Page 55 - ARTE!Brasileiros #45
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CINTHIA MARCELLE E TIAGO MATA MACHADO, COMUNIDADE, 2011. DANIEL JABLONSKI, DIANTE DO APARELHO, 2016









                               Cultural Videobrasil, com certa similaridade a essa.   forma mais acurada, até como pesquisadores
                               Ele pontua que a exposição também reflete outras,   propriamente”, comenta Matos.
                               como o Estado de violência no Brasil, “a ideia de   Para os dois curadores, o que leva esses artistas
                               um Estado extremamente conflituoso e a ditadura   mais jovens a falarem sobre a ditadura, mesmo
                               talvez seja última sombra disso”.           não tendo vivido sua pior fase ou ter tido algum
                               A história de ditaduras ao redor do mundo, espe-  contato direto, são vários fatores, os mais eviden-
                               cialmente na América Latina, já tinha sido abor-  tes seriam a crise institucional da Nova República,
                               dada em outras mostras ao longo da existência do   trazendo um desejo de entender como se chegou
                               Paço, as mais conhecidas talvez sejam as indivi-  até isso, e a transparência trazida nos últimos
                               duais Operação Condor, do português João Pina,   15 anos pelo governo, que permitiu a realização
                               realizada em 2014, e Migrações, do argentino   da Comissão Nacional da Verdade e o acesso
                               Marcelo Brodsky, que aconteceu em 2016.     a vários documentos da época, o que ofereceu
                               Diego conta que observa desde 2013 uma ascensão   muito material para esses artistas trabalharem.
                               do assunto ditadura militar na produção desses   O artista Daniel Jablonski, que apresenta na expo-
                               artistas mais jovens: “Existe um termo que acho   sição o trabalho Diante do Aparelho, de  2016,
                               bastante interessante, que já vi, por exemplo,   decidiu homenagear os esconderijos de diversos
                               Márcio Seligmann também concordar e a própria   militantes perseguidos na ditadura com sua obra.
                               Priscila, uma ideia de desassombramento, porque   Apartamentos que serviam como moradia ou
                               são pessoas que, como não viveram ou não têm   espaço para reuniões eram chamados de “apa-
                               uma relação traumática direta necessariamente   relhos” na época. “Entre 2008 e 2011, quando fui
                               com o tema passam a olhar para isso de uma   morar sozinho, tive a ideia de fazer uma espécie


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