Page 63 - ARTE!Brasileiros #45
P. 63
EMBLEMA LOGOTIPO POÉTICO DE CULTURA AFRO-BRASILEIRA 2, 1976. EMBLEMA LOGOTIPO POÉTICO DE CULTURA AFRO-BRASILEIRA 9, 1976. AMBOS PERTENCEM AO ACERVO ALMEIDA & DALE, GALERIA DE ARTE , SP
atravessadas por questões raciais e por uma grande ENGAJAMENTO E ATUALIDADE
exposição coletiva que sintetizou o tema. Com foco na Valentim nasceu em Salvador, em 1911, e cresceu em
diáspora negra e nos “fluxos e refluxos” entre África, contato íntimo com um universo sincrético. Apesar de
Américas e Europa, ressaltando as violências e resis- ser de família católica e ter feito a primeira comunhão,
tências que marcaram essas histórias, o museu deu frequentava com o pai os terreiros de candomblé da
sequência aos ciclos de “Histórias da Loucura e Histórias cidade. Formado em odontologia, passou a se dedicar à
Feministas” (2015), “Histórias da Infância” (2016) e “His- produção artística com mais afinco na segunda metade
tórias da Sexualidade” (2017). O eixo curatorial em dos anos 1940, quando se aproximou do pensamento
2019, também focado em narrativas não tradicionais, é de esquerda e de artistas como Mário Cravo Jr., Carlos
intitulado “Histórias Feministas, Histórias das Mulheres”. Bastos e Raymundo de Oliveira. Juntos deram início
Na Caixa Cultural, a mostra com cerca de 60 pinturas a um movimento de renovação nas artes plásticas na
e uma escultura também se concentra no universo Bahia. Valentim ainda cursou jornalismo no início dos
simbólico e na questão da negritude na obra de Valen- anos 1950, em busca de uma formação mais humanista,
tim. Com foco no período em que o artista viveu em e a partir do meio desta década começou a incorporar
Brasília e nos anos finais de sua vida, passados entre em suas pinturas os emblemas e signos do candomblé
a capital federal e São Paulo, a exposição apresenta e da umbanda. Com o uso de cores fortes e formas
o que Lontra considera “uma obra híbrida, perturba- geométricas, criou um repertório pessoal “com base
dora, que atua no território da fantasia e da formação em uma complexa dinâmica de recortes, subtrações
da identidade nacional”. “Ele rompeu as designações e justaposições”, como explica Oliva.
tradicionais; desprezou anacrônicas fronteiras entre o A geometria e as preocupações formais, no entanto,
popular e o erudito, entre o nacional e o internacional, não se sobrepunham às questões simbólicas, como
entre razão e emoção”, escreve o curador no texto de ressaltou o próprio artista: “Nunca fui concreto.
apresentação da mostra. Tomei conhecimento do concretismo através de
63
Book_ARTE45.indb 63 26/11/18 14:09