Page 68 - ARTE!Brasileiros #45
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO
REGINA SILVEIRA, VIDEOINSTALAÇÃO SUMIDOURO, 2018
para escrever O Labirinto. Borges via o mundo como um em movimento contínuo, quase apagada, mimetizada
imenso labirinto, do qual é impossível fugir porque seus no cinza do concreto, em oposição ao labirinto estático
caminhos são desorientadores e ilusórios. e iluminado. É um recorte de ritmo continuo em que a
A paisagem exageradamente plana é ficcional. “Eu não geometria constitui um espaço especial, com encena-
quis fazer nos óculos uma modelagem do lugar, senão ção que se desdobra para além da visibilidade. Nele, a
ficaria preso a aquele local. Por isso há uma imagem artista distorce as vigas e grades do teto e prolonga as
que sobe e desce. Nessa realidade virtual, você está paredes do Mube.
em imersão total e não vê o que está em seu redor”. Regina teve a ideia de fazer este trabalho quando foi
De qualquer forma, a realidade virtual pode enganar pela primeira vez ao local estudar o espaço, pensando na
seu corpo e mente, fazendo você pensar que está em exposição. “Olhei para a grade e soube exatamente o que
outro lugar, afinal é um universo de interfaces e atra- ia fazer: colocar a arquitetura para devorar ela mesma”.
vessamentos com outras linguagens. “Esse trabalho é A grade está espalhada por todo o museu projetado por
esperto porque é modular, construído com 196 placas Paulo Mendes de Almeida, a quem Regina chama de
iguais de madeira revestidas com tecido, que podem arquiteto modular. “Encomendei para o Rodrigo Barbosa
ser divididas, seccionadas, transportadas e adaptadas o desenho da grade, a fotografia desde um ponto de vista
a outros espaços”. A obra não pertence mais a Regina, certo, o meio da rampa”. Tudo foi construído para casar,
mas ao acervo do Itaú Cultural, que vai gerenciar e em escala e em ponto de vista, com o que se vê do teto
cuidar do futuro dela. naquele lugar. “Ao olhar para cima, o espectador tem a
Apesar dos atrativos do labirinto, chama a atenção Sumi- sensação de profundidade virtual sem limite, uma anima-
douro, um vídeo inédito que dialoga com a estrutura arqui- ção em loops do espaço devorando a si mesmo e por isso
tetônica do museu. Este trabalho é um dos temas mais eu o chamo de Sumidouro”. A artista queria que as bordas
atuais da mostra, dentro do conceito de arte/arquitetura. da projeção ficassem arredondadas como uma máscara,
Ele impõe que só haja imagem a pensar para além do como uma fantasmagoria projetada sobre o concreto
princípio da visibilidade, da oposição entre o visível e o cinza e conseguiu. Regina tem razão, essa obra é sutil, um
invisível. Regina mais uma vez parte da geometria, agora site specific. Pena que seja efêmera e tenha de sair de lá.
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