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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
A FORÇA DA DELICADEZA
EMBORA DISCRETA, A OBRA DE MARCO MAGGI SOBREPÕE A ESCALA DO ESPAÇO NO MUBE
POR MARIA HIRSZMAN
QUASE INVISÍVEIS de tão delicadas, as intervenções de de plantas urbanas vistas do alto. Diante de “Assunto
Marco Maggi no Museu Brasileiro de Escultura têm uma pendente”, obra composta por dois rolos em cascata,
força visual e uma potência poética impressionantes. com mais de mil etiquetas amarelas, que servem de
Na contramão do que ocorre com frequência nos tem- suporte para intervenções com pequeninos pedaços de
pos atuais, em que as obras parecem gritar para atrair papel autocolante nas cores branco, cinza e negro, fica-
o público, as pequenas construções de Maggi apenas mos na dúvida se estamos diante de um jogo abstrato,
sussurram e convidam gentilmente a nossa atenção. de placas internas de um estranho computador ou de
O visitante desavisado, que se depara logo à entrada plantas aéreas de uma cidade fictícia. “Tese” também
com dúzias de resmas de papel da mesma altura (sempre tem esse efeito perturbador. Ao colar sobre uma simples
500 folhas, tamanho A4), organizadamente dispostas bolinha de ping-pong uma trama sugestiva de padrões
no chão, vai ficar intrigado. Só aos poucos vai perceber regulares que apontam tanto para um futurismo utó-
a diferença que existe entre coisas aparentemente simi- pico como para uma abstração arqueológica, Maggi
lares. As pilhas são idênticas e aparentemente banais. contrapõe imaginários distintos e dá a esfera mínima
Mas para além da regularidade, elas servem de suporte uma potência planetária.
– como se fossem pedestais – para paisagens crespas, Mestre da contraposição – seja entre ideia e gesto, pas-
vibrantes, formadas por pequenos cortes, dobraduras, sado e futuro, o minúsculo e o imensamente grande –,
delicadezas, como arcos extremamente finos que se Maggi realiza nessa exposição um contraste profunda-
soltaram do lugar de origem para se lançar-se no espaço. mente instigante entre duas formas de ver seu próprio
É preciso tempo para atender ao convite de uma obser- trabalho. Em duas esquinas próximas, porém opostas,
vação atenta. A mesma desaceleração do ritmo e o do espaço expositivo, foram dispostos dois trabalhos
mesmo movimento de recuo e aproximação é exigido intimamente conectados. Na primeira delas o visitante
nos outros trabalhos dessa pequena porém potente é surpreendido com um vídeo, intitulado “Linguagem
antologia. Todos eles lidam com o que o curador Cauê em Residência”, filmado por ocasião da participação do
Alves definiu como “materialidade da ideia”. Questões artista como representante do Uruguai no 56ª Bienal
como escala, profundidade, contraste entre luz e som- de Veneza. No trabalho, feito em parceria com Maria
bra fazem parte do repertório de Maggi. Dois aspectos, Ines Arrillaga, vemos uma sucessão de visitantes num
porém, chamam especial atenção nesta mostra: o insti- espaço expositivo. Eles entram, olham, conversam, fazem
gante diálogo criado com a arquitetura, enfatizado por registros, se aproximam e se afastam com uma fisiono-
sua relação com o conciso do museu feito por Paulo mia ora perplexa, ora encantada. Nada surpreendente
Mendes da Rocha e, o jogo que ele propõe com escalas não fosse o fato de nós, espectadores do vídeo, vermos
e invisibilidades. apenas uma parede branca. A obra de Maggi simples-
A mão delicada, o olho atento e o gesto preciso do mente desaparece para o vídeo, tal é sua delicadeza e
artista uruguaio fazem com que elementos banais como capacidade de se revelar apenas aos poucos, dentro de
papéis em branco ou envelopes coloridos adquiram uma intimidade física, epidérmica.
potência no espaço. Muitas das construções de Maggi Na esquina oposta o visitante descobre finalmente aquilo
se assemelham a maquetes. Parecem projetos utópicos que o vídeo, ou melhor a distância da tomada, tiveram
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