE da obra de David Magila, a simul-
            taneidade parece ter efeito também sobre seu calendário. Com
            três exposições inaugurando uma após a outra no mês de maio
            de 2019, o artista faz uma entrada impactante na cena paulistana.
            São três espaços diferentes e com vocações distintas, nos quais
            expõe um leque amplo de trabalhos, quase todos inéditos, que
            conjuntamente compõem um panorama bastante abrangente das
            principais questões que o motivam.
            “Foi fruto do acaso”, explica ele, enfatizando que cada um dessas
            mostras têm uma história própria, mas sem negar a existência
            de nexos importantes entre os diferentes núcleos expositivos. O
            primeiro desses projetos aconteceu no jardim do casarão ocupado
            pela Fundação Ema Klabin. Ele foi concebido no contexto do Festival
            Labas, iniciativa da comunidade lituana em São Paulo, e levou o
            artista a mergulhar na história de sua família, na memória afetiva e
            simbólica ligada à serralheria montada pelo avô, que refugiou-se no
            Brasil nos anos 1930, e onde ele aprendeu o ofício, soldando lixeiras.
            A segunda mostra, inaugurada no Centro Cultural Britânico, teve
            como mote um diálogo com a obra do artista britânico Hurvin
            Anderson. Contempla, não apenas pinturas – linguagem que o
            artista vem explorando com mais afinco nos últimos tempos –, mas
            também esculturas, desenhos e vídeos. Trabalhos recentes de sua
            autoria também foram expostos em mostra individual na Galeria
            Janaina Torres. Esses dois últimos núcleos de obras revelam, por
            meio de um sutil porém intenso diálogo, o caráter ao mesmo tempo
            fluído e coerente de sua poética.
            Nas obras de Magila parece sempre haver um ponto de partida
            mais longínquo, mais remoto, do que indicam as primeiras aparên-
            cias. Sua pintura, apesar do caráter etéreo, não é uma construção
            inventada. Os objetos e cenas inanimadas que imantam essas
            construções derivam sempre de cenas da realidade, que o artista




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