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GRANDE HOTEL, NEÓN. SAGUÃO DE ENTRADA SESC 24 DE MAIO, SÃO PAULO
tanto para o caráter temporário e passageiro da Gross no livro.
mostra, como para o caráter limitante e de privi- É bastante generosa essa maneira de abordar a
légios que ela encerra. carreira de Gross, usando junto às imagens das
Esse é um bom exemplo, aliás, dessa relação muito obras seus próprios depoimentos em primeira
estreita entre a poética da artista e os códigos pessoa para se conhecer o processo de criação
urbanos, uma linha dominante na publicação, da artista, suas inspirações e objetivos. Afinal, a
que também ocorre com a apropriação das pla- arte contemporânea nem sempre é de fácil comu-
cas metálicas que em geral denominam nomes nicação, mas os textos claros e precisos da artista
de rua, mas na obra de Gross se transformam são uma maneira de dar algumas pistas além da
em estratégias para nomear os que nem sempre própria visibilidade de cada trabalho.
possuem visibilidade. Essa preocupação reflexiva se expande ainda mais
“Figurantes” (2015) retrata bem essa possibili- na segunda parte do livro organizado pelo curador
dade, já que: “Alude a um cortejo insólito de dúbias Douglas de Freitas. “Carmela Gross” reúne ainda
figuras. São aquelas listadas por Marx em O 18 uma entrevista da artista conduzida por ele e três
Brumário de Luis Bonaparte (1852), como mem- ensaios escritos pelos curadores Paulo Miyada,
bros da Sociedade 10 de Dezembro, constituída de Luisa Duarte e Clarissa Diniz.
biscateiros, herdeiros arruinados, vagabundos e
desocupados de toda ordem”, segundo relato de Editora Cobogó, 280 págs., R$ 150
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