Page 90 - ARTE!Brasileiros #45
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LIVROS ARTISTA






             CARMELA GROSS





             LIVRO APRESENTA OBRA DE CARMELA GROSS QUE DIALOGA COM QUESTÕES URBANAS


             POR FABIO CYPRIANO













             EM PLENA DITADURA MILITAR, na Bienal de São   por Paulo Mendes da Rocha, inaugurado no ano
             Paulo de 1968, a artista Carmela Gross apresentou   passado no centro da cidade. “O letreiro luminoso
             três obras, entre elas “Barril”, uma referência   GRANDE HOTEL, instalado na praça de entrada do
             ao instrumento de tortura usado na época pela   edifício, combina a descoberta de um sítio perdido
             polícia para provocar uma situação de afogamento   com a evocação de uma promessa – a da cidade
             nos presos.                                 como o lugar maior de seus habitantes”, descreve
             A obra foi apresentada justamente na Bienal do   a artista na publicação.
             Boicote, assim chamada porque muitos artistas   Luminosos criados a partir de luzes neon ocupam
             deixaram de participar da mostra em sinal de   muito da obra de Gross, uma maneira de estabe-
             protesto contra a situação vivida pelo país. “Como   lecer vínculos com as formas de comunicação da
             instrumento de tortura, ele [o barril] já era, por   própria cidade, subvertidos, contudo, conforme
             sua vez, resíduo da indústria norte-americana   seu desejo. Ela escreveu Hotel sobre a Bienal de
             do petróleo. Metáfora reduzida ao mínimo,   São Paulo, em 2002, uma forma que pode apontar
             quase uma não metáfora, mas que implicava a
             dominação estrangeira e a dependência brasileira,
             inclusive, nas práticas clandestinas da ditadura”.
             O depoimento atual, que após 50 anos apresenta
             um Brasil ainda submisso aos EUA e com a demo-
             cracia ameaçada, é da própria artista no livro
             “Carmela Gross”.
             A nova publicação traça um panorama da obra de
             Gross desde 1967 até 2017, portanto uma visão
             ampla de 50 anos de carreira, apresentando 76
             obras de forma detalhada, muitas delas com rela-
             tos da artista, como é o caso de “Barril”.
             Gross tem sido uma artista com forte presença na
             cidade de São Paulo, seja em mostras temporárias
             como a Bienal de São Paulo (1968, 1989 e 2002),
             seja em obras de caráter permanente, caso de
             “Grande Hotel”, a mais recente apresentada no
             livro. Ela se encontra no Sesc 24 de Maio, projetado   FIGURANTES, 25 PLACAS DE FERRO ESMALTADO


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