Page 50 - ARTE!Brasileiros #45
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO






             PARA RESPIRAR LIBERDADE,


             70 ANOS DA DECLARAÇÃO



             DOS DIREITOS HUMANOS




             CONCEBIDA PELO SESC-SP E O INSTITUTO VLADIMIR HERZOG, A EXPOSIÇÃO DO ARTISTA
             OTÁVIO ROTH (1952-1993) É UMA CHUVA DE RESISTÊNCIA NA TEMPESTADE QUE NOS ASSOLA



             POR LEONOR AMARANTE











             A IMENSA ÁRVORE, que toma todo o saguão do   obra já foi realizada em alguns países, de acordo
             Sesc Bom Retiro, cria no espectador um frenesi   com a arquitetura do espaço. A execução coletiva
             visual com a repetição exaustiva das pequenas   em São Paulo contou com a participação de 70 mil
             folhas em papel, com um colorido e transparência   jovens de várias escolas públicas e particulares,
             que reverberam diferentes jogos luminosos no   ao longo de dois meses de oficina. Concebida por
             espaço, dependendo do andar em que o especta-  Roth, que participou das montagens iniciais, a obra
             dor estiver. Essa instalação monumental, de 400   continua viva mesmo depois de sua morte, ao se
             metros quadrados, que atinge os quatro andares   multiplicar pelas mãos de milhares de estudantes.
             do prédio, abre a mostra Para Respirar Liber-  Nomes, idades, país de origem, de todos eles, estão
             dade-70 Anos da Declaração dos Direitos Humanos,   em fichas que podem ser consultadas durante o
             do artista Otávio Roth.                     período expositivo.
             Artista de muitos recursos, desenho, gravura,   Em São Paulo, o crítico Fábio Magalhães, e a
             fotografia, ele mudou completamente seu traba-  filha do artista Isabel Roth, assinam a curadoria,
             lho a partir do assassinato de Vladimir Herzog,   enquanto o projeto é de Pedro Mendes da Rocha.
             nas dependências do DOI-Codi, em outubro de   Ativo e engajado, o artista colocou toda sua expe-
             1975, em São Paulo. Depois desse episódio dei-  riência gráfica a serviço da luta pelos direitos
             xou de fazer cinema e desenhos animados para   humanos. O trabalho colaborativo, uma de suas
             se dedicar à arte de conteúdo social. Tudo o que   marcas, deu vida a uma obra horizontal pulsante.
             buscava em sua obra estava na epígrafe do jor-  Muitos artistas brasileiros se engajaram em ques-
             nalista morto, sintetizado na frase: “defesa dos   tões políticas. “Desde os anos de 1930 Di Caval-
             direitos humanos”.                          canti já produzia para a imprensa ilustrações com
             A árvore concebida no Sesc, com inusitada mon-  críticas contra o fascismo. Portinari mostrava o
             tagem tridimensional, reconstruída no formato de   drama da miséria e exaltava a força do trabalhador
             um grande móbile, foi especialmente desenhada   e suas qualidades humanas”, lembra Magalhães.
             para o átrio interno, pelo arquiteto Pedro Mendes   Durante o período da ditadura surgiram algumas
             da Rocha. Em outros formatos bidimensionais, a   obras seminais, como o trabalho/performance


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