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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO






             UMA MULHER TRANSPARENTE





             NEIDE SÁ PARTICIPA DE EXPOSIÇÕES NA PINACOTECA DE SÃO PAULO E NO SESC POMPEIA,
             LEVANDO UMA ARTE COMUNICATIVA POR MEIO DE SUA POESIA VISUAL


             POR JAMYLE RKAIN






             O ÚLTIMO LIVRO DO JORNALISTA E ROMANCISTA         um livro (Leia resenha na página 94), estava a obra
             Edgard Telles Ribeiro, Uma mulher transparente, lan-  pensada pelas curadoras, que prontamente foram
             çado este ano pela Todavia, desenha as marcas que a   contatadas por ele.
             ditadura militar no Brasil deixa na vida de Gilda, uma    Durante a ditadura militar, a obra – composta por
             mulher esfíngica. Na vida real, a artista carioca Neide   pregadores/clips, colagens de impressos jornalísticos
             Sá, nascida em 1940, não se assemelha um tanto à   e uma corda – ficava exposta na rua para que as pes-
             personagem com sua elegância noir. Quando a artista   soas fossem pregando as colegas, como num varal.
             começa a produzir suas peças, em meados da década   “A polícia chegou a sequestrar algumas vezes essa
             de 60 – e assinalada pelo movimento Poema-Processo,   obra dela, mas não sequestrava a artista porque não
             do qual se destaca como uma das fundadoras –, não   sabia quem era”, conta Nóbrega. Outra versão da obra
             se pode negar que a artista transpõe seu olhar sobre   esteve exposta na galeria e, agora, outra faz parte da
             o momento político do País.                       exposição no Sesc, mostra que reúne obras de artistas
             São obras de Neide que ressaltam essa sua ligação   que realizam intervenções midiáticas.
             com três Ps – política, poética e palavra –, que estão em   Outra obra da artista que manifesta seu posicionamento
             exposição agora em Mulheres Radicais, na Pinacoteca   de forma eminente é Transparências (1968). Três cubos
             de São Paulo, e em Arte-Veículo, no Sesc Pompeia.   de acrílico em proporções diferentes, colocados um
             Até recentemente, também faziam parte de Estrutura   dentro do outro, com vinis adesivos colados letras.
             poética, ruptura e resistência, sua primeira individual   Dependendo da perspectiva pela qual é observada,
             na Galeria Superfície.                            palavras como ‘Guerra’ e ‘Paz’, além de formações
             O artista visual e diretor da Galeria Superfície, Gustavo   onomatopaicas que remetem a sons de batalhas, são
             Nóbrega, não teve dúvidas de que Neide era uma artista   percebidas: “Na codificação da palavra, eles [Neide e o
             que merecia um resgate substancial. Desde que come-  Poema-Processo] conseguiam passar mensagens que
             çou a representa-la, Gustavo se empenhou em inseri-la   o regime militar não percebia”, aponta Gustavo. Ele
             em grandes exposições. No caso de Mulheres Radicais,   explica que Neide foi uma artista que chamou muito sua
             ele conta, as curadoras Andrea Giunta e Cecilia Fajardo   atenção nesse percurso de pesquisa sobre o movimento
             já haviam aparecido na casa da artista para convidá-  porque, além de ser a única mulher atuante no grupo
             -la para fazer parte da exposição e pesquisar obras.   de vanguarda, teve uma produção muito grande tanto
             Neide, no entanto, não sabia onde estava a obra, que   naquele momento quanto posteriormente.
             no caso seria A Corda.                            Neide é transparente porque, em seu fazer artística,
             “Tinham obras que ela nem lembrava que existiam   comunica-se de forma aberta e determinada. Por meio
             ainda e encontramos num depósito lá na casa dela”,   do uso habilidoso da semiótica e da construção de seus
             conta o galerista. Dentre as obras encontradas durante   poemas visuais, instiga o público, que se transforma
             sua pesquisa para a exposição em homenagem aos 50   em um interlocutor na experiência do contato com a
             anos de Poema-Processo no ano passado, que rendeu   produção da artista.


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