Page 62 - ARTE!Brasileiros #45
P. 62

CAPA RUBEM VALENTIM











































             RELEVO EMBLEMA N. 4, 1977. ACRÍLICA SOBRE MADEIRA, 100 X 150 X 5 CM. ACERVO MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAHIA

             parte integrante da conformação de seus trabalhos e de   queremos apresentar o artista total que ele era, que
             sua vida como artista”, afirma Fernando Oliva, curador da   transitava e fazia a síntese entre formas associadas
             mostra “Rubem Valentim: Construções Afro-Atlânticas”,   ao abstracionismo geométrico de linhagem europeia,
             uma grande individual do artista em cartaz no Masp até   canônico, e as formas que ele encontrou originalmente
             março de 2019.                                    nas religiões de matriz africana”, explica.
             Marcus Lontra, curador de “Rubem Valentim: Construção   A proposta de apresentar uma leitura mais complexa da
             e Fé”, outra exposição do artista baiano em cartaz em   obra de Valentim, destacando seu caráter híbrido e sua
             São Paulo, na Caixa Cultural, segue na mesma linha.   força política, é o que move as duas mostras em cartaz
             “Assim ele se tornava mais palatável. Quiseram adocicar   em São Paulo. No Masp, 80 pinturas e 12 esculturas
             o Rubem Valentim dizendo que ele era um modernista   perpassam principalmente os períodos em que o artista
             com temperinho brasileiro. Como se falassem: ‘Vamos   residiu no Rio de Janeiro (1957-1963), em Londres e
             jogar um dendê aqui nesse escargot’. Mas acontece que   Roma (1963-1966) e em Brasília (1967-1981). A exposição
             o dendê não era o final, era a base”, diz Lontra. “Quer   privilegia também os três elementos do candomblé com
             dizer, o Valentim parte dessa visualidade africana e,   os quais ele mais se relacionou: a flecha de Oxóssi, o
             com um olhar erudito, sintetiza isso através da cor e   machado de Xangô e as hastes de Ossain (ou Ossanha).
             da forma.”                                        “Essas formas do candomblé são um ponto de partida,
             De outro lado, quando não foi classificado como constru-  mas o que ele faz é depurar, sintetizar, recriar e trans-
             tivo ou concretista, Valentim foi visto como um artista   figurar essas formas em outros elementos. E aí está a
             “místico, sobrenatural e mágico”, sendo enquadrado   potência do seu trabalho. Como todo grande artista, ele
             em um universo folclórico também simplificador de   cria um universo próprio, algo único e original”, diz Oliva.
             sua obra. “É equivocado e muito limitador da potência   A exposição no Masp é parte do ciclo “Histórias Afro-
             deste artista reduzi-lo a apenas construtivo ou apenas   -atlânticas”, eixo curatorial do museu em 2018, constitu-  FOTO ANDREW KEMP
             tributário da cultura do candomblé”, diz Oliva. “Nós   ído por mostras individuais de artistas cujas obras são


            62




         Book_ARTE45.indb   62                                                                                   26/11/18   14:09
   57   58   59   60   61   62   63   64   65   66   67