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CAPA RUBEM VALENTIM
A LINGUAGEM AFRO-BRASILEIRA
E UNIVERSAL DE RUBEM VALENTIM
EXPOSIÇÕES NO MASP E NA CAIXA CULTURAL RETOMAM CARÁTER
POLÍTICO E UNIVERSO SIMBÓLICO DO ARTISTA BAIANO
POR MARCOS GRINSPUM FERRAZ
RUBEM VALENTIM EM 1984
EM SEU “MANIFESTO AINDA QUE TARDIO”, movimentos ou correntes artísticas estrangeiras
publicado em 1976, o pintor, escultor e gravurista ou nacionais.
baiano Rubem Valentim (1922-1991) deixava bas- Ainda assim, em sentido contrário às palavras do
tante claro de onde emergia sua arte: “Minha próprio artista, boa parte da crítica, do mercado
linguagem plástico-visual-signográfica está ligada e da historiografia da arte definiu Valentim como
aos valores míticos profundos de uma cultura um artista basicamente construtivo, relegando à
afro-brasileira (mestiça-animista-fetichista). Com segundo plano o universo simbólico de sua obra,
o peso da Bahia sobre mim – a cultura vivenciada; ligado ao candomblé, à umbanda e à cultura afro-
com o sangue negro nas veias – o atavismo; com -brasileira. Houve uma “insistência em enquadrá-
os olhos abertos para o que se faz no mundo – a -lo, um tanto à força, no contexto das correntes
contemporaneidade”. Ele buscava, como dizia no construtivas canônicas, forjadas no eixo Rio-São
mesmo texto, “uma linguagem universal, mas de Paulo, apartando das reflexões os sentidos reli- FOTO SILVESTRE SILVA
caráter brasileiro”, sem se filiar a nenhum dos gioso, espiritual e social, portanto político, que são
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