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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
FERNANDA PESSOA, HISTÓRIAS QUE O NOSSO CINEMA (NÃO) CONTAVA, 2017. STILLS DO TRAILER.
de inventário de todo mundo que passou pelo meu
apartamento pela primeira vez”, explica.
As pessoas posaram para o artista embaixo de
um letreiro com o nome do apartamento, o qual
ele intitulou “aparelho”, por uma razão histórica
e afetiva. “Além da questão política, ele também
tem uma questão demográfica muito interes-
sante. O ‘aparelho’ foi o primeiro apartamento de
muita gente, porque a maioria dessas pessoas que
vivem neles tinham 20 e poucos anos mesmo e
estavam não só planejando uma ‘revolução’ con-
tra o Estado, mas promovendo uma mudança de
costumes também contra o modelo de afeto, de
sexualidade e de família que existia na casa dos
parentes”, aponta Jablonski. ACIMA, MAIS UM STILL DO TRAILER DO FILME DE FERNANDA PESSOA. ABAIXO,
Já Fernanda Pessoa apresenta na íntegra o seu DETALHE DA OBRA DE DANIEL JABLONSKI.
filme Histórias que o nosso cinema (não) contava,
premiado em vários festivais dentro e fora do
Brasil. O longa é uma montagem de trechos de
quase 30 filmes populares, muitos do gênero
pornochanchada, da década de 70, que demons-
tram alguma relação com o período ditatorial.
Ela conta ter aprendido muito sobre como era o
funcionamento da sociedade no longo processo
de pesquisa e montagem do filme.
O longa também aborda, de forma muito forte,
outras questões de opressão que existiam, como
o machismo simbólico. Fernanda considera que
o que mostra isso de forma mais explícita é uma
analogia que aqueles filmes traziam entre o corpo
feminino e o milagre econômico prometido pelos
militares. “Eu fiz o filme justamente para tentar
entender um momento que eu não vivi e acho
que o problema hoje é que ainda não estudamos
direito o que foi a ditadura”, confessa.
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