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CRÍTICA EXPOSIÇÃO






            HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS

            TRAZ DEBATE NECESSÁRIO DE

            FORMA CONVENCIONAL



             POR FABIO CYPRIANO














                                                              OBRA DA FRENTE 3 DE FEVEREIRO FOI EXIBIDA NAS FACHADAS






             AO “EXPOR A ARTE DO MUNDO COLONIZADO ou pós-colonial,   Afinal, nos círculos de poder de ambas as instituições, onde estão
             mostrando a obra dos marginalizados ou das minorias, desen-  os negros?. Entre os cinco curadores _Pedrosa, Ayrson Heráclito,
             terrando ‘passados’ esquecidos ou abandonados – tais projetos   Hélio Menezes, Lilia Moritz Schwarcz e Tomás Toledo_ eles são
             curatoriais acabam apoiando a centralidade do museu ocidental”,   minoria, mas ao menos estão presentes. Contudo, no conselho,
             afirma o indiano Homi Bhabha, em citação usada por Adriano   na direção do museu, na curadoria permanente, a questão se
             Pedrosa no catálogo de “Histórias Afro-Atlânticas”, em cartaz   torna pertinente mas inconclusa.
             no Instituto Tomie Ohtake (Ito) e no Museu de Arte de São Paulo   Não há dúvida que a pesquisa é extensa e a mostra abarca uma
             (Masp) até 21 de outubro.                        compilação abrangente de obras, desde as imensas pinturas de
             A questão é essencial quando museus por todo mundo buscam   Albert Eckout (1610 – 1665) retratando um casal de escravos, em
             ampliar seus públicos dialogando com comunidades até então   1641, uma das primeiras imagens produzidas na América, até
             distantes e sem presença no cotidiano dessas instituições. Con-  trabalhos comissionados para a mostra. Contudo, o procedimento
             tudo, como é possível se aproximar desses públicos usando uma   que vem sendo adotado nas exposições do Masp, em agrupar
             linguagem museológica que pertence a uma tradição que lhes foi   trabalhos por temáticas, em módulos como Ritos e Ritmos, onde
             negligenciada e, por que não dizer, mesmo negada?  É possível   há uma exaustão de pinturas retratando festas e cerimônias afro,
             uma virada efetiva nas políticas de inclusão dos museus sem de   simplifica por demais as obras, além de as transformarem em
             fato rever suas próprias práticas?               ilustrações de um conceito.
             “Histórias Afro-Atlânticas”, organizada por cinco curadores, é   Dos oito módulos da exposição, o mais vibrante, tanto por seu
             superlativa nos números – mais de 400 obras, oito módulos, ocu-  conteúdo temático, como pela forma expositiva, é Resistências e
             pando quase por inteiro duas instituições – mas pouco arrojada   Ativismos, com curadoria de Menezes e Schwarcz. Nele, a tônica
             quando se trata de pensar em como se tratar de um tema mais   está em representações que apontam para o empoderamento
             que necessário sem recorrer aos mesmos dispositivos expositivos   negro, tanto através das religiões afro, em imagens de Pierre Ver-
             convencionais de sempre.                         ger, quanto dos Panteras Negras, em foto atribuída a Blair Stapp.
             O Masp de Adriano Pedrosa tem se caracterizado por render uma   Entre os destaques ainda está a pintura “Mãe Preta ou A fúria de
             série de homenagens a Lina Bo Bardi (1914 – 1992), a figura mais   Iansã”, de Sidney Amaral, morto precocemente no ano passado.
             inovadora quando se trata de repensar o museu, mas incapaz de   Não há aqui um agrupamento meramente formal, como ocorre
             propor novos modelos no século 21.               nos módulos do Masp, mas uma reunião de intensos diálogos.
             A necessidade e urgência do tema de “Histórias Afro-Atlânticas”   “Histórias Afro-Atlânticas” é uma espécie de continuação de
             é inegável, especialmente em um país com maioria negra, com   “Histórias Mestiças”, realizada no próprio Ito, há quatro anos,
             essa população sub-representada em todos os níveis de poder,   organizado então por Pedrosa e Schwarcz, na época curadores
             especialmente o das artes.                       independentes. Agora, ambos participando de uma instituição do
             Por isso, a famosa faixa “Onde estão os negros ?”, do coletivo   porte do Masp, era de se esperar que a mostra não ficasse apenas
             Frente 3 de Fevereiro, que na abertura da mostra foi exposta no Ito,   em uma revisão da história da arte, mas em novas atitudes dentro
             e em julho, no Masp, se torna uma pergunta mais que eloquente.   do museu. Essa questão não parece respondida com a mostra.


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