Page 66 - ARTE!Brasileiros #45
P. 66
EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
EXIT PROVOCA FRICÇÃO
ENTRE ARTE E ARQUITETURA
REGINA SILVEIRA LEVA PARA O MUBE UM DISCURSO POLÍTICO/POÉTICO COM
OBRAS PRODUZIDAS ENTRE 1970 E 2018 COM CURADORIA DE CAUÊ ALVES
POR LEONOR AMARANTE
VISTA DE CIMA, a paisagem plana, feérica, que dá bri- sócio-político atual em que vários países levantam
lho ao centro do Mube – Museu Brasileiro da Escultura, muros, refugiados são barrados física e psicologica-
é traduzida por linhas iluminadas com igual intensidade mente, esse trabalho pode ser metafórico dessa situa-
que desenham geometricamente um labirinto para onde ção de barbárie que vivenciamos.
o espectador é seduzido a experimentar a sensação do A ideia do labirinto é um tema recorrente no trabalho
espaço no tempo e vice-versa. A contrassenha desse lugar de Regina desde os anos 70, quando ainda morava
é o estado de imersão, potencializado pelos óculos com em Porto Rico, e aparece em períodos e com obras de
projeção virtual, que permite ao visitante divagar, com diversas épocas. “Os labirintos são ancestrais, mentais,
ele mesmo, por instantes. Essa experiência, compõe a interculturais, imemoriais e, muitas culturas têm os
exposição Exit, um encontro poético/político entre arte e seus. Nesta exposição, eles são falsos porque todos têm
arquitetura, envolvendo 41 obras de Regina Silveira, entre saídas”. Anteriormente a artista criou um labirinto de
instalações, vídeos, gravuras e objetos, produzidos entre compartimentações, quando usou, pela primeira vez,
1970 e 2018, com curadoria de Cauê Alves. uma imagem apropriada. “ Na verdade, é uma imagem
O labirinto pode ressignificar elementos que compõem a que serve de recheio para todas as compartimentações
realidade como a migração. “O espaço é desconfortável, que realizei”. Regina levou os labirintos para o céu,
quero que o público ao percorrê-lo seja estimulado a para as cidades, aos executivos, para falarem sobre
pensar”. A forma mítica do labirinto tem ressonâncias noção de poder.
sobre o visitante e mexe com seus hábitos perceptivos “Essa exposição surgiu quando pensei em criar um
e cognitivos, numa experiência lúdica e inquietante. discurso que juntasse as partes dessa recorrência de
Regina propõe um jogo interativo, em realidade aumen- motivos. Metáforas das questões migratórias, dos muros
tada, no qual o público ao andar pelo labirinto, com interiores, de como as barreiras se fecham quando
óculos com projeção, vê surgir muros que aparecem e se coloca os óculos de projeção, de como o labirinto
desaparecem na superfície. Com entradas e saídas nos que tinha saída, agora é substituído por esses muros FOTO PATRICIA ROUSSEAUX
quatro lados, e desenho alternado de rotas, Exit leva que fecham o espaço”. O escritor argentino Jorge Luis
o visitante a uma percepção temporal. No momento Borges se valeu dessa imagem, cercada de mistérios,
66
ARTEBrasileiros_44.indb 66 30/08/18 07:24