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LIVRO POEMA/PROCESSO






             A VANGUARDA QUE DEU


             AO POEMA STATUS DE OBJETO





             PESQUISA COLOCA LUZ NOS POETAS E ARTISTAS DO MOVIMENTO POEMA/PROCESSO DE 1967


             DA PATRICIA ROUSSEAUX




             GUSTAVO NÓBREGA, junto à Galeria Superfície, de quem   Alguns deles tinham fundado o Grupo Frente no Rio, e
             é fundador, é responsável pela criação, pesquisa e edição   outros o Grupo Ruptura em São Paulo.
             do livro Poema/Processo, publicado pela Martins Fontes.  Pouco tempo depois nasceu, em Natal, o Grupo Dés, cujo
              Nóbrega é artista plástico e vem de uma família de   manifesto intitulado “Por uma Poesia Revolucionária,
             galeristas. Isso o levou, desde cedo, a ter um contato   Formal e Temática” era assinado por Anchieta Fernandes,
             estreito com a arte. Seu olhar, porém, esteve sempre   Dailor Varela, Fernando Pimenta, Jarbas Martins, João
             voltado para artistas que tivessem um trabalho de cunho   Charlier, Juliano Siqueira, Ribamar Gurgel e Moacy Cirne.
             mais poético ou outros que usam a palavra na imagem.   Baseado nas produções criativas desses grupos, os
             Ele trabalha nessa vertente ora na pesquisa, ora nas   artistas viram a necessidade de diferenciar poesia de
             exposições que resolve montar na galeria.  Foi assim   poema. “A poesia era tomada como um conceito abs-
             com Leonílson, com Mira Schendel, e agora, na mostra   trato, enquanto o poema era enxergado em seu aspecto
             que acabou de apresentar e que comentamos na página   táctil, material, passível de ser manipulado”, diz Nóbrega
             64, com Neide Sá.                                 na apresentação do livro.  O poema ganhou status de
             Esse foco o levou a encampar uma importante pesquisa   objeto. Produziram-se assim, poemas para serem ras-
             sobre os artistas que fizeram parte da história da poesia   gados, queimados, degustados.
             visual no Brasil.                                 O movimento Poema/Processo, em 1967, surgiu paralelo
             “Um dia eu vi uma matéria numa revista internacional   à Tropicália, numa época onde qualquer ruptura criativa
             sobre o Poema-Processo. Eu achei fascinante. E pensei:   colaborava com a ideia de ruptura com a comunicação
             ‘como é que o Brasil não conhece isso?’. Fui atrás e, a   institucional da ditadura. Fundado por Wlademir Dias-
             partir daí, uma coisa levou a outra. Wlademir Dias-Pino,   -Pino, Neide Sá, Álvaro de Sá, entre outros, o grupo
             Neide Sá.  Fui descobrindo o mundo dos artistas que   chegou a ter mais de 70 artistas e poetas brasileiros
             participaram dos diferentes processos e estabeleci   participantes e até um uruguaio, Clemente Padin, e um
             várias conversas com eles. Essa foi a maior fonte de   argentino, Edgardo Antonio Vigo.
             pesquisa.”, diz Nóbrega.                          O grupo trabalhava com a ideia de processo, utilizando
             O livro mapeia a 1  Exposição Nacional de Arte Concreta,   a linguagem como veículo. A partir daí, se construíam
                           a
             inaugurada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em   várias versões que se somavam por sua vez a diferentes
             1956, que contou com a participação de vários pintores,   estilos, o que permitia uma despersonalização da obra.
             escultores e poetas. Hoje, nomes consagrados como   O livro, que tem até um texto original do crítico Frederico
             Augusto de Campos, Décio Pignatari, Ferreira Gullar,   Morais para o Jornal Diário de Minas, de 1957, quando
             Haroldo de Campos, Ronaldo Azevedo, Waldemar Cor-  este tinha apenas 21 anos, intitulado “A poesia nas
             deiro e Wlademir Dias-Pino.                       Artes Visuais”, traz à luz uma das vanguardas históricas
             Em 1959, Ferreira Gullar assinava o Manifesto Neo Con-  brasileiras da arte contemporânea.          FOTOS MARCOS “COIL” LOPES
             creto, junto a Amílcar de Castro, Franz Weissmann, Lygia
             Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis.   (Poema/Processo: uma vanguarda semiológica, 320 páginas, WMF Martins Fontes, R$ 120)


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